A continuidade na elevação das cotações internacionais das commodities e o clima, com estiagem e geadas, desencadearam novos aumentos de preços de energia e alimentos, ao passo que a normalização gradual das atividades, em meio ao avanço da vacinação contra covid-19, dá margem para reajustes nos serviços.
Segundo o relatório do Grupo de Conjuntura do Ipea, parte da pressão inflacionária já era esperada, principalmente nos preços monitorados, por causa de represamento de reajustes em 2020, devido à pandemia. Só que, mais recentemente, as “sucessivas altas das cotações das commodities no mercado internacional” e os “eventos climáticos adversos” surpreenderam negativamente e “desencadearam novos aumentos de preços de alimentos e de energia”.
Diante da expectativa de reajustes mais acentuados para a gasolina e a energia elétrica, a projeção do Ipea para os preços monitorados em 2021 passou de 9,5%, nas estimativas de junho, para 11,0% agora.
No caso dos alimentos, os movimentos recentes, tanto no atacado quanto no varejo, sinalizam que a desaceleração esperada para o segundo semestre “deve ser um pouco menor que a projetada anteriormente”. Agora, o Ipea projeta alta de 6,9% na alimentação no domicílio em 2021, ante 5,0%, nas estimativas de junho – o cenário de desaceleração está mantido, já que, no acumulado em 12 meses até julho, a alimentação no domicílio saltou 16,0%.
Os vilões que levarão a uma desaceleração mais moderada da alimentação no domicílio são as “proteínas animais” e os “derivados de trigo e milho”, “refletindo não apenas a alta dos preços internacionais, mas também os efeitos climáticos e o aumento dos custos de produção”, diz o relatório do Ipea.
O problema é que as surpresas recentes associadas às cotações de commodities agrícolas e ao clima adverso ocorrem num momento em que a inflação de serviços começa a acelerar e os preços de bens industriais seguem pressionados. Com a retomada das atividades de serviços, em meio à flexibilização de restrições ao contato social, à medida que a vacinação contra covid-19 avança, o Ipea elevou a projeção da inflação desses itens em 2021 para 5,0%, ante os 4,0% estimados anteriormente.
No caso dos bens industriais, o Ipea elevou a projeção para 6,6%, ante 4,8% anteriormente. “A pressão vinda pela aceleração das matérias-primas no mercado internacional, combinada com o aumento da utilização da capacidade instalada na indústria e os estoques abaixo do nível desejado, deve manter os preços dos bens industriais pressionados”, diz o relatório do Ipea.
Diante disso, um “cenário de maior pressão inflacionária” é corroborado “tanto pelo índice de difusão quanto pelos indicadores de núcleo da inflação”. “Em relação ao indicador de difusão, nota-se que, a partir do segundo semestre de 2020, a proporção dos itens que compõem o IPCA com variação positiva vem aumentando de forma continuada, sinalizando que a alta de preços vem se espalhando entre os diversos segmentos da economia. De modo semelhante, as medidas de núcleo de inflação também registram uma trajetória de aceleração, de forma que, na média, a variação acumulada em doze meses desses indicadores aponta taxa de 5,32%”, diz o relatório do Ipea.
Para os pesquisadores do Grupo de Conjuntura do órgão, “esse movimento de alta inflacionária maior, mais difusa e mais persistente em 2021 já começa a contaminar as estimativas para 2022”. O Ipea projeta IPCA de 4,1% no próximo ano, já acima da meta de 3,5%. Apesar disso, o relatório considera que “as expectativas estão ancoradas em uma acomodação nos preços internacionais das commodities e na baixa probabilidade de um fenômeno La Niña intenso”. Adicionalmente, a “sinalização de continuidade da trajetória de alta de juros deve agir no sentido de atenuar as variações de preços”. Os riscos à inflação em 2022 “seguem associados aos preços das commodities e à taxa de câmbio”.
Comentários estão fechados.