“Mulheres com filhos menores de dois anos precisaram conciliar a maternidade com o trabalho ou se dedicar exclusivamente aos filhos por falta de creche durante a pandemia”
Aline Vezoli
*Com supervisão de Mariana Salles
O segundo domingo do mês de maio é usado anualmente para comemorar o amor, carinho e dedicação que todas as mães têm pelos seus filhos, sejam eles bebês, crianças ou adultos — e ninguém pode negar que esse é, sem dúvida alguma, o maior amor do mundo.
Assim como todas as outras questões, a pandemia também gerou impacto no dia a dia de muitas mães, fazendo com que precisassem se readequar ao novo modelo de escola e lidar com os filhos que estão o tempo todo em casa. E, é claro, foi um desafio ainda maior para aquelas que acabaram de ter seus filhos, ainda durante a pandemia, e precisaram aprender como cuidar de uma criança e se manter em isolamento para evitar levar a covid-19 para casa.
Antes de começar a pandemia, as mães costumavam imaginar como seria a vida após a chegada do filho. Pensavam em ter uma rede de apoio com ajuda de amigas e parentes, poder receber pessoas e quando chegasse os seis meses do bebê, muitas mulheres pensavam em colocá-los na creche e retomar a rotina de trabalho.
Agora, o novo modelo de vida que todos levam é diferente, e muitas mães precisaram se reinventar e optar por montar seu próprio negócio, conciliando os cuidados dos filhos com a rotina de trabalho, enquanto outras precisaram deixar o emprego para se dedicar integralmente a maternidade.
Mães deixam o emprego para manter os cuidados com os filhos
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A vendedora Jullyendri de Azevedo Oliveira é uma das mães que planejava colocar a filha, Malu de Azevedo Oliveira, na creche após os seis meses de vida, mas a menina nasceu no dia 5 de março de 2020, uma semana antes da pandemia chegar no Brasil e mudar os planos de todos.
Atualmente Malu está com um ano e dois meses, e a mãe ainda não tem planos de colocá-la na creche. “Por mais que seria essencial para o desenvolvimento dela e muito benéfico para mim retomar a rotina, mesmo que as escolas voltem a funcionar ainda não tenho segurança”, conta.
A rotina de Jullyendri é cuidar da filha e da casa diariamente, e uma vez ou outra, faz algum bico, deixando a bebê com uma das avós durante esse tempo. As únicas pessoas que a ajudam são familiares próximos, como o marido, a irmã, mãe e sogra. “Era para ter voltado para a loja em que trabalho seis meses após o parto, mas estou em casa até hoje, não tenho com quem deixá-la e, graças a Deus, tenho a opção de não trabalhar nesse período”.
Rotina de isolamento social para evitar o contágio da família
Jullyendri conta que durante a gravidez imaginava como seria o dia a dia com a filha, como seria ser mãe. Mas o formato em que pensava era aquele já conhecido e reproduzido por todas as mães: passear, receber visitas, fazer festa de aniversário, reunir outras crianças para brincar. Mas a realidade que enfrentou foi totalmente diferente, “ficou cada vez mais assustador. Não saímos e mantemos contato físico com pouquíssimas pessoas, inclusive ela não conhece ainda o avô que mora em outra cidade”, comenta.
Para a jovem, a parte mais desafiadora foi o puerpério, onde todas as emoções da mulher ficam intensificadas e a rotina é exaustiva. “Tudo é novo. Precisamos aprender a amamentar, conhecer o filho, tem a privação de sono e, no meu caso, por ter feito cesárea, ainda precisava me recuperar da cirurgia. Além disso, o isolamento fez tudo piorar, porque não podia contar com muitas pessoas para me ajudar”, conta. “Ao mesmo tempo em que estamos explodindo de amor, é doloroso. O corpo passou por tanto, então descrevo essa fase como algo muito intenso e assustador”, conclui.
Sonho realizado
Após mais de um ano do parto, Jullyendri afirma que por mais desafiador que tenha sido, hoje é extremamente grata pela experiência que teve até o momento e descreve a maternidade como algo mágico. “Nasci para isso, para mim é a melhor coisa do mundo ouvir minha filha me chamando, ver o sorriso dela quando acorda e saber que ela é meu mundo e que eu sou o mundo dela, é meu sonho realizado”
Impactos negativos do isolamento social
Tanto as mães quanto as crianças vêm passando por desafios para lidar com a rotina dentro de casa. A falta de contato com outras crianças acaba prejudicando o desenvolvimento social e priva os pequenos de aprender a conviver com outras pessoas.
Enquanto isso, as mães ficam sem saída por não poder proporcionar esse convívio a eles. Segundo Jullyendri, é maravilhoso poder estar 100% presente no dia a dia da filha e presenciar os primeiros passos, as primeiras palavras, mas que gostaria de proporcionar o contato com outras crianças para ajudar seu desenvolvimento “Tenho a sensação de estar privando minha filha de conhecer o mundo, me sinto impotente”.
Além disso, a mãe afirma sentir falta de conversar pessoalmente com os amigos e não ter um tempo só para ela “acaba gerando um esgotamento emocional, pois não tenho uma válvula de escape. Estou sempre em busca de algo para a distrair e estimular. Se torna muito cansativo”.
Com a vivência de tudo isso, Jullyendri passou a valorizar mais a mãe e a sogra, que são as pessoas que a ajudam na criação da menina. “Passei a valorizar mais todas as mães porque, após me tornar uma, percebi que a frase ‘só sendo mãe para saber’, é real”, finaliza.
Montar o próprio negócio foi a saída encontrada para algumas mães
Para a arquiteta Leidimara Giovanella, de 25 anos, a saída encontrada para driblar a pandemia foi empreender de sua própria casa. Quando a pandemia começou, seu filho, Henrique Rasador, estava completando seis meses, e ela já tinha planos de colocá-lo na creche para retomar o trabalho.
Atualmente, a arquiteta divide seu tempo entre os cuidados do filho, da casa e do trabalho, e recebe ajuda da mãe, que cuida do menino em alguns dias da semana para que ela consiga dar conta da rotina intensa. “Nenhum dia é igual ao outro. Tento conciliar tudo e separo o período da noite para dar atenção de qualidade e brincar com ele”, conta.
Leidimara afirma recorrer a ajuda da sua mãe quando recebe prazos de trabalho mais apertado ou precisa sair. Isso fez com que ela mudasse o jeito de pensar sobre a maternidade. “Sem a minha mãe eu não conseguiria exercer minha profissão. Ser mãe é um amor incondicional, e agora com certeza a valorizo mais e entendo suas decisões”.
Sensação de medo e impotência
Com a chegada da pandemia, os sentimentos de amor e carinho sentidos pelas mães se misturou ao medo de ficar doente ou de ver o filho nessa situação. Para a jovem, não é diferente: “A sensação de medo é constante e acabamos nos privando do convívio até de parentes para a segurança da nossa família. É desafiador. Espero que acabe logo para que meu filho possa conhecer o mundo”.
Leidimara afirma que, por mais difícil seja, a pandemia trouxe um lado positivo, que foi permitir que as mães fiquem mais tempo com os filhos. “Busco olhar o lado positivo. A pandemia me trouxe um tempo com o Henrique que eu não teria trabalhando”, conclui.