O argumento do governo é o de que houve melhora nos números da pandemia nas últimas semanas, com taxas de ocupação dos leitos de UTI hoje em 85,3%, no Estado. Os índices estão abaixo dos observados no início deste mês, superiores a 90%, mas ainda são considerados altos peos médicos. Além disso, várias cidades paulistas têm relatado estoques críticos de remédios de kit intubação e já há até redução de atendimentos por falta do produto.
“A comunidade médica pede para que haja lockdown total e baixemos de verdade os índices de transmissão. Não é porque teve uma melhora que você vai dar um passo atrás no que já foi feito. Cria um ciclo sem fim”, afirma Monica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que classifica os atuais níveis de ocupação em UTI como um sinal de que “ainda tem muita gente” com quadro grave. “Estamos muito longe de termos uma taxa de transmissão condizente com essa flexibilização.”
Pelas novas, o comércio e os cultos religiosos podem ser retomados neste domingo, 18. Bares, restaurantes, academias e salões de beleza poderão ser reabertos no próximo sábado, 24. O toque de recolher, entre 20 horas e 5 horas, foi mantido. Defendido por grande parte dos cientistas por causa do novo ápice de infecções no País, o lockdown foi adotado em poucas regiões. O maior exemplo foi Araraquara, que fechou totalmente o comércio após identificar a nova variante do vírus e assistir a uma alta de mortes na cidade.
Monica Levi não está sozinha na preocupação. Com a experiência no planejamento de campanhas de vacinação desde 1975, José Cássio de Moraes, ex-diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, afirma que “nunca fizemos um distanciamento social adequado”. “Estamos colhendo somente o ônus, na área da saúde e na economia, e não um bônus para termos um número menor de casos e uma recuperação econômica mais rápida”, aponta. Na quarta-feira, 14, a taxa de isolamento social no Estado foi de 42%. Especialistas apontam que é necessário que esse índice atinja ao menos 60% para frear o contágio.
Na coletiva de imprensa em que foram anunciadas as mudanças na tarde desta sexta-feira, 16, Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência da Covid, admitiu que, “no mundo ideal”, o Estado implementaria o “maior nível de restrição possível e de redução de mobilidade das pessoas”. “Todos sabemos que, se fosse possível nos trancarmos dentro de casa por três a quatro semanas, teríamos um cenário de praticamente interrupção de transmissão (do vírus). Mas vivemos no mundo real”, afirmou ele, que chefia o centro ligado ao governo paulista.
“É preciso ter mais um tempo para sedimentar essa melhora. É uma abertura precoce”, afirma Monica,. “Não é deixar as pessoas do comércio na mão, mas criar um plano efetivo de governo para auxiliar financeiramente as pessoas a ficarem em casa. Essa situação vai gerar uma nova onda de transmissão ou um novo colapso”, alerta.
Pesquisador e diretor da Fiocruz em São Paulo, Rodrigo Stabeli acredita que esse eterno “abre e fecha” cria uma situação catastrófica para a saúde e para a economia”. “Estamos fazendo a mesma política de contenção do vírus desde março de 2020, incorrendo nos mesmos erros e querendo resultados diferentes”, avalia.
As melhoras recentes nos índices de novas internações e ocupações de leitos, explica, podem ser apenas uma “evolução natural da doença”. “O Plano São Paulo sempre faz as medidas de flexibilização ou endurecimento com base em projeções. Precisaríamos aguardar pelo menos uma semana para ter garantia dessa baixa sustentada. Não sabemos se essa diminuição é uma oscilação que vai fazer pressão daqui a uma semana nos hospitais, ou se é realmente de queda”, alerta.
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