De acordo com professora especialista, interesse pela área pode ser sinal de alta habilidade para robótica
É comum vermos crianças brincando com carrinhos, bonecas, joguinhos de celular ou computador. Já não é tão habitual presenciarmos crianças brincando com aparelhos eletrônicos e tendo como meta comprar kit de solda.
Essa situação atípica chamou a atenção da Secretaria de Assistência Social de Mangueirinha, que ao visitar uma família atendida pela rede, se deparou com um pequeno inventor.
Carlos Eduardo dos Santos, com 9 anos de idade, reutiliza peças que encontra por casa, ou ganha de conhecidos, para consertar objetos ou recriar aparelhos, como o caso de uma mini lixadeira.
As aventuras do menino não param por aí. Ele já tentou consertar celular com bateria estragada, arrumar um DVD e recriar um mini motor de carro.
Suas experiências com eletrônica, apesar de não serem normalmente praticadas por crianças, são compartilhadas em um canal no TikTok — @carlosinventor2.0 — com uma pitada um tanto infantil, lembrando-nos do que é ser criança sem um celular na mão, a menos que esteja estragado.
Conforme a mãe, Valeska Juliana dos Santos, Carlos sempre se interessou por aparelhos eletrônicos. “Começou desmontando umas coisas que davam para ele e nunca mais parou.”
“Como estamos em uma situação difícil, porque eu estava desempregada há muito tempo, agora que consegui começar a dar vazão para o interesse dele”, conta.
Conforme a Assistência Social de Mangueirinha, eles estão divulgando o menino para a imprensa para que, de alguma forma, a população tome conhecimento do pequeno e o ajude a desenvolver ainda mais essa paixão pela eletrônica.
Quem tiver interesse em oferecer aulas, experiência na prática com profissional qualificado ou até mesmo doar peças para que o pequeno continue com suas aventuras, pode entrar em contato com a mãe, pelos números (46) 9 8401-7381 e (46) 9 9925-5528.
Alta habilidade
Ao ter acesso a seus vídeos, Ingried Somacal Muller, professora de educação especial, que trabalha com alunos de altas habilidades, disse ver uma criança com fortes traços de altas habilidades para a robótica.
“É assim que a robótica começa. Quando eles começam a pegar o que têm em casa e ver defeitinhos, adaptar, pegar o motorzinho de qualquer outro recurso que tem e construir outra coisa. Esse é o início da robótica. Depois ela [a habilidade] parte para a programação, e com o tempo vai evoluindo.”
Segundo Ingried, nesse momento, o mais importante é que a família dê todo o amparo necessário para que essa habilidade se desenvolva. “A família tem que acreditar, dar apoio igual a mãe de Carlos tem feito. É 50% do desenvolvimento das altas habilidades em um aluno”, comenta, explicando que, em muitas situações, a criança tem aptidão para uma área, mas acaba não desenvolvendo pela falta de incentivo.
Depois da família, o próximo passo é estudar, aprender ainda mais sobre o assunto. “Agora, precisaria de alguém que entenda um pouco mais para direcionar ele nessa construção, que até o momento está desenvolvendo sozinho.”
“Por enquanto, ele está sendo autodidata. Está aprendendo sozinho e postando na cara e coragem [no TikTok]. Podemos ver que muitas vezes esquece o nome dos mecanismos, mas, mesmo assim, sabe o que está fazendo”, finaliza, brincando: “se morasse em Pato Branco já estaria tendo aulas comigo.”
Jogar videogame ou trabalhar em suas ‘invenções’?
“Ah, eu queria mesmo, queria muito, desmontar uma caixa de computador. Ali eu tiro a fonte que tenho, as tensões de tem 10 volts e 12 volts, tem muito fio, placa mãe, HD e placa de vídeo. Tem muita coisa que se eu tivesse eu ia conseguir fazer várias coisas.”
Carlos e o TikTok
A ideia de criar um canal no TikTok surgiu após o menino ver que todo mundo estava na plataforma e querer conhecer, ficar conhecido lá. Foi aí que a mãe liberou seu perfil para que ele fosse fazendo videozinhos que todo mundo fazia. No entanto, não dava resultado.
Até que Carlos começou a gravar suas experiências, montando e desmontando peças, e passou a chamar atenção do pessoal. Hoje, com mais de dois mil seguidores, ele troca dicas e recebe presentes, como kits de ferramentas e dinheiro para comprar peças.
O menino, que está no terceiro ano do Ensino Fundamental, faz todas as suas ‘invenções’, como ele gosta de se referir, em um cantinho improvisado de sua casa. Segundo sua mãe, ele aprende tudo que faz com vídeos no YouTube.