“A inflação mais alta no curto prazo deve ser um fator a ajudar na apreciação do real pelo canal de juros, mas é apenas um vetor a influenciar a taxa de câmbio. São muitos vetores e não podemos colocar todas as fichas em apenas um”, avaliou Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV) e sócio da consultoria BRGC.
Para Ribeiro, o que mais tem influenciado é o recuo das taxas dos títulos dos Estados Unidos (treasuries) com prazo mais longo de vencimento. “O Fed (banco central americano) tem botado um pouco mais de água na fervura ao mostrar que a elevação dos juros americanos, que o mercado tinha na cabeça, não virá tão rápida.”
O economista do Ibre ressaltou, porém, que está no radar o início da normalização da política monetária global e, consequentemente, redução dos estímulos adotados pelos Países durante a pandemia da covid-19. Esses estímulos levaram os bancos centrais em todo o mundo a injetarem dinheiro na economia como resposta ao combate do impacto da pandemia, aumentando o crédito e reduzindo os juros. Ribeiro destacou que esse processo vai influenciar os juros no mundo inteiro e ter impacto em outros preços, como de commodities, produtos básicos, como petróleo, grãos e minério de ferro.
Ao analisar os dados dos fatores que influenciaram o movimento do câmbio, Ribeiro discorda da avaliação recente de muitos economistas de que o dólar mais baixo reflete uma “descompressão” do risco fiscal por conta dos sinais de melhora na economia, como previsão mais baixa de dívida pública e crescimento mais alto do que o inicialmente previsto do PIB em 2021. “A melhora do câmbio teve influência de vários fatores que nada têm a ver com a situação fiscal.”
Para ele, há espaço para o dólar cair abaixo de R$ 5. Mas é preciso ficar de olho nos fatores de risco que podem afetar esse caminho, sobretudo os ventos da política de juros global.
Apetite
O diretor de Estratégias Públicas do Grupo MAG, Arnaldo Lima, destacou que a recuperação da atividade econômica mundial gera maior apetite a risco dos investidores estrangeiros para injetar capital nos países em desenvolvimento, cujas expectativas de retorno financeiro podem ser maiores do que a dos países desenvolvidos. Segundo ele, o real não é a única moeda de países emergentes que está se apreciando frente ao dólar. Mas para que esse movimento positivo seja duradouro, o Brasil precisa ter vantagens comparativas, especialmente no equilíbrio das contas públicas e no controle da inflação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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