Estamos sim rodeados por tantas situações, preocupações, afazeres habituais, necessários ou até mesmo mergulhados naqueles mais banais e sem serventia alguma que esquecemos que fazemos parte de um todo, não prestamos atenção a quase nada, exceto claro somente àquilo que vai me trazer algum proveito, caso contrário, o mundo que se exploda, dizem muitos. Essa é sempre uma mensagem perigosa, ainda mais hoje quando não faltam convites para virarmos o rosto, fazermos de conta com os nossos achismos, imaginarmos que tudo vai bem, bem a fundo há uma inércia no mundo para os assuntos mais candentes, há uma pressa louca para se desconstruir, uma imaginação fértil para culparmos tudo e todos, nada mais coerente do que o imprevisto e a barbárie imperarem de modo quase absoluto; hoje mais do que nunca, a nossa realidade tarda mas não falha.
Tanto progresso, tantas conquistas, tantos ufanismos aqui e ali, tantas bravatas de uns e outros, é o tempo das ilusões calculadas sob medida e ainda há quem caia nessa armadilha com muita frequência, foi-se o tempo da desconfiança, da dúvida, hoje quanto mais certeza se tem nos cliques, afundamos em teorias pouco condizentes com o momento existencial, quantos triunfalismos que presenciamos nos últimos tempos que acabaram dando em absolutamente nada, exceto quando alguns afortunados celebram seus ganhos às custas de tantas tragédias fabricadas, a civilização dita moderna, nada tem de moderna, ou seja, matar inocentes, destruir o meio ambiente, deixar as pessoas morrem de fome, deixar as minorias isoladas em guetos, ofuscar, fazer da política um meio cruel para destruir povos, realmente nada tem de moderno; isso e muito mais faz parte do jogo de interesses.
Mal começou o ano e já nos deparamos com cenas tristes, voltemos nossos olhos para o Estado da Califórnia, Estados Unidos,, lá como aqui o inferno de fogo vem fazendo estragos e vítimas, as imagens e relatos que nos chegam são aterradores, esse evento climático tem muito a nos dizer, principalmente para os ignorantes especializados, ou seja, na terra do cinema, dos heróis que salvam a terra de todos os perigos, onde tudo o que se toca vira ouro, um mundo onde a fantasia desbanca a realidade, é agora uma terra arrasada, nenhum Capitão América apareceu para salvá-la, nenhum Super-Homem surgiu para apagar o fogo, nenhum X-Men se fez presente para salvar aquela parte do planeta, nenhum banco, nada, exceto os devotados bombeiros e tantas pessoas anônimas, pessoas essas que ainda conservam algo de bom em seus corações, precisamos dessas pessoas.
Os incêndios na Califórnia, no Brasil ou em qualquer outra parte só nos revelam o óbvio, que o meio ambiente, a natureza em geral, quando são mal tratados, vilipendiados, depredados ou até mesmo roubados, eles sempre se vigam, mais cedo ou mais tarde, isso é uma verdade irretocável, para a natureza pouco importa se sua vingança vai afetar pobres ou ricos, esse ou aquele país, este ou aquele sistema financeiro, a natureza não se encaixa em nenhum de nossos mesquinhos pensamentos gananciosos, a cada destruição climática percebemos que a nossa arrogância tão arraigada, de nada serve, toda a força que os impérios cinematográficos americanos tentam demonstrar, caem por terra num piscar de olhos; por outro viés, todas as nossas garantias que imaginamos ter ou que nos forçam a acreditar, não tem nenhuma segurança diante das chamas, das enchentes, seja o que for.
Bioeticamente, deveríamos ser muito mais comedidos em aplaudir a fascinação, quando na verdade ela nos trai a todo instante, a nossa fascinação pelo futuro, que ele será maravilhoso e sem problema algum, faz estragos enormes em nossas vidas, pois ela nos causa um desencanto pelo presente e pior ainda pelo passado, esses incêndios e tantas outras catástrofes climáticas que vem assolando o mundo nos últimos temos deveriam sim ser a preocupação primeira em nossas mentes, tais catástrofes abalam nossas convicções, afinal são tantas garantias que julgávamos ter que agora viraram cinzas, nosso estilo de vida pode se alterar drasticamente a cada intervenção da natureza, os incêndios na Califórnia são um duro tapa na cara naqueles que possuem riquezas brutais e ostentam um modo de vida incompatível com a realidade; hoje não seria dizer que o menos é mais.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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