O mês de junho ao longo dos seus primeiros dias faz menção a vários temas que são de suma importância para a vida em geral, assim como para os seres humanos, nele encontramos a semana do meio ambiente, bem como a educação ambiental, a segurança alimentar, a pesca ilegal e a reciclagem; todos estão de algum modo interligados e precisam da nossa atenção mais do que nunca, isso porque o meio ambiente é um complexo sistema de vida, não é esse ou aquele ambiente, é todo ele e assim nele estamos inseridos. Atualmente a questão do meio ambiente levanta debates acalorados, todas as idades estão debatendo o mesmo, isso em nível global; o meio ambiente sofre com a investida humana em todas as direções; nossas condutas exacerbadas ao longo do tempo estão agora mostrando os resultados, não podemos ficar parados esperando por um milagre do além.
Meio ambiente, um desafio do tamanho do nosso Planeta, a nossa Casa Comum, até agora com raríssimas e louváveis exceções, a missão do ser humano foi transformar, mudar, arrancar, dizimar, construir e desconstruir, uma tarefa louca, até mesmo ensandecida em muitos momentos, dizeres como: “sem progresso não há vida”, “as matas são nossas inimigas, portanto precisam ser domadas”, “é na cidade que você se realizará” e outros mais, povoaram nossas mentes e principalmente de nossos antepassados. Quase todos nós viemos do “interior”, da “zona rural”, hoje quando temos a oportunidade de voltarmos aos locais onde nascemos e passamos a infância, vemos uma mudança radical nos hábitos e nas paisagens, uma alteração que muitas vezes nos causa uma dor profunda, pois o que era nunca mais será e o que será nunca o será exatamente como o imaginamos.
O meio ambiente é um direito humano fundamental, isso deveria estar grudado em nós de tal modo que nunca em momento algum nos esquecêssemos dele, mas tal não é a realidade que encontramos, nosso mundo é plural, nosso convívio se dá com pessoas das mais diversas opiniões a respeito, o debate público, tão necessário nesses dias, muitas vezes descamba para uma violência desmedida, tanto por atos, quanto por palavras. Um meio ambiente mal gerido não prospera, um meio ambiente não levado a sério cedo ou tarde ficará doente e todos pagarão um preço alto, um meio ambiente que serve exclusivamente apenas uma minoria, concentra a riqueza nas mãos de poucos e reparte indiscriminadamente as mazelas cometidas para com ele; talvez a maior miséria humana hoje seja aquela que não sente o meio ambiente como sendo o lugar da vida e do convívio.
Não é segredo para quem quer que seja, que o meio ambiente vem sofrendo muito nos últimos tempos, não precisamos ir longe, fiquemos com o exemplo aqui do nosso Brasil, o que muitos chamam de progresso torna-se o inferno existencial para muitos, aquilo que chamamos de avanço nem sempre o é na mesma proporção para aqueles que são os mais interessados; dentre tantos, um exemplo nos basta nesse campo, ou seja, a construção da usina de Belo Monte e com ela trazemos todos os projetos megalomaníacos que estão ao nosso redor em desenvolvimento, sem a devida prudência. Uma usina hidrelétrica exige o alagamento de muita terra, quantas espécies morrem com tal feito, quanto alimento se deixa de produzir, quantas pessoas são forçadas a vender suas terras a preços irrisórios e irem embora; Belo Monte é o sinal claro da falência humana em relação ao meio ambiente.
Um choque duro de realidade tem feito que aos poucos vamos sendo obrigados a rever o nosso comportamento em relação ao meio ambiente, num repente uma tragédia e tudo muda em nossa consciência, tantas mudanças climáticas com consequências profundas tem feito repensarmos sobre o que estamos fazendo com a vida em geral, o que deixaremos para nossos filhos ou ainda para as gerações futuras, o passado deveria causar em nós uma mudança radical em nossas atitudes, isto é, pensar com antecedência, colocar todas as probabilidades na mesa e só então agir, mas isso nos dias atuais é uma ofensa sem igual aos projetistas do futuro, é um obstáculo àqueles que se engalfinham na luta pelo poder, o momento presente não suporta mais a incerteza, o medo faz com que nos agarremos a qualquer ilusão, em especial àquela que traz a felicidade a velocidade da luz.
Bioeticamente, o nosso meio ambiente é sim uma realidade humana, bem como extra-humana, pois ambas encontram-se entrelaçadas de tal maneira que a vida de um não existe sem a do outro, o meio ambiente então possui muitos rostos, na maioria das vezes o ser humano se encarregou apenas de usufruir, retirar a força tudo o que o meio ambiente nos dá gratuitamente e para todos, isso trouxe consequências desastrosas para ambos os lados, tem havido uma constante e perigosa desnaturalização ambiental, no sentido que o meio ambiente passa por um processo de desfiguração, o projeto humano de dominar a natureza, não é outro senão aquele de destruir tudo para recriar então aquilo que ele entende por natureza. Até hoje a razão instrumental é um mito que não foi capaz de pôr a serviço de todos tudo o que ela criou, no mais das vezes se apropriou indiscriminadamente do meio ambiente a seu bel prazer para empanturrar os seus criadores; a sociedade tornou-se ambivalente demais, chegando ao ponto de achar que tudo irá se resolver num clique.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética e Especialista em Filosofia pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, é Doutor e Mestre em Filosofia, é professor titular de Bioética na PUCPR.
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