Não importa como o filho chega. Para uma mãe não há distinção, apenas amor
A maternidade pode ser uma caixinha de surpresas inexplicáveis. Desde o momento em que a mulher decide por seguir essa difícil e prazerosa jornada e no restante de todos os dias de suas vidas, nada mais será o mesmo. Mas, tanto para as mães biológicas quanto para as mães do coração, o amor permanece os mesmos. E os desafios também.
Aos 46 anos, Camila (nome fictício, como também será preservado o nome do marido e dos filhos) é casada com Jorge há 26 anos. O casal se mudou para Pato Branco para conquistar uma melhor condição de vida, buscando oportunidades de crescer como pessoa e profissional. No município, ela se formou em administração e se especializou na área de Recursos Humanos.
Tanto Camila quanto seu marido sonhavam em empreender. Para concretizar esse objetivo, somaram a experiência profissional de Jorge na área de metalúrgica e seu conhecimento em administração, dando início a sua empresa em 2011.
Após ter certeza do rumo profissional que desejavam seguir, o casal passou para seu segundo projeto de vida: ter filhos.
Em meio ao entusiasmo da decisão de se tornar mãe, o casal precisou lidar com a notícia de que engravidar não seria fácil como imaginavam, precisando de mais de cinco anos de tratamento para conceber o primeiro filho. “Essa espera foi muito difícil, porque o tratamento gestacional é complicado, todo mês acaba esperando a notícia de que está grávida e essa notícia não chega, é emocionalmente e fisicamente desgastante”, afirma.
Segundo a empresária, a união em busca desse sonho foi o que a fez se manter firme em todo o tratamento e tentativas, resultando no nascimento do seu primeiro filho, André, que atualmente tem 13 anos. “Foi uma das maiores alegrias da minha vida. É muito difícil explicar o que é ser mãe, ter sido mãe dessa forma, vivendo uma batalha tão grande. Toda essa experiência foi uma vitória para nós”, relata.
Já com a primeira experiência da maternidade, a visão de Camila sobre o que é ser mãe mudou completamente, sendo totalmente diferente do que ela esperava.
“Antes a gente se importava com casa limpa, louça lavada. Hoje nos importamos com comida na mesa, a saúde dos nossos filhos, se o dia deles foi bom. Então notei essa mudança da visão do mundo e da vida como um todo”.
A adoção fez a família completa
Quando André cresceu um pouco e começou a entender melhor sobre tudo, passou a pedir que seus pais lhe dessem uma irmã. Foi a partir desse pedido que o casal começou a pensar sobre a segunda maternidade.
Ao pensar sobre a conquista de mais esse objetivo, Camila e Jorge perceberam que não gostariam de passar novamente por todo o desgaste da primeira gravidez. Nesse momento, ambos concordaram que a adoção seria o melhor caminho. “A gente nunca teve nenhum preconceito com a adoção. O Jorge é, inclusive, filho do coração e a gente optou passar por isso em vez de todo o desgaste de um tratamento”, afirmou Camila.
Após passar por todo o processo legal da adoção junto ao fórum, através da Vara da Infância e Juventude, o casal optou, em um primeiro momento, em adotar uma criança de até dois anos. Camila confessa que havia certo receio de optar pela adoção tardia.
Após participar de inúmeras palestras no decorrer do processo de adoção em conjunto com a juíza, promotores e psicólogos, o casal percebeu que a adoção tardia é um ato ainda maior de amor.
Camila afirma entender o motivo que leva os casais, principalmente aqueles que não tem filhos, de precisar passar pela experiência de ter um bebê. Como ela já tinha um filho, essa necessidade não fazia parte de sua vida.
A espera pela adoção para Camila e Jorge durou quatro anos. No terceiro ano, eles optaram por alterar a faixa etária para uma criança de até sete anos de idade e, após essa mudança, a tão esperada ligação acontece depois de um ano.
“Maria chegou para nós com seis anos. O processo de espera foi mais tranquilo do que o processo todo de tratamento, porque não era fisicamente doloroso”, comenta Camila, destacando que emocionalmente existia uma expectativa de receber o telefonema.
Camila conta que o primeiro contato com a família foi feito em setembro de 2020, em meio a pandemia, quando os profissionais perguntaram se havia interesse em conhecê-la. Ao dar a resposta afirmativa, foi necessário passar novamente por um processo.
“Era preciso ter a certeza de que realmente queríamos ela. Se passaram uns 15 ou 20 dias de conversa até que nos enviassem uma foto dela e, quando essa foto chegou, naquele momento eu tive a certeza de que ela é a minha filha”, conta. Todo o processo, os primeiros contatos, aconteceram de forma remota.
O próximo passo, após receber a foto, foi uma chamada de vídeo da menina com toda a família que a esperava em Pato Branco. “Nessa chamada, quando estávamos nos despedindo, ela me chamou de mãe”. No segundo contato, poucos dias depois, Maria perguntou para a família quando iriam buscá-la. Ao final da chamada, a psicóloga perguntou para o casal sobre a possibilidade de se deslocarem naquela mesma semana para conhecê-la.
“Fomos chamados apenas para conhecer. Largamos tudo e fomos e quando buscamos ela no fórum da cidade, ela saiu do carro em que estava, correu para me abraçar e falou ‘minha mãe’, depois, abraçou o Jorge e o André, os chamando de pai e mano”, conta, ao se emocionar com a lembrança.
“A gente já era a família dela. Não sei explicar o motivo. Tanto para mim quanto para ela, eu acho que ela esperava tanto essa família, que nos acolheu mais do que acolhemos ela”.
Após passar o fim de semana com ela, Camila relata que ninguém poderia discutir sobre a possibilidade dela vir para Pato Branco. “Ela não saia do meu colo. Nos apresentava para todos como sua família, então não tinha o que esperar”.
Ana chegou em Pato Branco com Camila, Jorge e André em outubro de 2020 e, atualmente, está com oito anos.
Amor é amor, não importa como chegou
Camila conta que em sua experiência, acha importante falar que não há diferença de amor. “O amor é o mesmo. Não tem como diferenciar um filho do outro. A Maria sempre fez parte da nossa família, a gente não consegue imaginar a nossa vida sem ela e não lembramos de como era antes de ela chegar”, relata.
Quando questionada sobre a diferença da primeira com a segunda maternidade, Camila aponta que “a única diferença foi a barriga que eu não tive dela, porque não existe outra diferença. É o mesmo amor, a mesma preocupação, o mesmo carinho, a mesma ansiedade de espera. O fato de não sentir ela na minha barriga não fez nenhuma diferença”.
A apreensão sobre o convívio dos irmãos também existia na família, já que até a chegada de Maria, André era filho único e, a partir daquele momento, precisaria dividir a atenção, os brinquedos, o colo. No entanto, Camila destaca que, na verdade, Maria chegou para somar mais amor, mais carinho e, claro, mais trabalho.
O amor não se divide, ele se multiplica
Camila relata que o principal aprendizado que ela teve com a adoção foi de que não existe diferença entre o filho biológico e o adotivo. “Pois as mães têm muito mais amor para dar do que se imagina”.
Com esse pensamento, a empresária aconselha que aquelas mulheres que estão em busca do sonho de ser mãe, tanto pelo método da adoção, quanto o método biológico, persistam. “Eu sei que é difícil. Passamos pelos dois processos e, quando eu falo que a adoção foi mais tranquila, é porque na minha experiência eu senti mais o tratamento para engravidar do que a espera da adoção, talvez porque eu já tinha um filho e foi um pouco mais fácil na segunda vez, mas não desista”.
Felicidade
“Os momentos mais felizes da nossa família foram na chegada dos nossos filhos. O que mais me realiza como mãe é chegar em casa toda a noite, ter o carinho deles, ter o abraço, o beijo, o colo deles, porque eles sabem quando a mãe deles não está bem. A gente se realiza como mãe todos os dias. Todos os dias é uma experiência nova, uma dificuldade nova, um conhecimento novo que precisa ter porque as fases deles vão mudando e você precisa aprender com eles”, Camila.
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