Japão valoriza tradição com danças e canções no encerramento dos Jogos Olímpicos

A Olimpíada de Tóquio terminou oficialmente com uma cerimônia marcada pela simplicidade de ideias e a plasticidade na execução. Recursos tecnológicos arrojados estiveram presentes, mas a valorização da tradição por meio de danças e canções foi mais marcante. Com os Jogos disputados ainda sob a pesada sombra da covid-19, que esvaziou estádios e ginásios, o Japão privilegiou sua ancestralidade no momento de despedida e apostou na valorização humana.

A cerimônia começou com um emocionante clipe com momentos de vitória e dor que marcaram essa edição dos jogos, incluindo o silencioso mas determinante trabalho dos voluntários. A mensagem de resistência e solidariedade foi reforçada com a entrada conjunta dos atletas, sem distinção por países, muitos deles carregando as medalhas conquistadas. Um forte simbolismo sobre a resistência humana a partir da vitória física.

A ausência de público e atletas por causa da pandemia foi artisticamente representada por um jogo de luz que formou os anéis olímpicos, simbolizando a energia positiva despendida pelos ausentes – o primeiro grande efeito da cerimônia privilegiando os espectadores de TV e redes sociais.

Com o isolamento social ainda necessário, a população de Tóquio não teve a chance de acompanhar a Olimpíada nos estádios e ginásios, mas sua resiliência foi homenageada por grupos de dança e música, que apresentaram números de breaking dance, modalidade que vai figurar nos Jogos de Paris, em 2024. Não faltou nem uma animada apresentação da Nona Sinfonia, de Beethoven, ao ritmo de marcha.

A capital francesa, aliás, como esperado, foi lembrada em diversos momentos da cerimônia – como a bela homenagem com a apresentação de um clássico da chanson, La Vie en Rose, interpretada em japonês.

O tom de despedida já dominava o evento, contribuído pela última premiação da Olimpíada aos ganhadores da maratona. Foi possível ouvir também pela última vez o exagerado tema musical criado pelos japoneses para esses momentos, inferior aos dos Jogos do Rio (2016) e de Atlanta (1996), por exemplo, que dosaram na medida o ufanismo com agradável melodia.

E, depois de um merecido reconhecimento dos voluntários, a cerimônia foi marcada pelo Momento da Lembrança, com os sons de um tambor evocando principalmente as vítimas pela covid-19. A música continuou protagonista com a apresentação de canções características de quatro regiões japonesas.

A valorização da diversidade foi muito bem representada pela emocionante apresentação do hino olímpico por Tomotaka Okamoto, famoso sopranista japonês, homem que tem uma voz feminina de extensão vocal de soprano. “Minha voz é como um contrabaixo com cordas de violino”, disse ele, certa vez.

Já próxima do final, a cerimônia foi marcada pela “passagem do bastão”, quando Tóquio entregou as honras olímpicas a Paris, cujos principais pontos turísticos foram apresentados em um clipe encerrado pela imagem ao vivo da torre Eiffel. Ali, ao seu redor, medalhistas franceses acompanharam, ao lado de uma pequena multidão, o voo de aviões caça que despejaram no céu fumaça com as cores da bandeira nacional.

A imagem hoje surpreendente de pessoas aglomeradas, algo inexistente em Tóquio, alimentou um fio de esperança sobre o poder do esporte na valorização humana, o que se tornou evidente depois da bem sucedida realização dos mais difíceis jogos olímpicos da era moderna. E nunca o apagar da pira foi tão carregado de simbolismo.

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