O primeiro, da editora Carochinha, conta a história do menino Gusmão. Ele queria realizar vários sonhos e se considerava “querente”, mas não via a hora de ser um “vivente”. Um dia, o garoto sonhou que era um coelho em um circo, mas, na verdade, Gusmão queria mesmo era ser o mágico. Na narrativa sobre autonomia, liberdade, fracasso e resiliência, o personagem descobre os próprios talentos e a importância de criar um projeto de vida.
Já a nova versão da primeira obra infantil do artista, originalmente publicada em 2010, apresenta ilustrações de Edson Ikê. A obra, publicada pela editora Pallas, apresenta a pequena Edith, uma criança desanimada, que não conseguia olhar nos olhos das pessoas e passava o tempo na frente do computador ou da televisão.
Certo dia, uma vizinha, Dulce, perguntou para a mãe da garota, Elenita: “Será que essa menina tem uma velha sentada dentro da cabeça? Daquelas sem energia…”. Edith ouviu a conversa, julgou ter descoberto a razão de tanto tédio e resolveu procurar em qual lugar do cérebro essa velha estaria fincada, atrapalhando a sua infância.
Em entrevista ao Estadão, Lázaro explicou que a nova edição foi lançada por ser um assunto pertinente. “Acredito que era muito adequado para esse ano, porque fala justamente do uso da tecnologia, em um momento que tanto as crianças quanto os adultos estão muito tempo na frente de telas”, disse.
“Quando vou falar com meus filhos sobre o assunto, muitas vezes, tem de ser de uma forma dura: ‘Saia do tablet’. Mas não conversamos sobre equilíbrio, porque não tem suporte de entretenimento para falar sobre isso. Então o livro é para ser um auxílio também”, completou.
Sobre a história do menino Gusmão, Lázaro conta que começou a escrever há cinco anos, porém não sabia como finalizar. Na pandemia, observando os filhos e falando com outros pais, ele percebeu que, assim como o personagem, as crianças se sentiam confinadas. “A autonomia das crianças virou um assunto e entendi para que servia o coelho que estava confinado. Vi que dava para fornecer uma alternativa para elas de como lidar com as frustrações, fracassos e liberdade”, explicou.
Para além da autonomia, o autor cita outras questões em comum entre o protagonista e as crianças que estão vivendo o isolamento: a inquietude, o desejo de viver e sair do confinamento. Nesse sentido, ele explica que a obra traz duas mensagens: “A primeira é que existem as crianças que não possuem acesso a bens materiais e direitos e, às vezes, nem sequer sabem que podem sonhar em ser ‘querentes’, quanto mais ‘viventes’. Este é um tema que gosto de falar, porque vejo que muitas delas nem sabem que podem ter um objetivo ou um plano. Em todos os meus livros, falo sobre isso: ‘você tem direito de sonhar'”, conta.
E acrescenta: “A frase-símbolo do livro é: ‘Não existe fracasso nem sucesso que seja eterno’. Acho importantíssimo falar para os pequenos que a gente não deve se deslumbrar nem com um e nem com outro. Às vezes, a gente se deslumbra com o fracasso e fica nele ou se deslumbra tanto com o sucesso, que acha que nunca vai ter um não”.
Uma de suas mensagens é incentivar a criatividade e a imaginação. “Por se passar em um circo, que já é símbolo de um outro tipo de infância, a gente está falando também de outras formas de lazer. De inventar, desenhar, imaginar, já que, ultimamente, muitas crianças estão brincando solitárias”, afirma.
A história da pequena Edith também fala sobre tristeza e depressão em crianças. Apesar de parecer um assunto complexo, para Lázaro é importante também falar sobre isso, de forma mais lúdica, como no livro. “Temos que encontrar a linguagem certa. Quando descobrimos um jeito de falar, estamos tratando o adulto que essa criança vai se tornar. O livro pode trazer também essa contribuição, de uma maneira imaginativa. Porque, quando falamos da Edith entrando na própria cabeça, é uma metáfora de estar entrando em contato consigo mesma”, explica.
“Acho essencial para o desenvolvimento e até para o relacionamento entre pais e filhos. Mas, nós, adultos, precisamos trabalhar a linguagem certa para estimular que elas leiam, para que não caia em um lugar de obrigação, e sim lazer e companhia. Lá em casa, meus filhos são estimulados desde cedo. Seja um livrinho no banheiro, conversar com eles para saber qual assunto os interessam, ficamos atentos em que desenhos eles assistem ou até sobre as matérias da escola.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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