Miranda ainda deu mais detalhes de como Bolsonaro teria reagido ao relato seu e de seu irmão na reunião de 20 de março. Para o deputado, o presidente deu a entender que estaria “amarrado” e sem “força de combater” o problema. “O que eu percebi, sem querer proteger, o presidente demonstrou atenção ao que estávamos falando. Ele cita para mim assim: ‘você sabe quem é, né? Que ali é foda, se eu mexo nisso ai, já viu a merda que vai dar. Isso é fulano, vocês sabem que é fulano né.'”, relatou Miranda.
“(Deu a entender) que nesse grupo específico não tinha a força de combater. Ele fala o nome, mas não tem certeza também. Fala assim, ‘deve ser coisa de fulano, puta merda, mais uma vez… vou acionar o DG da PF para investigar’. Não foi uma ação de conivência, foi de ‘estou amarrado'”, disse Miranda.
“Vossa excelência tem obrigação de dizer o nome do deputado. Se não vai ficar no lenga-lenga. Se presidente citou nome de deputado, o certo era o presidente ter expulso ele da base e denunciado o deputado. Ele (o presidente tem a mania de ir para live e acusar nós aqui que temos diferenças (com ele) de ladrões sem ter prova nenhuma”, afirmou Aziz. “Eu não me recordo do nome”, insistiu Miranda.
Durante o interrogatório, o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), veio à tona pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues. Ele afirmou que a fiscal do Ministério da Saúde que deu aval ao procedimento de importação da Covaxin foi nomeada por Barros, quando era ministro da Saúde. Ele foi titular da pasta durante o governo Temer.
No centro das apurações sobre o processo de aquisição da vacina indiana, o empresário Francisco Emerson Maximiano atua no setor farmacêutico há mais de uma década. Seu nome é tido como próximo de Barros. Maximiano é dono de empresas que tiveram contratos contestados por órgãos de investigação em gestões do MDB e do PT, além de uma série de processos judiciais de cobranças de dívidas.
A Global já teve contratos com o governo federal, conforme o Estadão publicou em fevereiro. Enquanto Ricardo Barros era ministro da Saúde, a empresa vendeu, mas não entregou, remédios de alto custo ao ministério, um prejuízo estimado em R$ 20 milhões aos cofres públicos. O Ministério Público Federal move uma ação contra a empresa e, contando os danos coletivos, cobra R$ 119 milhões da Global na Justiça.
Aziz questionou também se o deputado citado por Bolsonaro na reunião do dia 20 de março poderia ser o mesmo que Miranda cita em dossiê entregue ao ministro Onyx Lorenzoni em 2019. Miranda disse não saber, uma vez que não recordava do nome levantado pelo presidente, mas se comprometeu a entregar o dossiê à CPI.
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