Em abril de 2019, o então secretário colocou o blogueiro em um grupo de WhatsApp classificado por ele como “grupo de pensamento de mídia da Secom”. Depois disso, os dois se reuniram e conversaram sobre a comunicação do governo federal, segundo apontam as conversas. Um dos encontros, de acordo com Allan dos Santos, foi para “transmitir alguns conselhos do Olavo” – em provável referência ao “guru” do bolsonarismo Olavo de Carvalho. “Na Secom, contem comigo”, chegou a escrever o blogueiro a um interlocutor.
As mensagens trocadas também mostram que o secretário contou com a ajuda do blogueiro quando entrou na mira da Polícia Federal sob suspeita de usar o cargo para direcionar verbas de propaganda do governo a clientes de sua empresa de publicidade. Wajngarten chega a mandar o que chama de “argumentos sintetizados” sobre o caso e pede: “me ajuda nas redes por favor”.
Ao Estadão, o ex-secretário afirmou que sua gestão na Secom foi “exclusivamente técnica”. “Tanto não tinha nada nas conversas que não sou parte nesse inquérito. Não tenho nenhuma relação com Allan. Devo tê-lo visto não mais que 3-5 vezes. É dono de veículo, devo ter falado com o veículo 2-3 vezes. Hoje foi uma delas. Absolutamente nada além. Durante a minha gestão nenhum centavo foi investido em blogs ou sites. Tudo através do Google”, disse.
No último relatório parcial da Polícia Federal, enviado ao Supremo Tribunal Federal em dezembro, a delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro sugeriu a abertura de um inquérito específico para investigar os mecanismos usados pela Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom) e os servidores do órgão que podem ter favorecido canais bolsonaristas e antidemocráticos com anúncios publicitários custeados pelo governo.
As suspeitas da PF sobre o possível direcionamento de verbas de publicidade para financiar páginas na internet dedicadas a promover manifestações contra a democracia vieram a público em setembro do ano passado, ocasião em que o Palácio do Planalto foi envolvido diretamente no inquérito pela primeira vez. O investimento de dinheiro público nesses sites também foi identificado pela CPI das Fake News.
A Secom já afirmou que a distribuição de verbas publicitárias “segue os critérios constitucionais de impessoalidade, legalidade, moralidade, publicidade e eficiência” e que a distribuição da publicidade digital oficial do governo “é de responsabilidade do Google Ads”, ferramenta do Google na qual o usuário define parâmetros sobre qual público-alvo quer alcançar com o anúncio.
Apesar de não haver um controle direto sobre quais sites as peças são exibidas, o governo tem a opção de bloquear a sua presença em determinadas páginas ou adicionar filtros que impeçam sua divulgação em sites considerados inadequados.
Defesa
“O ex-secretário Fábio Wajngarten informa que não houve verba direcionada para nenhum site ou blog. Sua gestão foi baseada em mídia técnica. Eventual publicidade recebida por sites foram feitas pela plataforma do Google que através de algoritmos remunera páginas mais acessadas sem qualquer direcionamento.”
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