Militante na direita pós-fascista desde os 15 anos, é membro da Câmara de Deputados desde 2006 e não mede as palavras para criticar o governo em fim de mandato, liderado pelo prestigioso economista Mario Draghi.
Nascida em Roma, em 15 de janeiro de 1977, Meloni começou a militar no ensino médio em associações estudantis da direita radical – “minha segunda família”, confessou – enquanto trabalhava como babá e camareira. Em 1996, se tornou líder do sindicato Azione Studentesca, cujo emblema era a Cruz Celta. Em 2006 obteve a licença de jornalista. No mesmo ano, foi eleita deputada e vice-presidente da Câmara de Representantes. Dois anos mais tarde, foi nomeada ministra da Juventude no governo de Silvio Berlusconi.
Sua juventude e personalidade conquistaram as redes. Em um famoso discurso em 2019, ela se auto descreveu assim: “Sou Giorgia. Sou mulher, sou mãe, sou italiana, sou cristã”. Discreta em sua vida privada, é mãe de uma menina que nasceu em 2006 e vive com o pai de sua filha, um jornalista de televisão.
Ascensão vertiginosa
Sua vertiginosa ascensão se deve em boa parte ao fato de ter sido a única que se opôs por 18 meses ao governo de Draghi, acolhendo a insatisfação dos italianos em relação à inflação, à guerra e às restrições pela pandemia. Um salto assombroso já que nas legislativas de 2013 não chegou a obter 2% dos votos.
Em dez anos, ela captou as esperanças frustradas dos italianos contra as “ordens” da União Europeia além dos sentimentos que moveram os protestos contra o alto custo de vida e o futuro comprometido dos jovens. A representante do pós-fascismo, que não teme defender uma direita rígida, com uma bagagem ideológica conservadora e católica, nacionalista e centrista, se apresenta com uma lema: “Deus, pátria e família”.
Suas prioridades são fechar as fronteiras para proteger a Itália da “islamização” e renegociar os tratados europeus para que a Roma recupere o controle de seu próprio destino. Outra prioridade é lutar contra os movimentos gay e o “inverno demográfico” (queda da natalidade) em um dos países com mais idosos no mundo.
O Lega (Liga) de Matteo Salvini e a direita moderada de Forza Italia (Força Itália) de Silvio Berlusconi se aliaram ao Fratelli d’Italia para conquistar uma vitória histórica no domingo, que segundo as últimas pesquisas, seria obtida com 48% dos votos.
A líder do partido herdeiro do Movimento 5 Stelle, MSI, (Movimento Cinco Estrelas), uma formação neofascista fundada depois da 2ª Guerra Mundial pelos simpatizantes de Mussolini, esclareceu em agosto sua controvertida relação com o fascismo.
“A direita italiana relegou o fascismo à um capítulo antigo da história, condenando sem ambiguidades a privação da democracia e as infames leis que perseguiam judeus”, disse Meloni em um vídeo divulgado em agosto em diferentes idiomas aos meios de comunicação estrangeiros.
No entanto, o Fratelli d’Italia exibe em sua bandeira um nó verde, vermelho e branco, um símbolo criado em 1946 pelo grupo de veteranos fascistas que fundaram o MSI.
Vários meios voltaram a transmitir um vídeo no qual a política, aos 19 anos, declara sua admiração por Mussolini: “Para mim foi um bom político. Todo o que fez, fez pela Itália”, justificou.
Divisão pelo voto feminino
O fato de poder se tornar a primeira mulher líder de Governo na Itália, porém, não é motivo para celebrações para parte do voto feminino, que se vê dividido sobre ela.
Se Meloni se tornar a primeira premiê feminina da Itália, seria “uma ruptura (com o passado) no sentido de que ela é uma mulher, mas seria um retrocesso em termos da cultura conservadora das mulheres”, disse Licia Donati, 84 anos, natural de toscana que vive em Roma.
Como jovem ativista comunista na década de 1960, Donati lutou pela legalização do divórcio, que veio em 1970. Ela também se mobilizou para que os tribunais italianos reconhecessem que as esposas têm o mesmo direito à justiça que os maridos em um país onde, até 1981, as leis sancionavam clemência para homens que assassinavam mulheres para preservar a “honra da família”.
Recentemente, Meloni irritou as mulheres ao retuitar um vídeo de uma mulher sendo estuprada em uma rua – “pelo simples fato de que foi um imigrante que a estuprou”, disse Oria Gargano, cuja organização BeFree em Roma ajuda mulheres que sofreram violência doméstica. Meloni zombou dos imigrantes – a maioria homens – que navegam em direção às costas da Itália em barcos de contrabandistas como aproveitadores que não merecem o status de refugiado.
Ela geralmente se abstém de lutar pelos votos das mulheres simplesmente por ser mulher. Mas rebateu as alegações de que não seria uma vitória para as mulheres se ela se tornasse primeira-ministra. “Desafio qualquer um a dizer que isso não significaria quebrar o teto de vidro”, disse à agência de notícias italiana Ansa quando ela foi à pista de Monza para uma corrida de Fórmula 1.
“Eu sou uma mulher, então dizer que você não é uma mulher se você diz as coisas que eu digo, francamente, me faz rir.”
De acordo com os pesquisadores, Meloni atrai um pouco mais de eleitores do sexo masculino do que do feminino. Mas há muitas mulheres que apoiam a agenda de Meloni.
Lavinia Mercante, de 25 anos, de Roma, disse que a apoia “como política, não como mulher”. Mercante quer ver a direita política chegar ao poder.
Outras ainda são indiferentes ao empoderamento feminino como tema de campanha – elas só querem um governo com poder de permanência. Desde 2018, a Itália teve três coalizões governantes diferentes, muitas vezes conflitantes, de todo o espectro político.
“Acho que não me importo se a direita ou a esquerda vencem”, disse Caterina Bazzani, de 52 anos, consultora financeira da Agrate Brianza, no norte da Itália. “Quero um governo, votado pelos italianos, que dure cinco anos e cumpra seu programa”. Quanto a Meloni, “algumas pessoas dizem que ela deveria assumir o cargo por ser mulher, mas eu não penso assim. É o suficiente para mim que ela é capaz. Homem ou mulher, é o mesmo para mim.” (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
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