Entidades representativas dos produtores enviam documento para o Governo do Estado pedindo medidas para reduzir os impactos causados pelo período de seca
Aline Vezoli*
Com o objetivo de diminuir os prejuízos gerados pelo longo período de estiagem que vem assombrando os agricultores na safra 2021/2022, a Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná (FEAPR), em conjunto com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR), enviaram um ofício ao Ministério da Agricultura com sugestões que visam minimizar e/ou postergar dividas que podem dificultar o plantio das safras seguintes.
Em projeção realizada pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) em 9 de fevereiro de 2022, as perdas da safra atual na microrregião de Pato Branco estão estimadas em R$ 1,606 bilhões para a soja, R$ 173,1 milhão para o milho e, para o feijão, estima-se perdas de R$ 26,6 milhões. A produção de leite também foi prejudicada, marcando perda de até 20% nos últimos quatro meses, o equivalente a diminuição de R$ 46 milhões no faturamento. Até o momento, a Seab estima, no total, perdas de R$ 1,85 bilhões nos 15 municípios.
A nível nacional, diversas entidades realizaram estudos sobre a situação de cada região. No caso da FEAPR, o estudo foi realizado para avaliar além da região Sul, a região Centro-Oeste do Brasil, onde os prejuízos chegam pelo excesso de chuva.
De acordo com o vice-presidente do Crea-PR, Clodomir Ascari, especialistas que conhecem o dia a dia dos agricultores da região, o financeiro e a capacidade de pagamento, além de suas perdas, estão à disposição para tratar sobre o documento enviado ao Governo. “Esses profissionais trabalham com os agricultores operacionalizando as linhas de crédito, financiamentos e custeios, então entendemos que podem assessorar o Ministério da Agricultura para minimizar essa situação”.
O vice-presidente afirma que a maior preocupação em relação ao montante de perdas no setor é referente as dívidas que podem se acumular para os agricultores que, se ficarem inadimplentes, não conseguirão o crédito que precisam para o plantio das próximas safras.
Segundo informações da FEAPR, os números oficiais do Governo do Paraná apontam perdas de aproximadamente 50%, podendo ter um número maior ou menor de acordo com o montante de chuva de cada região, com grandes variações dentro de um mesmo município. “Houve uma grande diminuição na produção de soja, milho, feijão e outros”, afirma Ascari.
O estudo realizado para a elaboração do documento enviado ao Governo engloba produtores de pequeno, médio e grande porte, e, segundo Ascari, há uma escala de prioridades, onde foi realizado o planejamento de acordo com situações que possam encontrar em outros períodos de estiagem no futuro. “Sugerimos que o Governo tenha um fundo como alternativa, mas agora nos preocupamos mais em agilizar a solução de problemas atuais, como parcelar ou prorrogar as dívidas e o investimento”.
A solução esperada pela entidade é que os agricultores tenham mais tempo para quitar essas dívidas, com maior prazo, de forma fracionada e que o Banco Central abra condições mais satisfatórias para que as dívidas do último ano sejam negociadas de forma que não prejudique os empréstimos e investimentos realizados pelo setor para a próxima safra.
Prejuízos na agricultura devem refletir em diversos setores da economia
Outra grande preocupação das entidades relacionadas a agricultura e pecuária no Brasil é o impacto negativo que a situação deve causar na economia do país. O valor de produtos no comércio e também sobre serviços ofertados deve aumentar drasticamente. “Não é apenas o agricultor que vai pagar a conta devido a essa quebra na safra, toda a sociedade vai sentir, pois a agricultura e a pecuária são os principais componentes da nossa economia”, conta Clodomir, que cita a alta nos preços de alimentos e insumos no geral. “Imagina-se que 50% do que se estimava de recursos que teríamos para girar a economia não vai existir, então precisamos encontrar uma forma de amenizar isso”.
Tecnologia e as próximas safras
A liberação de recursos financeiros e as alternativas requeridas no ofício entregue em Governo para que os agricultores tenham suas dívidas fracionadas e o pagamento seja facilitado é a esperança para as próximas safras, pois, além de correr o risco de não conseguir novos financiamentos e empréstimos, sem recursos, os agricultores não poderão utilizar toda a tecnologia que irá garantir a volta da produtividade em safras futuras.
A alta no preço dos insumos e fertilizantes, que quase dobraram de valor no último ano, também assusta os produtores e a quebra dessa primeira safra deve deixar o preço ainda mais elevado.
No entanto, mesmo com os prejuízos, os agricultores seguem confiantes na recuperação. “Essa não foi a primeira estiagem que eles passam e não será a última, é assim que funciona o setor. Em seguida teremos uma safrinha de milho, feijão e trigo. Sem dúvidas, precisamos de um plano de ação e uma negociação para que os agricultores não fiquem endividados”, finaliza Ascari.
Colheita mais cedo
Devido ao desenvolvimento da primeira safra de 2022, os agricultores estão realizando a colheita um pouco mais cedo, se comparado com a primeira safra de 2021.Segundo o técnico agrícola do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), Ivano Carniel,42% da área de soja já foi colhida, enquanto em 2021, nesse mesmo período, a colheita havia sido realizada em apenas 5%.
A explicação para que isso ocorra é que “a condição climática fez com que o desenvolvimento da cultura da soja avance mais cedo”, explica. Com isso, os produtores passaram a aproveitar para efetivar o plantio do milho de segunda safra. Para técnico, o plantio está sendo feito como forma de aliviar o prejuízo.
Mesmo com o fim do período de zoneamento do milho no Paraná, que deveria acontecer apenas até 31 de janeiro, muitos produtores não conseguiram plantar e estão realizando o plantio fora do período. “A gente apurou em torno de 85% da área plantada e acreditamos que esse número aumente nos próximos dias. Porém, por estar fora do período de zoneamento, esse é um plantio que o produtor faz por conta e risco, sendo que as condições ainda não estão favoráveis”, comenta Carniel.
* Com supervisão de Marcilei Rossi