Litro do leite no mercado não reflete valor pago ao produtor

Elevação dos custos de produção e valor pago pelo litro do leite são fatores que levaram boa parte dos produtores abandonar o setor

Para o consumidor, o preço do leite subiu nos últimos meses nas gôndolas dos mercados. Com ele, os seus derivados, como queijos, iogurte e manteiga. Segundo os dados da cesta básica de junho, divulgados na sexta-feira (8) pelo Grupo de pesquisa em Economia, Agricultura e Desenvolvimento da Unioeste de Francisco Beltrão, em Dois Vizinhos a variação do litro do leite de maio a junho foi de 26,21%; em Francisco Beltrão, 21,73% e em Pato Branco 4,82%.

Enquanto os consumidores relatam a alta dos preços, na outra ponta os produtores comentam a estagnação do valor pago pelo litro do leite, ao mesmo tempo em que descrevem os altos custos de produção, motivados pela elevação dos alimentos e insumos necessários.

Em meio a esse cenário, Antônio César Hruba, coordenador de captação de um laticínio instalado em Pato Branco, afirma que “a indústria não tem estoque [para atender a demanda do mercado interno brasileiro]”. Segundo ele, a oferta do produto no campo caiu em 10%, contudo Hruba não acredita que o produtor vai aumentar sua produção agora, por saber que a escassez de produto é momentânea. Isso porque, segundo ele, tão logo se torne viável a importação do leite de países como Uruguaia e Argentina, o mercado interno voltará a ficar abastecido e, por consequência, os preços nas gôndolas serão reduzidos, assim como o valor pago ao produtor.

Voltando o olhar para o mercado interno, Hruba avalia que os produtores que estão abandonando gradativamente a cadeira do leite são impulsionados pela remuneração, que não atinge os custos de produção; pelas questões climáticas, como a seca do último ano; assim como chuvas e outras pragas, que impediram uma alimentação de qualidade para o rebanho.

Há mais de duas décadas, o casal Juliane e Vilmo Borsatti trabalham com gado leiteiro, e com o passar dos anos fizeram da cadeia leiteira o principal rendimento da propriedade, que fica na comunidade de Teolândia, em Pato Branco. Em suas terras eles mantêm o Sítio Dois Irmãos, atualmente com 60 vacas em lactação.

Família Borsatti trabalha há mais de 20 anos com produção de leite

O leite não é apenas a principal fonte de renda da propriedade, como em outros momentos serviu de suporte para cobrir despesas da lavoura. Atualmente o casal conta com o filho mais velho, Felipe, que cursa medicina veterinária, e de um colaborador para ajudar no trabalho na propriedade. Eles receberam R$ 2,70 pelo litro de leite, referente a produção do mês de maio. O valor, que é variável e leva em conta uma série de fatores, como quantidade e qualidade, é o mesmo do custo de produção no período.

Frente ao momento de baixa produção do mercado interno, eles vislumbram uma melhora no preço pago ao produtor que, no caso deles, “estão prometendo R$ 3,20 no próximo pagamento”, afirma Borsatti. O pagamento da produção de junho deve ocorrer na segunda quinzena de julho.

No entanto, a família ainda tem viva na memória os meses de dezembro de 2021 e janeiro deste ano, em que o valor pago pelo litro de leite nem chegava a empatar com o custo de produção.

“O ano passado foi um ano que o produto dobrou de preço, e o custo de produção também, mas, para nós, ninguém repassou o aumento”, comenta. “Todos os insumos dobraram de preço, e o leite [pago ao produtor] ficou em R$ 2.”

Borsatti afirma que o custo de produção para se manter no setor aumentou de 40 a 50% em um intervalo de poucos anos. Mesmo assim, há poucos mees de Felipe se formar, a família não pensa em abandonar a cadeia do leite.

“Não pensamos em parar porque, com ele [Felipe] estudando, só em último caso mesmo para parar. É tentar aguentar para se manter”, afirma Borsatti, justificando que só a lavoura inviabilizaria muitas coisas para a família.

Felipe, por sua vez, acredita que, em curto prazo, pequenas propriedades de leite – realidade de muitos produtores do Sudoeste – vão acabar deixando a cadeia produtiva, que deu à região o título de maior produtora de leite do Paraná em anos anteriores.

A visão de Felipe leva em conta fatores como falta de mão de obra para essa atividade que é, em sua maioria, familiar; os altos custos de produção; e baixo retorno ao produtor.

Sudoeste teve queda de 12,47% em um ano

Comparando os índices do Valor Bruto de Produção (VPB) do Paraná, de 2020 e 2021, disponibilizados pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) é possível observar a redução de 12,47% da produção leiteria do Sudoeste, ou seja, de 2020 para o ano seguinte, a região deixou de produzir 141.325.160 litros de leite.

Levando em consideração os núcleos, a regional de Dois Vizinhos tem a menor redução de produção, 2,63%; a de Francisco Beltrão, 3,71%, quanto que a de Pato Branco registrou encolhimento de produção de 33,49%.

Em números absolutos, Chopinzinho que se destacava na produção da região e que em 2020 atingiu a marca de 54.628.920 litros de leite, registrou em 2021 redução da pecuária leiteira de 42,62%, e foi responsável pela produção de 31.344.000 litros do produto.

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