Em apenas 10 minutos e 10 segundos, a viagem foi concretizada com sucesso: a nave tocou o solo terráqueo às 10h22. O lançamento ocorreu às 10h12. A separação da cápsula ocorreu às 10h16 e o lançador voltou à Terra e tocou o solo às 10h19 – o voo atingiu velocidade máxima de 3.595 km/h. Os paraquedas da nave se abriram por volta das 10h20. Ainda perto do local de pouso, a equipe comemorou com champanhe o sucesso da viagem.
A tripulação do primeiro voo com humanos da Blue Origin, empresa de exploração espacial de Jeff Bezos, embarcou no foguete New Shepard, testou os comandos de comunicação com a base na Terra e depois a cápsula foi fechada. Então, os viajantes aguardaram a contagem regressiva para a decolagem – os últimos dois minutos antes da decolagem foram controlados inteiramente pelos sistemas autônomos da nave.
A plataforma de acesso se desprendeu por volta das 10h10, faltando 1 minuto para decolagem. Com todos a bordo, a tripulação aguardou as checagens finais, o que atrasou em alguns minutos o lançamento. A decolagem estava marcada para às 10h (horário de Brasília) – o lançamento aconteceu no oeste do Texas (EUA), próximo à cidade de Van Horn.
Na manhã desta terça, a Blue Origin indicou que o voo estava confirmado para o horário programado – condições climáticas sempre podem alterar a programação de viagens espaciais, o que não foi o caso desta vez. A viagem teve transmissão pela internet.
O foguete New Shepard foi lançado com quatro passageiros: Jeff Bezos, o irmão Mark Bezos, Wally Funk (pioneira do setor aeroespacial de 82 anos) e Oliver Daemen (estudante de física de 18 anos). Foram cerca de 10 minutos de viagem, que teve três etapas: o lançamento do foguete, a separação da cápsula com os passageiros e o retorno da tripulação à Terra em queda livre com paraquedas em direção à mesma região de onde partiu. Faltando 45 minutos para o lançamento, a equipe seguiu em direção rumo ao foguete para o embarque, o que inclui um trajeto de duas milhas de carro e a subida na estação de embarque.
Após a realização da viagem do patrão com sucesso, a Blue Origin comemorou o feito no Twitter.
No evento após o voo, que contou com as filhas do astronauta Alan Shepard, os quatro receberam o broche dedicado apenas a astronautas, uma tradição americana relacionada à exploração espacial. “Quero agradecer os engenheiros da Blue Origin, que fizeram um trabalho incrivel em construir o mais confiável e divertido véiculo, a cidade de Van Horn e a cada funcionário e cliente da Amazon. Vocês pagaram por isso aqui”, disse Bezos.
“Minhas expectativas eram altas, mas foram dramticamente superadas. A gravidade zero parecia algo natural. A parte mais profunda da viagem foi olhar a Terra. Todo astronauta diz que isso muda a perspectiva quando você olha toda beleza e fragilidade da Terra”, disse.
Diferentemente dos voos para a Estação Espacial Internacional, que está em órbita a 408 km de distância da Terra, a nave New Shepard fez uma viagem suborbital: o objetivo era cruzar a linha de Karman, a 100 km de altitude, que, por convenção internacional, marca o início do espaço sideral. A cápsula atingiu a marca com sucesso e bateu 107 km de altitude.
A viagem colocou a Blue Origin no mapa da exploração espacial privada, uma disputa que vê outras empresas na dianteira. Entre elas estão a SpaceX, de Elon Musk, e a Virgin Galactic – a empresa capitaneada por Richard Branson realizou com sucesso no último dia 11 um voo suborbital com a presença do bilionário de 71 anos de idade. Na madrugada desta terça, Elon Musk enviou uma mensagem de boa sorte à tripulação da Blue Origin.
Após o voo, Richard Branson, da Virgin Galactic, congratulou a equipe da empresa rival.
Os preços de um assento em uma nave da Blue Origin ainda são um mistério – a empresa ainda não revelou os valores oficiais dos voos. Oliver Daemen, estudante de física que comprou seu lugar no foguete, não divulgou o quanto pagou. Por enquanto, o parâmetro do preço para um assento na nave é um leilão de US$ 28 milhões, abocanhado no mês passado por um milionário desconhecido, que acabou desistindo desta viagem por motivos de “agenda”. Já a Virgin Galactic irá comercializar os seus voos por US$ 250 mil.
A Blue Origin anunciou nesta manhã que deve fazer mais dois voos tripulados ainda neste ano, mas os preços não foram revelados. Os interessados devem mandar e-mails para a empresa.
Feito coloca Blue Origin na disputa do setor
Depois da Virgin Galactic preparar o terreno na semana passada, a Blue Origin mostrou nesta terça uma outra tecnologia para voos suborbitais, com uso de foguete – a viagem de Branson foi executada com um avião.
“Com esse feito, certamente avançamos em turismo espacial. Até então, só astronautas muito treinados conseguiam fazer uma viagem como essa. Eles estão demonstrando que pessoas comuns (bilionários, por enquanto) conseguem também. É um novo mercado que está surgindo, e que, se tiver cliente, será promissor”, diz Annibal Hetem, professor de propulsão espacial da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Para Alexandre Zabot, professor de Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o voo da Blue Origin marca uma nova era de concretização do turismo espacial: “O grande momento agora é passar da fase de sonhos e planejamentos para a realidade”, afirma.
Existe, porém, um longo caminho a ser percorrido para esse tipo de viagem se tornar frequente e acessível. “O principal desafio para o turismo espacial se tornar realidade é o custo, porque está no começo da indústria – com os carros também foi assim. O motor e o sistema de pouso são os pontos mais críticos para barateamento, por conta da validação para viagens com seres humanos”, diz Cassio Leandro Dal Ri Barbosa, astrônomo e professor do Centro Universitário da FEI. Segundo Bezos, cada nave pode fazer entre 25 e 100 voos.
Foguete não tem piloto
Em testes desde 2015, o foguete da Blue Origin já realizou 15 voos, mas nenhum com passageiros a bordo. Seu diferencial tecnológico é um sistema de inteligência artificial (IA): o veículo é totalmente autônomo, o que significa que todos a bordo são passageiros, sem pilotos no comando.
Além disso, mirando o barateamento das viagens espaciais, a Blue Origin usa uma técnica de reutilização de foguete, em que o lançador desce verticalmente para a Terra depois de cumprir o objetivo de lançar a cápsula – é um método também explorado pela SpaceX. A New Shepard é composta por um lançador de quase 16 metros de altura e uma cápsula semi-oval na ponta. Atinge uma aceleração superior a Mach 3, ou seja, três vezes a velocidade do som.
A cápsula tem seis poltronas reclináveis de couro com acessos para janelas de 110 de altura por 73 cm.
“A viagem é uma demonstração de confiança de Jeff Bezos no produto dele. É uma propaganda que pode trazer recursos para a empresa no longo prazo”, diz Annibal Hetem, professor de propulsão espacial da Universidade Federal do ABC (UFABC).
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