Hit estará no EP que inaugura a fase de independência total do cantor de gravadoras e editoras e, curiosamente, marca o reencontro em estúdio com o homem que o trabalhou com sucesso em suas primeiras gravações: Liminha. “Eu o conheço há 50 anos”, conta Lulu sobre a amizade com o produtor. No clipe, Liminha aparece fazendo solos de guitarra como um dos poucos personagens do vídeo. Os outros são, além de Lulu, a cantora Letrux e Clebson. A guitarra, aliás, um símbolo na carreira do artista, que nos primeiros momentos ajudou a criar sua marca como, mais do que um último romântico, um nome alinhado ao rock nacional que nascia nos primeiros anos de 1980, está em desalinho com o momento. “Eu toco cada vez menos guitarra”, ele diz. “Gosto muito de ver um cara como o Nando Reis pegar o violão e fazer uma balada.”
A estreia de Lulu na gestão dos próprios negócios também começa com Hit. Ele e as próximas canções serão todos lançados pelo selo Pancho Sonido, que será administrado por Clebson Teixeira em uma das frentes. “A única coisa que restava fazer na minha carreira era me autogerir. Nunca tive uma organização pessoal, nunca li um contrato de gravadora até o final, mas já sei bem o que eu não quero mais”, diz o cantor. A valorização do catálogo tem feito os cantores e intérpretes voltarem para a gestão dos próprios negócios desde os anos 90. Gil, Caetano, Djavan, todos correram para adquirir ou readquirir os direitos autorais em suas editoras. Lulu sabe que tem um potencial de ativos, para usar a linguagem do mercado, altamente volumoso.
O sistema de criação de Hit se deu de forma muito rápida, talvez o mais veloz de todas as produções de Lulu. A ideia original veio em um sonho: “Foi acordando de uma soneca que a canção ‘dropou’: ‘Eu tive sorte na vida…’ era a frase em que eu estava pensando…. O afortunado que é ter encontrado o amor e por ele ser salvo… O resto veio caindo igual ficha, até o pensamento fechar com o refrão: ‘Você é meu maior hit…'”, escreve Lulu em um texto para explicar o lançamento.
Lulu diz que colocou a canção no violão em um corredor de boa reverberação de sua casa e, menos de 30 minutos depois, postou a gravação de celular no IGTV. “Foi o menor tempo do produtor ao consumidor que uma canção minha levou. Entusiasmado com o achado, concluí que precisava de uma realização que a melhor traduzisse e valorizasse.” Foi quando Liminha entrou no circuito, gravando a base e fazendo os arranjos. O resultado da gravação pode ser visto também como sinal de um formato que os tempos de consumo digital em alta intensidade (e potencializado em tempos de pandemia) estão produzindo.
Tudo na canção deve acontecer muito rápido, mais do que o normal. As introduções foram quase que abolidas. “Ninguém mais tem tempo para elas”, diz um produtor de novos artistas de massa. Assim, a música começa com a voz de Lulu, sem nada que se anteceda a ela, como sempre foi, ao menos, nos maiores sucessos do cantor. A letra também, embora tão aparentemente ingênua, vem com o tempo do pop dos novos tempos: sem metáforas, sem rebuscamento, sem histórias longas. Algo que possa ser definido em uma frase: um homem que se considera um grande sortudo ao encontrar o seu “maior hit”. A graça está em considerar o hit tanto o amor de sua vida quanto a canção que acaba de fazer. E é isso.
Sobre a voz, há alguma alteração perceptível que faz a reportagem perguntar se não seria provocada pela alta compressão à qual os sons digitais são submetidos (mais do que os analógicos) para bloquear os exageros acústicos. Um recurso para cortar graves e agudos que sobram e, ao mesmo tempo, afinar trechos de artistas menos técnicos. “Não teve nenhum artificializador na voz”, diz Lulu. “Apenas um pouco no refrão. Minha voz baixou alguns tons, mas está límpida.” O próximo single, Inocentes, deve ser lançado em breve até que o EP com as outras músicas inéditas seja anunciado.
Conhecido por novas gerações sobretudo como jurado do programa The Voice, da Globo, um reaparecimento bem-sucedido pode levar esses potenciais fãs a quererem saber o que mais Lulu Santos fez um dia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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