No 1º Livro de Samuel (cf. cap. 18 e 19) lemos a história da inveja de Saul sobre Davi, nas leituras destas primeiras semanas do mês de janeiro de 2024. Jônatas, seu filho torna-se o intercessor para o diálogo com Davi, perseguido de morte por Saul, seu pai. O fio condutor deste diálogo proporcionado por Jônatas, amicíssimo de Davi, era a hostilidade de Saul diante deste pródigo e promissor rei do povo judeu. Saul não queria a sua ascensão, este provoca-lhe acesso de ciúme. O êxito de Davi é geral e rápido. Bem cedo, Davi é amado por todos. Por alguma razão Saul temia, inclusive pelo triunfo do jovem rei diante de Golias.
Há grande amizade entre Jônatas, filho de Saul, e Davi; por isso, Jônatas sente a necessidade de interferir em favor do amigo. Combina com este um encontro na manhã seguinte, ao alvorecer. Seu recurso é a palavra, naturalmente apoiada no seu duplo amor por Saul e por Davi; tem de livrar Davi da morte, e seu pai do crime. Davi é inocente, seria injusto fazer-lhe o mal; Davi é um benfeitor, seria injusto não lhe retribuir; Davi foi instrumento do Senhor, seria perigoso atentar contra ele. Jônatas enuncia, em tese, como profeta do diálogo e do acordo acerca da inocência e culpabilidade de Davi e Saul, seu pai.
Entrementes, dirige-se ao pai e, pondo em evidência todos os méritos de Davi, postos a serviço do próprio Saul e de seu reino, mostra a este o quanto é absurdo o crime em sujar as mãos. Diz as páginas Sagradas que Saul deu atenção a Jônatas e jurou: “Por Deus, ele não morrerá” (1Sm 19,6). Jônatas chamou Davi e contou-lhe a conversa; depois o levou onde estava Saul, e Davi continuou no palácio como antes (cf. v. 7).
Missão e fragilidades humanas
Deus, que elegeu Davi, tirando-o de sua humilde condição de pastor, não torna fácil sua vida, não facilita a sua ascensão ao trono. Podemos dizer, embora, que nem todos concordam com a vocação e missão teológica, pensando deste modo, todavia, é o comportamento normal de Deus com relação aos seus escolhidos/eleitos. Nenhuma promessa de méritos e/ou facilidades pelo simples fato de ter sido escolhido para uma missão. Muitos homens e mulheres de ontem e de hoje sofreram e sofrem em virtude de sua específica missão. No texto que estou apresentando acima, o sofrimento vem a Davi, escolhido por Deus, para uma missão, a partir de Saul, o qual, embora também eleito por Deus, não soube ler os desígnios do Alto, ou propriamente dito da própria missão que lhe fora confiada.
O ciúme por alguém que ele considerava melhor e mais aceito por Deus e pelo povo bloqueou-o nos seus sentimentos mais profundos de admiração e afeto. História de ontem e hoje. História que se repete desde que Cristo foi entregue por inveja. Uma paixão que é obra do maligno: discórdia entre aqueles que trabalham pelo reino de Deus na Igreja, na Educação, na Política, na Economia, na Cultura e, muitas vezes, inveja e discórdias entre famílias e amigos. São as fragilidades humanas que se sobrepõe aos valores mais profundos, como a vida, por exemplo. A tentativa de eliminar o inimigo por inveja e ciúmes é enorme!
Amizade autêntica: Davi chora a morte do amigo!
Voltemos, pois, ao tema da amizade entre Jônatas e Davi. Davi recebe a notícia da morte de Saul e de Jônatas, o amigo a quem tanto amava (cf. 2Sm 1,1-4.11-12.19.23-27). Para Jônatas, Davi reserva o seu pranto mais pessoal, mais cheio de calor humano. Lamenta-se Davi diante do amigo que tombou: “Choro por ti, meu irmão Jônatas. Tu me eras tão querido; tua amizade me era mais cara que o amor das mulheres” (v. 26). Como sofro por ti, Jônatas, meu irmão! Se as moças choram Saul, seu amigo chora Jônatas, com amor mais forte. Diante, às vezes, de tantas maldades contra os seres humanos, nota-se a indiferença de tantos mortos. A sensação que temos, que, estamos paulatinamente perdendo a capacidade do choro, da lamentação, inclusive de pessoas próximas, e o pior, de grandes experiências de amizades.
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