Assim como acontece em outros feriados prolongados ao longo do ano, nesta sexta-feira (17), um dia após o feriado de corpus christi, órgãos públicos de Pato Branco estiveram em recesso municipal, assim como alguns estabelecimentos privados do município não estiveram em funcionamento nesta data, o que resultou em feriado prolongado para as escolas públicas e privadas.
O feriado prolongado não se tornaria um problema se todos os estabelecimentos comerciais e administrativos privados também não estivessem em funcionamento, o que não faz parte da realidade e, por isso, gera transtorno para os trabalhadores com filhos, já que essas pessoas ficam, muitas vezes, sem auxílio para o cuidado com as crianças durante a sua jornada de trabalho.
A questão fica ainda mais complicada quando a mãe depende inteiramente do CMEI e não possui rede de apoio para conseguir comparecer ao trabalho, colocando em risco o emprego tão necessário para suprir as necessidades da família.
De acordo com a autônoma Jullyendri de Azevedo Oliveira, mãe de uma menina de 2 anos que frequenta o CMEI, em dias em que não há como levá-la para a creche, precisa chamar a babá, conhecida da família, para cuidar da criança.
“Na sexta-feira (17) eu tinha uma diária em local externo, então já havia chamado a ‘tata’ para ficar com ela, mas como choveu e o trabalho foi cancelado, pude ficar em casa”, afirma.
O problema fica ainda maior nos dias em que a pessoa de confiança escolhida para cuidar da filha de Jullyendri tem outros compromissos. “Em outras ocasiões, quando a tata não podia ficar porque tinha curso, eu preciso até desmarcar minhas diárias e transferir o trabalho para os dias em que eu teria folga, mas isso porque sou autônoma e posso remanejar e, algumas vezes, minha sogra muda seus horários para ajudar”.
Dependência de terceiros
Com a situação econômica atual, é comum que mulheres busquem auxílio com suas mães, sogras ou terceiros para que cuidem de seus filhos durante o trabalho, já que pagar uma babá se torna inviável financeiramente na maioria dos casos.
Para a Rubia Mondardo, bióloga, ex-terapeuta e doula, que atualmente trabalha como atendente de uma cafeteria, é sua mãe que cuida dos seus dois filhos, um de 2 e outro de 7 anos, nos dias em que a creche municipal não está funcionando. “A minha mãe teve que deixar o trabalho dela para eu poder trabalhar e eu pago um pouco para ela”.
A atendente explica que antigamente trabalhava como autônoma e tinha flexibilidade de horários, precisando desmarcar as clientes com frequência para cuidados dos filhos, resultando na falência do seu negócio. “Eu fiquei isolada da família, com dois filhos durante a pandemia, sem poder trabalhar. Só consegui emprego depois que a escola voltou e ainda levei muito não nas entrevistas de emprego por conta dos filhos”.
De acordo com Rúbia, a dependência é muito grande “porque se eu pagar uma babá, todo o salário vai para ela, não teria para a gasolina, nem aluguel ou comida. Se não tiver ajuda da família, não tem condições de trabalhar. O ambiente escolar é fundamental e, quando não tem, a falta gera muitas consequências para a mãe que trabalha fora, cuida dos filhos e da casa ao mesmo tempo”, finaliza.
Adequações de empresas
A coordenadora de operações de uma empresa de tecnologia, Rosana Demétrio Costa, destaca que atualmente é primordial que a empresa encontre formas de auxiliar as mães em períodos onde as escolas se encontram fechadas. “Dar segurança para as mães é primordial e também ótimo para a empresa, porque sabendo que terão segurança, poderão trabalhar com a tranquilidade de que a questão não será usada contra ela”, destaca.
Na empresa em que trabalha, “o direcionamento da cultura da nossa matriz, é sempre oferecido a folga no ponto facultativo ou nos feriados, neste último caso a compensar em horas”, não prejudicando a profissional quando a mesma não tem com quem deixar o filho em caso da creche não funcionar ou o mesmo estar doente.
Para Rosana, fatores que auxiliem as mães nesses casos fazem com que no decorrer dos dias, se crie um sentimento de reciprocidade, confiança e engajamento. A coordenadora comemora ainda o fato de que “o hábito de se perguntar para as mulheres durante as entrevistas sobre com quem os filhos ficam quando estão doentes ou não tem aula, está sendo deixando de lado”. Ela conclui falando que “é dever nosso como empresa e direito do trabalhador, ter um bom ambiente para se trabalhar”.