Autoridades de Nova Gales do Sul não sabem estimar quantos milhões de ratos infestam as planícies agrícolas do Estado, mas os relatos da população são assustadores. À noite, o chão dos galpões desaparece sob tapetes de roedores correndo. Os tetos ganham vida com o som de arranhões. Uma família culpou ratos que mastigam fios elétricos pelo incêndio de sua casa.
“Estamos em um ponto crítico agora em que, se não reduzirmos significativamente o número de ratos que estão em proporções de praga até a primavera, estaremos enfrentando uma crise econômica e social absoluta na região”, disse o ministro da Agricultura, Adam Marshall.
Rumores sobre a praga de ratos chegar a grandes áreas urbanas da Austrália, como Sydney, provocaram preocupação na população. No entanto, especialistas apontam que é pouco provável que o volume de animais visto na zona rural se mova até as cidades.
De acordo com Steve Henry, especialista em roedores do Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO, na sigla em inglês), agência governamental de pesquisa científica, a hipótese de que os ratos cheguem a Sydney em agosto são absurdas.
“Pode haver mais ratos em Sydney do que o normal no momento porque as condições têm sido favoráveis para que os animais que já estão lá se reproduzam em números um pouco maiores”, afirmou ao jornal inglês The Guardian. “Mas não há alimentos e recursos suficientes dentro desse sistema para que os ratos cheguem ao número que estão na zona rural. Pode haver alguns ratos a mais em Sydney do que o normal e você pode ter quatro, cinco ou seis em sua casa ao mesmo tempo, mas você não vai tirar 30, 40 ou 50 ratos de sua casa como as pessoas em Nova Gales do Sul”.
Prejuízo aos agricultores
A principal associação agrícola do Estado, a NSW Farmers, prevê que a praga vai varrer mais de 1 bilhão de dólares australianos do valor da safra de inverno. Para tentar evitar um prejuízo maior, o governo estadual encomendou 5 mil litros do veneno Bromadiolone da Índia, que é proibido na Austrália, mesmo sem a aprovação do uso emergencial pelo órgão regulador do governo federal.
Críticos da medida temem que o veneno mate não apenas os ratos, mas também os animais que se alimentam deles. “Estamos tendo que seguir esse caminho porque precisamos de algo que seja superforte, o equivalente a napalm para simplesmente explodir esses ratos”, disse Marshall.
A praga é um golpe cruel para os agricultores do Estado mais populoso da Austrália, que foram atingidos por incêndios, inundações e pandemias nos últimos anos. Os mesmos conselheiros comissionados pelo governo que ajudaram os agricultores a lidar com os desastres naturais estão voltando para ajudar as pessoas a lidar com o estresse dos ratos.
Bruce Barnes, fazendeiro na região afetada, disse à agência Associated Press que está se arriscando ao plantar na fazenda de sua família perto da cidade de Bogan Gate. O risco é que os ratos se mantenham em número durante o inverno e devorem o trigo, a cevada e a canola antes que possam ser colhidos.
De acordo com os relatos dos moradores da região, o pior vem depois de escurecer, quando milhões de ratos que estavam escondidos durante o dia tornam-se mais ativos, enquanto, de dia, a crise é menos aparente.
Trechos da estrada ficam pontilhados de ratos esmagados da noite anterior, mas os pássaros logo levam as carcaças embora. Os montes de feno estão se desintegrando devido aos roedores famintos que se enterraram bem no fundo. As calçadas estão repletas de ratos mortos que comeram iscas venenosas.
Mas uma constante, tanto de dia quanto de noite, é o fedor de urina de camundongo e carne em decomposição. O cheiro é a maior reclamação das pessoas. “Você lida com isso o dia todo. Você coloca armadilhas, tenta o seu melhor para administrar a situação, mas depois volta para casa e sente o fedor de ratos mortos”, disse Jason Conn, quinta geração de uma família de fazendeiros.
“Eles estão na cavidade do telhado de sua casa. Se sua casa não for bem vedada, eles estão na cama com você. As pessoas estão sendo mordidas na cama”, completa Conn.
Outro fazendeiro, chamado Colin Tink, afirma que matou cerca de 7.500 ratos em uma única noite na semana passada, em uma armadilha que ele armou com uma tigela de alimentação de gado cheia de água em sua fazenda nos arredores de Dubbo. “Eu pensei que poderia conseguir algumas centenas”, disse Tink.
As pragas aparecem do nada e geralmente desaparecem com a mesma rapidez. Acredita-se que as doenças e a escassez de alimentos desencadeiem uma dramática queda populacional, pois os ratos se alimentam de si mesmos, devorando os enfermos, os fracos e seus próprios descendentes. Fonte: Associated Press.
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