Situação do Sudoeste foi monitorada por equipe que anteriormente esteve em Cascavel
As chuvas até estão sendo registradas de forma isolada em alguns municípios do Sudoeste, contudo, a inconstância, somada aos períodos de seca prolongada são apontados como fatores cruciais para as perdas que os produtores rurais estão registrando na safra 2021/22.
Mesmo antes do auge da colheita da principal cultura de verão, em dezembro de 2021, o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) já divulgava em seu relatório mensal a diminuição na produtividade de grãos do Paraná.
Naquele momento, foi anunciado uma redução de 3% com relação à safra de verão 2020/2021, mesmo com a área superior em 2%. Também na ocasião foi relatado que as culturas de soja, milho e feijão foram impactadas nos últimos meses e apresentam, respectivamente, reduções de 12%, 13% e 10% na expectativa de produção em relação ao esperado no início do ciclo.
A mesma realidade de perdas sentida no Paraná é vivenciada nos demais estados do Sul (Santa Cataria e Rio Grande do Sul), mas também no Mato Grosso do Sul, e a mudança do calendário em nada mudou a realidade do campo.
Desta forma, logo na primeira quinzena do ano uma equipe do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), liderada pela ministra Tereza Cristina, esteve no Paraná e em Mato Grosso do Sul e se reuniu com produtores afetados pela estiagem.
No caso do Paraná, enquanto uma comitiva se concentrou no Oeste, mais precisamente em Cascavel, um grupo percorreu o Sudoeste e se reuniu com lideranças do agronegócio da região em Pato Branco na noite da quinta-feira (13).
Em via de regra, o que se ouvi em Pato Branco foi um diagnóstico de como está o comprometimento da produtividade no Paraná em virtude da seca.
Assim como a ministra, o diretor do Departamento de Riscos do Mapa, Pedro Loyola, que esteve em Pato Branco, traçou um panorama do Estado de acordo com cada região percorrida, o que resultou em uma variação considerável, uma vez que segundo ele na região de Campo Mourão a quebra de produção varia neste momento de 45% a 50%; enquanto que em Maringá e entorno já passa de 60%.
Ainda de acordo com Loyola a situação mais complicada neste momento é a do Oeste. “Vimos de tudo. Desde produtor que perdeu 60, 70, 80%, muitas áreas com replantio. E o que está sendo colhido lá é com pouca qualidade”, descreveu o diretor do Mapa não se limitando apenas a questão de qualidade da produção, mas também a falta de um ‘insumo’ essencial a água.
Com relação ao Sudoeste, Loyola relata que foram vistas lavouras “com perdas bem preocupantes”, ao que ressalta que “vale lembrar que a seca é muito dinâmica, cada semana que passa é difícil reverter isso, as chuvas que estão sendo registradas, não são suficientes. Então vivemos um quadro que pode ser agravar mais ainda até as duas próximas semanas.”
O diretor do Ministério descreveu ainda que ao mesmo tempo em que muitas áreas foram observadas com replantio, outras tantas os produtores desistiram da safra, uma vez que não mais valia o investimento.
Seguro
Loyola também relato um comportamento que vem sendo uma constante nesta safra no Paraná, o acionamento do Seguro Rural e do Progaro, o que vem resultando em um aumento de trabalho para os engenheiros agrônomos que realizam as vistorias das lavouras.
Segundo o representante do Mapa, os pedidos de vistorias simultâneos estão ocasionando atrasos, para tanto ele pede que o produtor ao se programar para a colheita, avise com no mínimo 15 dias de antecedência e mesmo assim em alguns casos as vistorias estão demorando de 15 a 20 dias.
Soluções
Conforme Loyola, com os dados coletados em todas as regiões visitadas, o Ministério da Agricultura, deverá criar uma comissão reunindo o Ministério da Economia para encontrar uma solução.
“Não temos soluções neste momento, precisamos primeiro ter um quadro de todas as atividades afetadas, qual a gravidade desta estiagem, a extensão dela”, afirmou Loyola pontuando que os municípios precisam decretar situação de emergência, para que seja possível o acionamento de programas da União que possam vir a ser anunciados.
Sudoeste
Oradi Caldato, presidente do Sindicato Rural de Pato Branco, onde ocorreu a reunião com Loyola afirma acreditar que “providências sejam tomadas para que os agricultores consigam negociar suas dívidas e honrar seus compromissos de médio e longo prazo e até mesmo compromissos de custeio.”
Neste momento, o principal pedido de lideranças, ao diretor do Mapa segundo Caldato, foi a urgência na presença de peritos nas lavouras para a emissão de laudos, o que na prática pode amortizar perdas e contribuir com o custeio da segunda safra, que nas regiões que estão sendo registradas chuvas, já estão acontecendo e que no Sudoeste vem sendo feita com dificuldade devido a irregularidade hídrica.
“Não gostaria que as perdas fossem essas ou maiores, mas vão ser”, afirma Caldato ao avaliar uma recente estimativa calculada pelos escritórios do Deral no Sudoeste, e que foi apresentado pelo técnico do escritório de Pato Branco, Ivano Carniel.
Levando em conta o Valor Bruto de Produção Agrícola (VBP) de 2020, onde juntos os 42 municípios da região totalizaram R$ 16,2 bilhões e comparando coma as estimativas de quebra de produção de R$ 3,64 bilhões, somente nas culturas de soja, milho e feijão, a retração do VBP pode representar 22,4%.
Conforme apontado por Carniel, “as perdas principais das lavouras estão concentradas nas culturas da soja, que tem até agora representa 47%; feijão 42% e milho 43%”, ao mesmo tempo, o técnico do Deral pontua que “essa nossa estiagem ainda não cessou, ela continua. Há uma tendência clara, que estas perdas podem ser maiores.”
Com o cálculo inicial leva em conta três culturas de grãos, o impacto no VBP da região deve ser ainda maior, uma vez que a crise hídrica vem afetando todas as atividades do campo, o que engloba desde a pecuária a produção de hortifrútis. “Tendo em vista a estiagem que estamos atravessando, o VBP da região Sudoeste deve encolher neste ano 25%”, estimou Carniel.
Amsop
Presidente da Comissão de Agricultura e Meio Ambiente da Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná (Amsop), o prefeito de Vitorino, Marciano Vottri pondera que a presença do Mapa no Sudoeste foi bastante clara; “mensurar o problema e assim dimensionar com detalhes onde e como estão os efeitos do estresse hídrico.”
Ele lembrou que o Estado decretou Calamidade Hídrica no fim de 2021, e que alguns dos municípios do Sudoeste também já publicaram seus decretos, no entanto, acredita que nos próximos dias, a Amsop deva intensificar o trabalho junto aos municípios.
Vottri também destacou que o reconhecimento dos decretos de calamidade por parte dos governos do Estado e Federal está sendo rápido.
O presidente da Comissão de Agricultura da Amsop também mostrou preocupação com a produção leiteira do Sudoeste, falando que esta é uma cadeia que também vem tendo grande impacto com a estiagem, seja na produção do alimento para o rebanho, mas também da própria água. Assim, como Caldato e Carniel, Vottri afirmou que a situação da pecuária leiteira também foi apontada para o representante do Mapa, para que medidas sejam adotadas.