Dirceu Antonio Ruaro
Amigos leitores, estava a conversar com um casal que tem dois filhos. E, na conversa, surgiu a questão do medo. Uma das crianças, parece estar com medo de tudo, como disse a mãe “parece que tem medo de ter medo”.
Inicialmente, preciso dizer, como psicopedagogo, que o medo faz parte da natureza da pessoa humana e que, de certo modo é importante, especialmente para as crianças.
É importante porque a criança aprende a perceber os perigos e possíveis ameaças. É claro que, o medo em excesso, é extremamente prejudicial, porque pode prejudicar a forma de se relacionar com as pessoas e com o mundo.
É preciso lembrar que o ser humano é um ser em relação. E o medo faz parte dos relacionamentos.
Caso haja “crises” sérias de medo, é indicado procurar um especialista na área: a psicologia tem muitos bons profissionais que podem e, com certeza, ajudarão na condução de um “processo de libertação” de medos.
Nessa época, estamos vivendo um período de “ansiedade” muito profundo. Ansiedade que resultou do isolamento social, do distanciamento das aulas presenciais, do distanciamento dos amigos, entre tantos outros.
A ansiedade e o medo caminham de mãos dadas. Por isso, é importante procurar ajuda profissional. Claro que muitos medos não são reais, mas como lidar com eles, como identificá-los é uma questão séria.
É evidente que os pais precisam saber que há medos que são próprios da etapa infantil da vida, que são típicos da infância e que não são prejudiciais porque com o tempo desaparecem com as vivências que a família oferece aos filhos. Entre eles, podemos citar o medo de pessoas estranhas (aliás, vivemos dizendo que as crianças não devem falar com estranhos); medo de mudanças (de casa, de escola, de turma…); medo de escuro, de lobo mau, de personagens dos desenhos aminados que assistem; medo de dentista, de Papai Noel, entre outros que, aos poucos, conforme a criança vai crescendo e amadurecendo, vão desaparecendo.
Há também medos que podemos chamar de passageiros: medo de uma prova (avaliação); medo de não saber resolver uma série de exercícios; medo de uma determinada disciplina. Enfim, temos situações que são passageiras e as crianças se libertam delas quase que sozinhas ou com alguma intervenção dos pais.
Porém, quando os medos surgem sem muitos fundamentos, de maneira exacerbada e/ou fantasiosa, é preciso intervir com um profissional qualificado pois a criança pode estar desenvolvendo distúrbios de ansiedade e/ou fobias. E, nesses casos, só mesmo um bom profissional poderá auxiliar.
Por isso é importante a relação de confiança entre os pais e as crianças. Especialmente para que os pais possam identificar o que está acontecendo e a criança tenha confiança em dizer aos pais o que está sentido. É muito difícil para a criança expressar-se e dizer o que de fato, está acontecendo.
Quando há interferências na rotina e/ou nas relações familiares ou mesmo nas atividades conjuntas da família, a luz amarela acendeu. É preciso dar atenção aos fatos e procurar ajuda. Por isso mesmo, os pais precisam, mesmo que superficialmente, aprender a distinguir o medo que procede do medo que não tem justificativa.
É bom lembrar que o medo traz sofrimento e, de nada adianta os pais dizerem que é “tudo bobagem”. Precisam dar atenção (sem maximizar) mas precisam procurar a ajuda e o tratamento adequado.
Como disse acima, é comum as crianças não conseguirem se expressar e verbalizar seus medos e o que estão, de fato, sentindo. Ocorrências como “dor de barriga”, “dor de cabeça” “náuseas” e “xixi” intermitentes, podem ser sinais de que algo está errado e é urgente buscar a origem do medo para oferecer a ajuda adequada ao filho (a).
Então, voltando à questão dos relacionamentos interpessoais familiares, é interessante que os pais observem (e não entrem em pânico) o que vem acontecendo com o filho (a filha). A observação do comportamento e das falas das crianças, nessas situações é muito importante e caso os pais percebam algo errado, não podem hesitar em buscar ajuda (um psicólogo infantil) é o mais indicado.
Além do trabalho terapêutico do psicólogo infantil, os pais podem auxiliar muito tomando algumas atitudes, como: ouvir a criança; ouvir o que ela tem a dizer não é fácil. Os pais costumam ser imediatistas. Querem resolver na hora. E essas coisas não se resolvem num passe de mágica. Aprender a ouvir os temores, as inseguranças dos filhos sem julgamentos de valor. Aqui é preciso exercitar muita a paciência, a compreensão, o afeto, o carinho, o acolhimento da criança.
É preciso tomar cuidado também para não agir por meio de ameaças, castigos, que só irão intensificar o medo. A insegurança costuma ser companheira do medo. Então, ajudar a criança a se sentir segura é muito mais produtivo do que ameaçar e castigar.
Falei acima sobre o diálogo. Use a conversa. Mas seja natural, sem exageros, use as coisas reais, verdadeiras. Mentiras e fantasias só prejudicarão. Não é fácil vencer as barreiras que o medo, a insegurança e as fobias trazem. O papel dos pais é de ser mesmo o apoio e a segurança. Buscar ajuda não é dizer para criança que ela está doente e vão precisar de “um médico”… não é assim, buscar ajuda profissional dos dias de hoje é o mais adequado, tanto para a criança quanto para os pais e quem sabe uma “terapia familiar” não fosse o ideal? Quem sabe, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional, Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER