“A ideia da plataforma surgiu da necessidade da gente encontrar um espaço catalisador que pudesse fazer fluir conteúdos relativos às questões raciais, principalmente pensando em nossas experiências digitais, como a Enciclopédia e os eventos”, conta Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, em entrevista ao Estadão. “A gente foi procurado pela fundação Tide Setubal. Eles queriam uma ação mais orgânica em relação às questões raciais”.
Narrativas emergentes, enquanto isso, traz um aspecto mais atual para o Ancestralidades ao apresentar um trabalho contínuo de pesquisa para identificar os sinais de desenvolvimento de tendências e questões com origem nas diversas plataformas midiáticas. Atualmente, já conta com aprofundamentos em temas como racismo estrutural, descolonização da ciência e tecnologia, resistência negra e movimento da palavra negra.
Esse conteúdo nasce em duas pontas. De um lado, a partir de uma equipe multidisciplinar de pesquisadores do Afro (Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial), do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), núcleo de pesquisa, formação e difusão da temática racial. Do outro, há verbetes de arte e cultura da Enciclopédia Itaú Cultural, com coordenação da Fundação Tide Setubal e Itaú Cultural.
Há, ainda, encontros e debates promovidos ao redor da temática. Para o lançamento, há o encontro online Perspectivas das Ancestralidades Negras, transmitido pelo YouTube do Itaú Cultural, reunindo Eduardo Oliveira, filósofo e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a escritora Ana Maria Gonçalves, a filósofa Sueli Carneiro e o músico Tiganá Santana – sendo que estes três últimos são conselheiros da plataforma Ancestralidades.
Preocupações e futuro da Ancestralidades
Neste momento, Saron chama a atenção para o fato de que a Ancestralidades deve ser ancorada em pilares. “Primeiro, a gente se propôs ser um hub de conteúdos. Segundo, a gente tinha muito entendimento que seria preciso trazer pessoas legítimas para pensar o projeto, o programa, as plataformas”, diz ele, citando os curadores Ana Maria Gonçalves, Sueli Carneiro e Tiganá Santana. “Não temos a pretensão de sermos exaustivos no desenvolvimento de projetos, de programas e do conteúdo. Vamos cumprir o papel de hub”.
Jader Rosa, gerente do Núcleo do Observatório do Itaú Cultural, conta também que o desenvolvimento da plataforma se orientou em cima dessas questões. “Nós priorizamos o acesso pelo celular muito por conta da dificuldade do brasileiro em acessar o computador e internet. Queremos chegar até a população preta, periférica. Além disso, todo o visual da plataforma é em espiral, já que o tempo não é uma linha reta, mas um ciclo”, explica. “Esse visual também tem muito a ver com a roda de samba, a roda de capoeira e a umbanda”.
Por fim, Saron também ressalta que a Ancestralidades deve ir além. “A gente não quer falar [inicialmente] de ancestralidades do primeiro momento do século XVIII. Queremos partir dos dias de hoje pra trás. Com isso, abordamos questões contemporâneas para sair da bolha e falar do dia a dia. Temos questões simples e profundamente relevantes”, explica. “A plataforma tem esse desejo de continuar ampliando os atuais conteúdos. No futuro, vamos falar de povos indígenas. Não é à toa que a plataforma se chama Anscentralidades”.
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