São iniciativas que vão além do marketing. São comuns relatos de pessoas trans que encontram médicos despreparados para atendê-las ou têm diagnósticos tardios para doenças que poderiam ser facilmente tratáveis, caso tivessem encontrado tratamento adequado. Ou se sintam desconfortáveis por não terem alternativas de produtos a serem usados em seu dia a dia.
“Mais do que trabalhar a diversidade, é preciso rever todas as etapas de um processo produtivo, porque o ambiente como um todo precisa estar preparado para conviver com pessoas diferentes”, diz Maira Reis, fundadora da camaleao.co, startup que trabalha com soluções para diversidade LGBT+.
No caso da Gama, do mesmo jeito que preenche seus dados pessoais, a pessoa trans se identifica do cadastro e evita constrangimento durante procedimentos médicos, consultas e exames. Em frente similar, desde 2018, a Amil permite que clientes transgêneros mudem o nome na carteirinha do plano. A iniciativa nasceu da demanda de um beneficiário, que pediu a troca no documento de identificação do plano de saúde. A partir daí, foi desenvolvido um programa de melhoria de processos para que as pessoas usem seu nome social nas consultas, sem entraves.
A cueca menstrual para pessoas trangêneras e não binárias da Pantys também foi criada a partir de demanda de clientes. “Estamos muito ligados em nossas lojas físicas e no ambiente virtual”, diz Emily Ewell, sócia da Pantys. Assim, a cueca menstrual atende ao pedido por um produto para quem não se identifica como mulher ou que não gosta de roupas íntimas femininas. “Se a missão da empresa é levar qualidade de vida menstrual aos clientes, precisamos proporcionar isso para todos e abrir nosso leque de produtos”, diz Maria Eduarda Camargo, outra sócia da Pantys. As consumidoras foram ouvidas também com relação a modelagem e cores.
Fábio Mariano Borges, professor de tendências da ESPM, afirma que “as empresas precisam entender a necessidade do público, porque não conseguimos vender a quem a gente mal conhece”. Apesar de o consumidor estar mais disponível e demandar que empresas abracem causas, a menor parte das companhias tem se posicionado e se aproximado para entender particularidades e dar respostas efetivas, seja com produtos ou uma comunicação mais adequada. “Em nenhum país isso é uma realidade avançada”, diz Borges. “É uma pauta típica do século 21.”
Para ele, há uma dificuldade adicional, relacionada ao fato de que boa parte dos gestores serem conservadores, héteros e vindos da elite. Porém, segundo Reis, as empresas têm papel importante no movimento de aceitação das pessoas trans por serem geradoras de conhecimento. “Muito do preconceito é motivado pela falta de informação”, diz ela. “É importante que as empresas capacitem todos os funcionários e deixem claro que o preconceito não é bem-vindo.”
Tanto a Amil como a Gama Saúde, têm ações internas para levar esse conhecimento a seus funcionários. As iniciativas tentam diminuir barreiras e mudar práticas da organização como um todo, inclusive com o aumento da diversidade. Flávia Pontes, diretora de RH do Grupo Qualicorp, dono da Gama, afirma que o principal desafio para implantar um programa de pluralidade é o desconhecimento da população sobre o tema e de como tratar as diferenças.
Por outro lado, Reis tem percebido o aumento no número de clientes corporativos que buscam maior inclusão. “Mais do que aumentar nossa base de currículos, queremos ampliar as metas de quantas empresas estão nos procurando”, diz.
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