Na esplendorosa ebulição constante dos acontecimentos, cada vez mais há espaço a ser ocupado por aquilo que até ontem era tido como salvador em nossa vã ilusão, nossa mente não passa um dia sequer sem ser atormentada por uma vasta gama de engenhocas que tentam a todo custo querer nos dizer que o futuro está logo ali, a poucos passos de distância de nossa existência. O mundo atual, tornou-se assim um vasto império, onde se especula sobre tudo, onde se vendem apaixonados absurdos para quem quiser se iludir em menor ou maior grau, a mensagem nas entrelinhas é clara: Ou você usa o que o mundo oferece ou você vai ficar para trás, podendo inclusive ser taxado de retrógrado, antiquado; por outras palavras, somos forçados em grau máximo a consumirmos tudo, sem termos oportunidade para refletirmos se isso ou aquilo que está sendo oferecido é sim importante.
Aprendemos a aceitar calados, sem pestanejarmos um segundo sequer, mais ávido de novidades que o ser humano de hoje, não existe em nenhum outro lugar, em qualquer momento da história humana, a razão instrumental até certo ponto tem dado mostras que venceu algumas batalhas, sem no entanto vencer a guerra e é justamente nesse ponto que as coisas mudam cada vez mais ou para melhor ou para pior, não é a toa que o senso comum de agora seja tão rasteiro, para não dizer ingênuo. Mas eis que quase sempre a fé cega na razão maquínica cai por terra, ou seja, os acontecimentos mais corriqueiros da vida humana, desmontam as melhores previsões do mercados, deixam arrasados aqueles que confiam cegamente no rigorismo e na precisão; aqueles que buscam aprisionar-se nas celas dos números frios e calculistas, vivem tendo dores de cabeça cada vez mais intensas.
Uma teia perigosa, mas bem tramada para a vida no seu todo que se está criando é a inteligência artificial, uma exaltação desenfreada para com ela vinda justamente daqueles que menos deveriam falar sobre e ela, sem antes um estudo aprofundado e isento de paixões medianas. Seus maiores divulgadores propagam propósitos muitas vezes dúbios e contraditórios quando devidamente colocados no conjunto todo, a inteligência artificial de uns tempos para cá dá aquela impressão que nos libertará de todos os males e vícios, que até agora o que obtivemos foi meramente uma meia conquista, uma meia verdade, que todo o conhecimento humano conquistado até agora com a inteligência natural foi ora enganoso, ora superficialmente profundo; a nova deusa que aí está se propondo a salvar tudo e todos, domina sem meias palavras, busca convencer pelas aparências e pelo brilho.
A inteligência artificial assim, vem sendo considerada por alguns como o Prometeu definitivo para salvar a vida, a princípio se diz que ela é uma ferramenta para a colaboração, mas quantas dessas ferramentas já não surgiram nos últimos tempos e revelaram-se pouco colaborativas, antes tornaram-se armas mortais para matar, destruir reputações e lançar o mundo em guerras vergonhosas. A inteligência artificial chega num momento em que o mundo todo encontra-se às voltas com a miséria num mundo complexo, com ações cada vez mais antissociais e violentas, uma falsa liberdade, cada vez mais controlada a distância e de modo eficaz. Pouco se ouve falar que a inteligência artificial é para deixar esse mundo mais belo, com menos ódio, com menos ou nenhuma guerra, ou ainda que ela seja usada incessantemente para promover a paz, antes ela é ao que parece sempre mais do mesmo.
Bioeticamente, a inteligência artificial vem tirando o sono de muitos, é mais uma das tantas armas no já vasto império da técnica, os mais ufanistas alegam que ela como sempre trará muitos ganhos e poucas perdas, promessa essa que outras tecnologias nunca cumpriram, a eterna ladainha de libertar o ser humano para outras atividades (hobbys) é sempre retomada. Inteligência artificial: anjo ou demônio? Ainda não sabemos, somos apenas um grão de areia nessa aventura recém começada, mas que já dá suas dores de cabeça; a máquina em qualquer romance de ficção cientifica dá mostras que nunca pensa em mudar o mundo para melhor, que o seu surgimento não está para estabelecer maior qualidade de vida, melhorar a situação do Planeta, antes e muito antes ela serve a interesses obscuros, incertos e duvidosos, fiquemos pois de olhos e ouvidos bem abertos.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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