Quem, afinal, nos dias de hoje, não gosta de ver uns ricos se dando mal? “Eu acho que esse já era um dos motivos do sucesso dos livros, eram pessoas comuns contra o sistema”, disse ao Estadão Omar Sy, que faz o personagem principal, Assane Diop, filho de imigrante senegalês que se inspira em Lupin. “E hoje sentimos muito, obviamente, a desigualdade. Foi por isso que decidimos fazer a série. Dá para se divertir muito, porque é uma coisa de Davi contra Golias.” Para o showrunner George Kay, o fato de Assane roubar dos ricos faz com que seus crimes não tenham vítimas. “Ele tira de quem pode perder dinheiro ou tem seguro. Assim, o espectador não se sente mal de torcer por ele.”
Assane começou a série sedento de vingança pela prisão injusta e o consequente suicídio de seu pai, um imigrante senegalês acusado de roubar um colar de Anne (Nicole Garcia), mulher do poderoso Hubert Pellegrini (Hervé Pierre). Ele planejava a vingança enquanto equilibrava a vida familiar com Claire (Ludivine Sagnier), de quem está separado, e o filho do casal, Raoul (Etan Simon). Na Parte 2, há mais ação e mais drama, porque ele precisa salvar sua família. “Então ele está numa situação de conflito: continuo buscando vingança pelo meu pai ou foco em ser um bom pai?”, explicou George Kay, que descreveu os novos episódios como intensos, complicados e surpreendentes.
O personagem continua se valendo de sua astúcia, mas também da habilidade de passar despercebido, sendo um homem negro que se disfarça de faxineiro, cozinheiro, segurança, a que ninguém presta muita atenção. Ao mesmo tempo, ele sofre racismo e preconceito por ser filho de imigrante, algo especialmente explorado nas cenas de flashback. Kay, que é inglês e escreve os roteiros na sua língua, posteriormente traduzidos para o francês, desejava dar essa perspectiva de fora. “Eu vejo esses problemas e quero falar sobre eles. Eu não me importo se isso vai causar incômodos, porque é a coisa certa a fazer. E talvez ser do Reino Unido me dê um tanto de distanciamento para fazer isso”, disse ele, que conta com o apoio de Sy. “Mas não falamos só de racismo, e sim de outras injustiças da sociedade também, como gênero e idade.”
Para ele, muito avanço ainda é necessário, mas ter Omar Sy como a cara dessa versão moderna das histórias de Arsène Lupin mostra que alguma coisa mudou. “Se vamos representar a França contemporânea, não há ninguém melhor do que Omar Sy”, disse Kay. “E é maravilhoso que as pessoas de todo o mundo o vejam representando a França, porque esta é a realidade.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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