Capsulite adesiva é doença comum, benigna, mas subdiagnosticada
Popularmente conhecida como “ombro congelado”, a capsulite adesiva é uma doença que atinge o ombro, incidindo em 3 a 5% da população, podendo chegar a 20% em pessoas com diabetes, limitando seus movimentos. Dividida em três fases, inicialmente a fase inflamatória causa dor incapacitante; na segunda, congelamento ou rigidez; por fim, na terceira, a doença regride.
Conforme o médico ortopedista, especialista em ombro, Fábio Fernandes, a causa do problema é uma inflamação na cápsula articular do ombro. “A cápsula articular do ombro é uma estrutura a base de colágeno, elástica e flexível, que reveste a articulação, conectando o úmero e escápula, ajudando na estabilidade e função do ombro. Quando inflama, ela se incha, fica vermelha e mais espessa, perdendo sua elasticidade e promovendo o congelamento do ombro.”, explica.
A duração da capsulite adesiva varia bastante, e pode ir de 6 meses até 2 anos, e costuma ser uma doença autolimitada, ou seja, tem começo, meio e fim. Ela é incapacitante por ser muito dolorosa, e por vezes o processo de recuperação é bastante lento. Contudo, existem tratamentos que podem acelerar a recuperação do ombro congelado e amenizar os sintomas. Neste caso, a atuação do especialista é fundamental para dar conforto para o paciente e tentar abreviar a duração da doença.
“Não existe uma causa específica para a capsulite adesiva, mas sabe-se que há associações com determinadas doenças, como diabetes e problemas de tireóide. Por vezes, um trauma, que não precisa ser violento, pode ser o gatilho para desencadear o problema.”, explica Fernandes.
Subdiagnóstico
Apesar de ser uma doença comum e frequente, a capsulite adesiva é pouco diagnosticada. Isso porque, baseados na queixa de dor, alguns médicos costumam pensar em tendinite e bursite, e acabam não identificando este problema. “ No exame físico encontramos um ombro extremamente doloroso e com movimentos limitados”, diz o ortopedista.
No entanto, o especialista lembra que nem todo ombro rígido e com dor tem esse diagnóstico. “No caso da artrose (desgaste da cartilagem), por exemplo, os sintomas são semelhantes. Desta forma, a suspeita de ombro congelado é basicamente clínica, porém para a confirmação é necessário exame de imagem complementar para descartar outras doencas”, esclarece.
Tratamentos
O tratamento para a capsulite adesiva é geralmente conservador, ou seja, sem necessidade de cirurgia. Inicialmente, o que funciona muito bem é a medicação anti-inflamatória associada à fisioterapia bem feita . “A fisioterapia ajuda a desinflamar e alongar a cápsula articular. Os exercícios devem ser com baixa intensidade e grande frequência. Assim, os movimentos tendem a ir se soltando gradativamente”, diz.
Em casos de difícil resolução outras medidas podem ser indicadas, como as infiltrações feitas no ombro, que podem ser realizadas de duas formas. Uma delas é o bloqueio do nervo supraescapular através da aplicação de medicação anestésica para que diminua a dor do paciente. Com o movimento mais confortável, o paciente vai destravando o ombro. Este tratamento consiste na aplicação de injeções semanais ou quinzenais, feitas em consultório, e, em média, são necessárias algumas sessões para que haja um abreviamento do processo de congelamento do ombro. “Se observarmos a recuperação de quem fez a infiltração e quem não fez, a recuperação de quem fez é mais rápida, é um tratamento benéfico”, avalia.
A segunda, que traz mais excelência nos resultados, trata-se de uma infiltração intra-articular para distensão da cápsula. “Posicionamos uma agulha dentro da articulação, orientada por um aparelho de ultrassom, e injetamos a medicação. Normalmente colocamos um volume grande de medicamento anestésico e anti-inflamatório para promover uma distensão hídrica da cápsula, insuflando-a com pressão. Esse grande volume vai distender a cápsula e, com o ombro anestesiado, é possível manipular o ombro para liberar os movimentos mecanicamente”, explica. Com boas evidências científicas, os resultados são positivos.
O médico comenta que, caso não tenha nenhum tipo de intervenção médica, a maioria dos casos se cura sozinho, mas a atuação profissional é importante para abreviar o tempo de recuperação e dar conforto. “Dependendo da atividade que o paciente exerce, ele fica totalmente limitado.
Porém, não é todo caso que vai evoluir bem, há uma porcentagem de casos que não se resolvem, mesmo com os tratamentos descritos acima”, alerta. Para esses casos específicos, o tratamento cirúrgico está bem indicado. “Fazemos a artroscopia do ombro (videocirurgia), e realizamos a liberação de toda a cápsula articular que encontra-se inflamada, espessa e retraída, cortando em 360 graus a mesma. Depois, fazemos uma manipulação para soltar bem e, em seguida, é necessário que o paciente, ainda em internação, passe por uma fisioterapia intensiva para que não volte a travar”, explica.
A cirurgia é reservada somente aos casos que não evoluíram bem com nenhum dos tratamentos. “Dentro do volume de pacientes que atendo, percebo que é bem rara essa necessidade”, avalia.
Informação
Para o ortopedista, o fator principal do tratamento é informar ao paciente sobre a doença. “Como é um problema que tem um ciclo e que demora a se resolver, o paciente que não sabe sobre a doença, pode pensar que o tratamento não está sendo feito da forma correta, devido a demora para se ver livre da dor. Não há resultados milagrosos na capsulite adesiva”, informa Fernandes. “É preciso esclarecer que serão usadas todas as armas possíveis para melhorar o quadro, mas que não há como prever, com exatidão, em quanto tempo teremos resolução dos sintomas ”.
Prevenção
Oriento procurar o médico ortopedista especialista ao primeiro sinal de dor no ombro para investigação. “O paciente que não procura o médico, tende a se automedicar e ir postergando o diagnóstico e o tratamento adequado. O perigo é que o problema evolua e se torne mais grave, dificultando o tratamento. A prevenção é sempre o tratamento mais simples e menos invasivo, portanto procure um especialista quando sentir dor”, finaliza.