Mesmo sem Brasil, China e EUA, pacto para acabar com produção de carvão é importante

Sem a presença do Brasil e com 48 países signatários, foi firmado na Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP-26), que está sendo realizada em Glasgow, na Escócia, um pacto para acabar com a produção de carvão e fortalecer a transição energética para fontes renováveis. A intenção é fazer esse processo até 2030 em nações com economia desenvolvida e até 2040 nas nações em desenvolvimento. “Hoje, acho que podemos dizer que o fim do carvão está próximo”, afirmou Alok Sharma, que preside a conferência de quase 200 países.

Entre os que assinaram o acordo estão Polônia, Reino Unido, Alemanha e França. Já algumas ausências importantes são Estados Unidos, Japão, Índia e China, responsável por metade do consumo de carvão no mundo. Até por ter esse combustível como central em sua cadeia produtiva, os chineses optaram por não entrar no acordo neste momento, mas se comprometeram a não financiar mais minas de carvão em outros países. “O pacto cobre uma parte importante dos países que consomem carvão. A China não entrou e ela precisa viabilizar como fazer essa transição, pois o consumo de carvão lá é muito alto. Não é só na geração direta de energia, mas também tem a ver com a cadeia de produção em um país que exporta produtos para o mundo inteiro. Na pandemia vimos como essa cadeia de suprimento foi muito afetada. Então a questão é sobre como o corte do carvão vai afetar a indústria chinesa e o impacto disso no mundo como um todo”, explica Mercedes Bustamante, professora do departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB).

Ela lembra que seria muito importante contar com China e Índia no acordo, pois são grandes consumidores do carvão, que atualmente é considerado o grande vilão no aquecimento global. “O carvão é utilizado para gerar energia elétrica, mas tem impacto tanto na questão da emissão de CO2 quanto em materiais particulados, que são outros aspectos da poluição atmosférica. Também tem efeito na poluição da água e precisa de áreas muito grandes de extração. É uma indústria que precisa ter uma transformação radical. Então é necessário achar o substituto e fazer essa transição. O desafio é muito grande, mas já há essa percepção em muitos países”, continua.

A especialista aponta que é preciso fazer a substituição do carvão por energias renováveis e não apenas trocar pela exploração de outras energias fósseis. “O carvão é parte importante da equação de controle da mudança do clima, pois é o combustível fóssil que está mais associado à emissão de CO2. Depois dele, temos de olhar para os outros combustíveis fósseis, como gás natural e petróleo”, comenta.

Mercedes Bustamante lembra que o fato de a Polônia, o segundo maior consumidor de carvão da Europa, ter entrado no acordo, é um bom sinal. Mas também vê países que ainda não deram um passo adiante. “Tem resistência da Austrália, que é grande exportadora de carvão. Já os Estados Unidos não assinaram, mas a dependência do carvão já vem diminuindo gradualmente lá. O mundo já está se movendo nesse caminho. Então a preocupação agora está nos países em desenvolvimento na Ásia, que fizeram suas economias muito baseadas no carvão.”

BRASIL

O Brasil não entrou no acordo, mas segundo o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o País já está engajado em ter matriz energética limpa, o que não é de agora. “O Brasil tem muito a contribuir com o mundo. Iniciamos nossa transição energética há 50 anos”, enfatizou, acrescentando que 85% da produção de energia hoje é de fonte limpa e renovável. Ao mesmo tempo, ele ressaltou que o etanol é uma referência para outros países do mundo. “O Reino Unido decidiu usar 10% de etanol em sua gasolina. Já fazemos isso há muitos anos e com porcentual maior, de 27%”, disse ele, que está em Glasgow para a COP.

Albuquerque comentou ainda sobre a mineração no Brasil, afirmando que se trata de um setor em evolução. “Temos uma mineração hoje sustentável. É um cartão de visitas do Brasil”, disse, citando as operações da Vale em Carajás, apesar de não ter mencionado diretamente o nome da companhia. “O trabalho lá mostra que a mineração sustentável preserva os recursos, florestas naturais, o que é o mais importante.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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