Vice-campeã em 2000 e 2012, a seleção italiana havia vencido a Eurocopa apenas uma vez, em 1968, na mesma década em que os ingleses comemoraram o único título de sua história: a Copa do Mundo de 1966. Por isso, a derrota dói muito para a Inglaterra, que chegou pela primeira vez à disputa da final do torneio e sucumbiu diante da própria torcida, em um estádio cheio.
Mais do que o fim do jejum, os italianos coroam o grande momento que vivem desde 2018. Com uma mudança na filosofia de jogo, a equipe termina a Eurocopa como dona do melhor ataque, com 14 gols marcados durante a campanha. Além disso, atinge a incrível marca de 34 jogos de invencibilidade.
O cenário da grande decisão parecia resgatado de um passado não tão distante, quando o mundo ainda não havia sido tomado pela pandemia de covid-19. Para quem se acostumou a ver, de casa, finais de futebol com estádios vazios ou público bastante limitado, foi um choque de realidade ligar a TV e se deparar com mais de 67 mil torcedores nas arquibancadas de Wembley, número ainda maior que os já impressionantes 64.950 presentes na semifinal entre Inglaterra e Dinamarca.
Não há como descrever o sentimento de quem estava ali, mas é certo que se criou uma atmosfera que contagiou os donos da casa, não à toa eles precisaram de menos de dois minutos para abrir o placar. Tudo começou quando Kane se apresentou no campo de defesa, avançando em velocidade antes de acionar Trippier. O lateral-direito esperou Shaw se projetar em direção à área para fazer o lançamento ao companheiro, que foi de encontro com a bola e bateu de primeira. Assim, Shaw marcou o gol mais rápido da história em uma final de Eurocopa.
A postura ofensiva que vem colocando os holofotes sobre Roberto Mancini, por subverter a ideia de que os italianos só sabem jogar na retranca, esbarrou em uma Inglaterra bem armada defensivamente por Gareth Southgate. A formação com três zagueiros adotada pelo treinador britânico se justificou com resultados na defesa e no ataque, até porque o gol foi marcado em jogada com assistência e conclusão dos dois laterais.
Diante de tal configuração, não foi muito comum ver o goleiro Pickford trabalhando durante o primeiro tempo. A Itália dominou a posse de bola e contou com investidas pontuais, principalmente em jogadas de Chiesa, mas não foi o suficiente, e o árbitro apitou o fim da etapa inicial em meio a cantos empolgados e ansiosos da imensa maioria dos presentes no estádio, formada por torcedores ingleses.
A Inglaterra foi para o intervalo com uma única finalização, a que originou o gol, e voltou para o segundo tempo sem demonstrar interesse em aumentar esse número. A Itália, por outro lado, entrou em campo sentindo a mesma dificuldade de antes para encontrar espaços no campo adversário. De qualquer maneira, fizeram, em 15 minutos, o que não conseguiram fazer em toda a etapa anterior: colocar Pickford para trabalhar, interceptando finalizações perigosas de Insigne e Chiesa.
Sem abrir mão da postura extremamente defensiva, com raros momentos de alívio, a seleção inglesa se acostumou a ter a Itália em seu campo e não manteve a solidez. Aos 21 minutos, momento no qual os italianos tinham cerca de 70% de posse de bole, Bonucci aproveitou o rebote depois de um cabeceio de Verratti, que acertou a trave após cobrança de escanteio, e empatou o jogo.
A partir da segunda metade do segundo tempo, o jogo ficou mais truncado e ganhou ares de tensão. Toda a adrenalina teve que ser contida aos 41 minutos, quando um torcedor invadiu o gramado e forçou a interrupção da partida. Os minutos finais, com direito a seis de acréscimo, correram com a Itália no campo de ataque tocando a bola com paciência e certa hesitação, o que provocou uma avalanche de vaias da torcida até o árbitro apitar o fim do tempo regulamentar.
As vaias que encerraram o segundo tempo subiram novamente assim que a Itália tocou na bola no início da prorrogação. Como no resto da partida, os italianos mantiveram o domínio, só que encontraram uma Inglaterra mais disposta a buscar jogadas no campo de ataque, o que deixou o jogo mais aberto, com chances para os dois lados. Os primeiros 15 minutos, no entanto, terminaram sem gols.
A etapa final foi de muito nervosismo. Do lado italiano, o sangue subiu em um lance no qual os jogadores clamarem pela marcação de um pênalti após um toque de Stones, com o braço junto ao corpo, mas o árbitro mandou seguir. O tempo foi passando, a torcida praticamente se calou diante da tensão e a história ficou para ser feita na disputa de pênaltis.
Nas penalidades, após Berardi e Harry Kane converterem, Belotti foi o interceptado por Pickford e a Inglaterra se colocou na frente quando Maguire acertou a cobrança na sequência. Logo depois, foi a vez de Rashford, que entrou justamente para a disputa de pênaltis, acertar a trave, antes de Bernadeschi converter para os italianos.
Então, veio uma sequência de erros: Sancho viu sua cobrança defendida por Donnarumma e Jorginho parou em Pickford. A responsabilidade de encerrar o jejum histórico da Inglaterra caiu nos pés de Saka, que não conseguiu completar a missão. Donnarumma foi preciso ao pular no canto esquerdo e deu o título para a Itália, novamente campeã da Eurocopa após 53 anos.
FICHA TÉCNICA
ITÁLIA 1 (3) X 1 (2) INGLATERRA
ITÁLIA – Donnarumma; Di Lorenzo, Bonucci, Chiellini e Emerson (Florenzi); Jorginho, Barella (Cristante) e Verratti (Locatelli); Chiesa (Bernardeschi), Immobile (Berardi) e Insigne (Belotti). Técnico: Roberto Mancini.
INGLATERRA – Pickford; Walker (Sancho), Stones e Maguire; Trippier (Saka), Phillips, Rice (Henderson, depois Rashford), Shaw, Mount (Grealish) e Sterling; Harry Kane. Técnico: Gareth Southgate.
GOLS – Shaw, no primeiro minuto do primeiro tempo. Bonucci, aos 21 do segundo tempo.
ÁRBITRO – Bjorn Kuipers (Holanda).
CARTÕES AMARELOS – Barella, Bonucci, Chiellini, Insigne, Jorginho e Maguire.
PÚBLICO – 67.173 torcedores.
LOCAL – Estádio de Wembley, em Londres (Inglaterra).
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