Cristina Vargas
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Em 8 de fevereiro deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou por unanimidade, em sessão administrativa, o pedido de registro do estatuto e do programa partidário do União Brasil (União), agremiação política resultante da fusão do Democratas (DEM) com o Partido Social Liberal (PSL). Com a aprovação, a nova legenda passou a ter como número nas urnas o 44.
A fusão e a incorporação de partidos estão previstas na Lei nº 9.096/1995, a chamada Lei dos Partidos Políticos. No artigo 29, a norma determina que os diretórios nacionais das legendas são livres para deliberar sobre a fusão de uma ou mais siglas ou, ainda, sobre a incorporação à outra, desde que respeitando a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana.
Para se fundirem ou incorporarem outros partidos, as agremiações políticas precisam estar regularmente registradas no TSE há, pelo menos, cinco anos. No caso do novo partido União, a deliberação para a fusão da nova agremiação foi aprovada em convenção nacional conjunta realizada no dia 6 de outubro de 2021.
Para entender como ficará o cenário político após a fusão dos partidos, a reportagem do Diário do Sudoeste conversou com o presidente do Diretório do Democratas (DEM) de Pato Branco, Carlinho Antonio Polazzo, e com o vereador Lindomar Brandão. A vereadora Thania Maria Caminski Gehlen também foi procurada para participar da reportagem, porém preferiu não se manifestar no momento.
Da mesma forma, o Diário conversou com o prefeito de Vitorino, Marciano Vottri, que é filiado ao Partido Social Liberal (PSL), que destacou seu posicionamento diante da fusão.
O vereador de Pato Branco, Romulo Faggion, e o deputado estadual Luiz Fernando Guerra Filho (PSL) – que é uma das lideranças do partido na região – também foram procurados para participarem da reportagem, porém preferiram não se manifestar no momento.
DEM
Carlinho Antonio Polazzo, presidente do Democratas (DEM), afirmou que avalia a fusão dos partidos como uma movimentação partidária natural, “uma vez que se trata de dois partidos com participação expressiva nas últimas eleições e agora buscam o fortalecimento de ambos os partidos através da fusão”.
Para o vereador de Pato Branco, Lindomar Brandão (DEM), a intenção da fusão é justamente “unir forças para lutar juntos em prol de um Brasil melhor. Contudo, acredito que líderes de ambos os partidos não teriam capacidade de promover essa união. Portanto, não acredito que a fusão conseguirá mudar o cenário político que vivemos, tento em âmbito nacional, estadual como local.
Semelhanças
Questionados se há semelhanças nos posicionamentos políticos que justifiquem a fusão, nos âmbitos nacional, estadual e local, Polazzo destacou que não vê muitas semelhanças nos posicionamentos recentes a nível nacional, que é o que “de fato determinou a fusão, haja vista que o Democratas faz parte do governo federal, enquanto a maioria do PSL faz oposição, contudo com a fusão haverá um realinhamento natural de posicionamento”.
Brandão enfatizou que “não há semelhanças, somente interesse dos parlamentares federais”.
Divergências
Sobre possíveis divergências de opinião dos partidos, Polazzo disse que “as divergências existentes naturalmente ficarão para trás, pois os que não concordarem com o novo alinhamento deverão sair do partido. No entanto, percebi que as maiores divergências enfrentadas para a fusão foram os posicionamentos nos estados, os quais foram superados”.
Já Brandão afirmou que “o grande problema dos partidos é que eles são formados por parlamentares, e que estes agem por convicções próprias, e não necessariamente pertencentes ao partido. Isso significa que quem faz parte dos partidos, nem sempre defendem os ideais priorizados pela maioria. Essa é a principal divergência”.
Racha
Questionado se seria natural que houvesse um racha nos partidos, tendo em vista as ideologias partidárias, Polazzo enfatizou que “não chamaria de racha, mas sim de realinhamento político-partidário, uma vez que os que não concordarem certamente irão buscar outros partidos”.
Brandão disse que não acredita que um racha seria natural, mas sim que “as pessoas devem se filiar a partidos que tenham ideologia e sigam convictas nela. Divergências sempre vão existir, contudo não é criando ou fundindo em um partido único que teremos a solução dos conflitos. Pensando em uma terceira via para o Brasil, a mesma deve ser pensada num todo, e não apenas nessa fusão. O racha não é a solução”.
Ainda, sobre um possível racha nos partidos em Pato Branco, tendo em vista que o Democratas apoiava o atual Executivo no ano passado, sendo líder do governo na Câmara, e o PSL era oposição, Polazzo salientou que da mesma forma não chamaria de racha, mas sim de realinhamento partidário, “uma vez que o União Brasil terá sua ideologia a ser seguida. As lideranças que não concordarem buscarão nova agremiação partidária, naturalmente. Evidentemente que o cenário visando as eleições de 2024 será levado em consideração no plano estratégico, porém tenho certeza de que a articulação referente a fusão dos dois partidos em Pato Branco se dará com maturidade, diálogo e entendimento, buscando sempre agir com bom senso”.
Já Brandão acredita que haverá racha, sim. “Parlamentares e filiados de ambos os partidos não suportarão conviver num partido único, e portanto, haverá muitas migrações”.
Estratégia
Questionados se foi uma boa estratégia a fusão ocorrer em um ano eleitoral, Polazzo disse que acredita que isso não vai interferir na livre vontade dos filiados, “uma vez que a ideologia do novo partido está muito próxima do atual”.
No entanto, Brandão enfatizou que não foi uma boa estratégia. Para ele, “a fusão não é ideal em qualquer momento”.
Cenário em Pato Branco
Sobre o cenário político a curto prazo, em Pato Branco e no Paraná, com a fusão, Polazzo revelou que no seu entendimento “haverá um fortalecimento do partido naturalmente face ao tamanho e a relevância do novo partido no cenário, despertando o interesse de muitas lideranças em tê-lo próximo. Trata-se de um partido que já nasce forte e certamente terá candidatura própria em 2024, na maioria dos municípios, além de eleger um grande número de parlamentares nesse ano”.
Brandão disse que “tudo depende de quem assumir a liderança estadual. Se um ou outro lado for priorizado, com toda certeza haverão migrações”.
Base do governo X oposição
Questionados sobre como devem ficar as articulações no Legislativo de Pato Branco a partir de agora, tendo em vista que um dos partidos era líder do governo na Câmara (DEM) e o outro faz oposição (PSL), Polazzo revelou que “o DEM não é da base do governo, tanto que um dos vereadores em 2021 foi líder do governo e o outro foi relator da CPI e exarou parecer pela cassação do chefe do executivo municipal. Não se constrói partido político com rancor, mágoa ou egoísmo, é preciso construir com bom senso e diálogo. Se não for possível o entendimento ou haver discordância dos rumos adotados pelo partido é natural que haja a saída de lideranças buscando novo partido. Conhecendo as lideranças de ambos os partidos, tenho certeza de que vai prevalecer o diálogo e o bom senso. Nossa posição será de independência em relação a administração municipal, apoiando nas boas ações e criticando nas que entendemos não serem corretas”.
Já Brandão acredita que “tudo dependa de quem vai assumir a presidência estadual e municipal do partido. Eu confesso que a fusão demonstra uma falta de convicção dos líderes de ambos os partidos, e principalmente da defesa de interesses que não levam em consideração o coletivo, mas sim o individualismo”.
Permanecer no União ou migrar para outro partido?
Se o diálogo e o bom senso prevalecerem, Polazzo afirmou que a intenção é permanecer e fortalecer ainda mais o novo partido.
“É preciso fortalecer o entendimento e a pacificação política de Pato Branco, as brigas políticas recentes, que aliás continuam, prejudicam demais o desenvolvimento do município. Defendemos no passado e continuamos defendendo que todas as lideranças políticas do município priorizem o diálogo e a cooperação em prol do progresso de Pato Branco. Não é momento de críticas destrutivas ou torcer para o ‘quanto pior, melhor’, precisamos todos contribuir, pensando somente na cidade, afinal campanha eleitoral local é só em 2024”.
Já para Brandão tudo vai depender do andamento das lideranças partidárias “e os rumos que decidirem para o partido em Pato Branco, que é minha prioridade”.
“Do ponto de vista estratégico se formou um megapartido”, afirma Marciano Vottri
A reportagem do Diário do Sudoeste conversou com o prefeito de Vitorino, Marciano Vottri, filiado ao Partido Social Liberal (PSL), que destacou seu posicionamento diante da fusão.
Ele revelou que “ainda nos bastidores e especulações que antecederam a fusão o resultado almejado já era batizado de ‘maior partido do Brasil’. E isso de fato ocorreu, pois a fusão entre DEM e PSL que forma União Brasil implicou no Partido com maior representação na Câmara, que já nasce com mais de 80 Deputados Federais. No Paraná, também, o União Brasil tem a maior bancada federal (quatro) e na Assembleia (oito). Então, ‘a priori’ o União Brasil emerge como um Partido com grande representatividade e força.
Semelhanças
“A proposta de formação é muito boa, além do ponto de vista estratégico. Já a conciliação ideológica na prática é mais delicada e vai depender muito das composições para estado e governo federal. Aqui em Vitorino, o DEM, embora não lançou candidatos no pleito de 2020, fez parte da base de apoio da nossa candidatura e está alinhado e em plena harmonia conosco atualmente”, enfatizou Vottri.
Divergências
Sobre as divergências partidárias, o prefeito de Vitorino revelou que “no ato de lançamento do União Brasil o discurso foi muito forte no sentido de emergir combatendo os extremos e o radicalismo, o que acho equilibrado e coerente, mas ainda está na teoria. O que vemos até agora é uma richa entre Bivar (Presidente) e ACM Netto (Diretor Nacional) em razão de planos e cálculos eleitorais diferentes, principalmente na composição ou apoio ao Planalto, conciliados a palanques e candidatos aos Governos Estaduais, o que forma uma disputa de posição”.
Racha
Sobre eventuais racha nos partidos em virtude da fusão, Vottri afirmou que acredita que é natural. “Acredito que ocorra uma capilaridade (migração) partidária, principalmente relacionada aos Parlamentares que são seguidores fiéis do atual presidente Jair Bolsonaro, que com a nova sigla (PL) carregue consigo um grupo que originalmente era PSL, partido em que o presidente foi eleito”.
Estratégia
Questionado se a fusão foi uma boa estratégia em um ano eleitoral, o prefeito de Vitorino disse que “do ponto de vista estratégico se formou um megapartido, o que lhe garante o direito do maior volume de fundo partidário e uma boa fatia dos tempos nos programas de propaganda eleitoral, que são elementos disputados nessa corrida. Agora, do ponto de vista ideológico, a formação da ‘identidade’ do partido leva um pouco mais de tempo, além da tarefa de estancar as divergências internas e alinhar composições e apoios sem perder força na corrida de 2022”.
União Brasil ou outro partido?
“Uma decisão agora seria prematura. A tendência é permanecer, mas o momento é de análise do cenário sob diversos ângulos. Dentre os parlamentares que tem sempre feito indicações para nosso Município, que já manifestei apoio, estão o deputado estadual Luiz Fernando Guerra (União Brasil), deputado federal Felipe Francischini (União Brasil), além do chefe de Estado, governador Ratinho Júnior (PSD)”, enfatizou. (CV)