O desafio para investidores ficou evidente neste mês, quando novos dados apontaram um salto nos preços ao consumidor (IPC). Em vez de subir, um conjunto de ativos que costumam garantir proteção a investidores contra inflação caiu após o relatório. O preço do título de referência de 10 anos do Tesouro protegido pela inflação registrou a maior queda em um dia no mês. Os fundos de investimento imobiliário tiveram o maio recuo desde janeiro. As commodities, de modo geral, permaneceram estáveis, mas caíram no dia seguinte.
As três classes de ativos oscilaram desde então, mas seus movimentos iniciais mostraram como os mercados podem se comportar de forma inesperada quando a inflação está subindo, especialmente quando já estão em patamares elevados. Nesta semana, investidores terão melhor noção do quadro da inflação quando o Departamento de Comércio atualizar o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês).
A inflação diminui o valor dos títulos tradicionais do governo e de empresas porque reduz o poder de compra de seus juros fixos. Mas também pode prejudicar as ações, dizem os analistas, ao elevar as taxas de juros e aumentar os custos das empresas.
Segundo pesquisa feita pelo estrategista da Schroders, empresa de gestão de ativos do Reino Unido, Sean Markowicz, desde 1973 até dezembro de 2020 as ações proporcionaram retornos ajustados pela inflação positivos em 90% dos períodos de 12 meses, quando a inflação – medida pelo índice de preços ao consumidor – estava abaixo de 3% e subindo. No entanto, o retorno positivo foi verificado em apenas 48% dos períodos quando a inflação estava acima de 3% e subindo.
Segundo relatório recente do Departamento de Trabalho dos EUA, o índice de preços ao consumidor saltou 4,2% em abril em relação ao ano anterior, ante 2,6% em março. Mesmo excluindo os preços voláteis de alimentos e energia, o aumento foi de 3% em relação ao ano anterior, superando expectativas do mercado, de 2,3%.
Analistas apontam muitos motivos pelos quais a inflação não será capaz de manter esse ritmo por muito tempo. Segundo eles, os números mais recentes foram inflados por comparações com preços deprimidos desde o início da pandemia, no ano passado. Também ganharam sustentação por gargalos de oferta em momentos de forte demanda, que podem se dissipar quando as famílias terminarem de gastar os recursos de estímulo à economia concedidos pelo governo.
Antes da pandemia, o governo norte-americano passou anos lutando para bater a meta anual de inflação de 2% estabelecida pelo Fed, devido em parte a fatores estruturais como o envelhecimento da população nos países desenvolvidos. Essas forças permanecem, dizem analistas, embora muitos não descartem a sustentação de uma inflação mais alta e digam que investidores devem se preparar para isso. “Estamos passando por uma situação sem precedentes, sair de uma pandemia acompanhada por políticas monetárias e especialmente fiscais muito favoráveis”, disse o chefe de pesquisa sobre política global da Cornerstone Macro, Roberto Perli.
Buscar proteção contra a inflação, contudo, não é tarefa fácil, apontam analistas. Títulos do Tesouro protegidos contra a inflação, ou TIPS, são a opção mais direta, pois seus pagamentos de juros e principal aumentam automaticamente quando o IPC aumenta. Quando investidores compram TIPS, os rendimentos são menores do que os dos títulos do Tesouro nominais com o mesmo vencimento, mas podem, em última análise, obter um melhor retorno dependendo da taxa de inflação ao longo da vida do título.
Na sexta-feira, o rendimento do TIPS de 10 anos era de -0,826%, o que significa que investidores perderiam dinheiro sem qualquer inflação, ante ganho de 1,629% da nota nominal do Tesouro de 10 anos. O crescimento do IPC precisaria ser de ao menos 2,45% nos próximos 10 anos para as TIPS pagarem tanto ou mais do que o Tesouro nominal.
Para alguns, isso torna as TIPS a melhor e mais segura proteção contra a inflação. Investidores têm quase a garantia de receber seu principal de volta se mantiverem os títulos até o vencimento. Com os atuais diferenciais de rendimento, podem ganhar bem mais do que com títulos do Tesouro nominais se os temores de inflação se concretizarem.
Ainda assim, os retornos das TIPS provavelmente serão insignificantes em quase todos os cenários, especialmente se a inflação vier abaixo das expectativas. Os preços das TIPS também podem cair junto com os títulos do Tesouro regulares – como ocorreu após o relatório do IPC -, quando, investidores acreditam, o Fed elevar as taxas de juros de curto prazo. “Quando e se o Fed decidir que é hora de combater a inflação e aumentar as taxas, os rendimentos reais das TIPS vão provocar perdas, mesmo que haja inflação”, disse Jim Vogel, estrategista de taxas de juros da FHN Financial.
A história sugere que pode haver melhores hedges do que TIPS quando a inflação está alta. De acordo com a pesquisa de Markowicz, os retornos das TIPS superaram a inflação em 71% dos períodos em que a inflação esteve abaixo de 3% e subindo, mas apenas em 63% dos períodos quando a inflação ficou acima de 3% e subindo.
Em comparação, o S&P GSCI Commodity Total Return Index apresentou retornos ajustados pela inflação positivos em 83% dos períodos de inflação alta e em ascensão. “As commodities são uma fonte de custos de insumos para as empresas e também um componente chave do índice de inflação”, disse Markowicz.
Atualmente, muitos investidores estão otimistas com as perspectivas de longo prazo das commodities, do milho ao cobre, argumentando que os preços têm espaço para subir, mesmo após uma alta significativa neste ano. Eles argumentam que as cotações podem ter suporte da forte demanda contínua dos consumidores e de uma oferta relativamente limitada.
O chefe de commodities e gerente de portfólio do DWS Group, Darwei Kung, observa que o amplamente rastreado Bloomberg Commodity Index permanece muito abaixo do pico alcançado antes da crise financeira de 2008/09. Ainda assim, “o sistema em si é muito delicado”, disse ele. Qualquer coisa que mude a oferta ou a demanda por commodities “pode alterar os preços em ambas as direções”.
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