ABÍLIO DINIZ faleceu no dia 18 de fevereiro. Não postei nada porque não tinha motivo, porque eu sou um, como tantos brasileiros que o conheciam, ouviam e admiravam, mas nunca tive a oportunidade de encontrar com ele, muito embora já houvesse pensado e desejado. Até um dia mandei uma mensagem inbox para ele dizendo da minha admiração.
Eu sou padre, mas sempre gostei de pessoas que empreendem e sempre gostei de saber de suas histórias, seus desafios e jeito de lidar com a vida e com os empreendimentos. Sabe, isso é de cada um. Cada um de nós tem os nossos interesses e gostos e personalidades diferentes.
Quando veio a primeira notícia do estado de saúde dele, que tinha vindo de avião com UTI, dos Estados Unidos, já fiquei pensando. Pensei! Ele tem 87 anos, pode ser que seja grave mesmo, afinal o corpo já não tem a mesma resistência de jovem.
Logo mais à noite veio a notícia de sua morte e já me interessei de acompanhar o que ia aparecer sobre ele na TV e internet. Eu acompanhei várias palestras dele no YouTube e também as entrevistas que ele fazia na CNN. Todas tinham um foco em temas de interesse nacional, sobre os rumos da economia, da política, e também sempre com viés relacionados ao ser humano, a felicidade e sobre a importância de acreditar.
Lembro de ter ouvido dele que fazia terapia uma vez por mês e, isso, eu já falei em palestras, dizendo que todos temos que ter ajuda para sermos um pouco melhores a cada dia. Eu também trabalho com terapia e incentivo as pessoas a fazerem. Acho que o ser humano pode melhorar muito com a ajuda de outros.
Confirmei, também, assistindo a reportagens sobre ele, que o seu propósito de vida era ser feliz e compartilhar essa felicidade com outros, inspirar e motivar as pessoas. Esse tema da felicidade é o que sempre partilho com todos. Afinal, nós queremos ser felizes e Deus também quer isso para nós. Basta buscar e encontrar o caminho, que é possível a todos.
Logo, também fui ao Instagram e vi uma de suas últimas postagens. Eu percebi que tinha visto o vídeo quando ele postou lá em janeiro. Nesse vídeo, ele estava na neve nos Estados Unidos e disse que estava se recuperando de duas cirurgias no joelho, por isso não ia esquiar, mas que adorava esquiar e adorava a neve. Pensei! Bom, ele sempre fez isso, por isso quer continuar, quer fazer aquilo que sempre fez, até o fim, muito embora, te juro que pensei, mas ele já tem 87 anos e ainda quer esquiar?
Olha, isso me suscitou um pensamento como se a vida de fato não tivesse fim. Mas ocorre que ela tem fim. Embora a gente queira viver o máximo e com disposição até o fim, o fato é que a vida tem um fim. Viver com intensidade até o fim é muito bom e perceber-se nos limites também é muito bom. Abílio sabia disso e ele acreditava na eternidade, como católico que era, mas, vou te dizer com sinceridade, parecia quando eu o acompanhava em algumas falas que a vida não tivesse fim. O via nas fotos com a esposa jovem e filhos ainda crianças, que talvez, isso ajudasse a eu ter essa impressão de muitos anos ainda pela frente, que poderia também ser o sentimento que ele carregava, uma vez que vivia muito regrado, com muito cuidado e disciplina consigo mesmo com sua saúde.
Lembro também, a partir disso, de outros livros que li de Anselm Grün, um monge alemão, que já escreveu mais de 300 livros, sobre muitos temas. Lembrei de dois livros em que ele fala da arte de envelhecer. E um dos pontos fundamentais que ele cita é em saber abandonar, quando a gente fica velho. Saber abandonar pessoas, pois elas vão morrendo e nós vamos ficando; saber abandonar posses, pois a gente percebe que deixamos tudo aí; saber abandonar as forças, pois com 80 anos não temos a mesma disposição de um corpo de 20; saber abandonar até mesmo a própria saúde, porque com a velhice pode vir doenças e fraquezas e a gente pode precisar a conviver com elas; saber abandonar o status, porque lugares que ocupávamos, talvez não sejam mais pra nós; saber abandonar cargos, pois a vida vai entrando em ritmos mais lentos, onde coisas que faziam sentido já mudam de configuração; enfim, saber abandonar. Eu acho que isso é muito importante, porque embora talvez, nós possamos não querer abandonar, a vida e seu ritmo pede que abandonemos.
Dessa ideia de saber abandonar, me suscitou o pensamento também de políticos que não conseguem abandonar a política para deixar outros mais novos assumirem; de donos de empresa que não conseguem passar o cargo para outros; de diretores que acham que tem que ficar até o fim, não compreendendo que cada um da sua contribuição, mas que outros também podem dar a sua; de padres e bispos que não conseguem se despedir de seus cargos e assim por diante. Eu acho que saber abandonar, também é uma boa lição de vida. Lembro aqui do Papa Bento XVI que soube abandonar.
Enfim, quero dizer que pensei sobre tudo isso, a partir da morte do Abílio Diniz, daquilo que conhecia dele, que certamente é muito pouco, afinal, uma vida é muito maior que um breve texto, ainda mais falando de uma pessoa tão presente e atuante, em tantas frentes, no cenário brasileiro. Enfim, façamos a vida valer a pena em todos os instantes. Deus amor, nos sustenta o tempo todo para isso.
Pe. Ezequiel Dal Pozzo
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