Dom Edgar Xavier Ertl
Metanoia, termo grego, que significa, na linguagem bíblica, “a volta”, ou “conversão” do ser humano a Deus. Metanoia é o conteúdo principal do tempo quaresmal: “Convertei-vos e crede no Evangelho” anuncia Jesus Cristo no início de seu ministério, na Galileia, que também podemos traduzir assim: “Arrependei-vos e crede na boa notícia” (Mc 1,15). Tal é a boa notícia para estes 40 dias. Está próximo o efetivo reino de Deus, o exercício de seu poder real na história. O reinado de Deus em Jesus já está atuando e por ele se oferece. Ele só nos pede a ruptura do arrependimento e a fé: elementos essenciais para esse tempo favorável à conversão, à mudança de vida e mentalidade, ou seja, é o tempo da Metanoia nos aspectos pessoais, comunitários/eclesiais e sociais; é a conversão em todas as suas dimensões.
Quaresma = quadragésima
Nunca é demais recordar o significado de nossas palavras próprias dos tempos que se aproximam, a partir do dia 22 de fevereiro, Quarta-feira de Cinzas. Segundo os padres jesuítas, Francisco Taborda e Johan Konings, na obra “Celebrar o dia do Senhor”, o termo “Quaresma” vem do latim quadragésima e evoca, portanto, o número 40, número multiplamente simbólico: 40 anos foi o tempo do êxodo do povo de Deus entre a passagem do mar Vermelho e a entrada na Terra Prometida, segundo o Pentateuco; 40 dias e noite foi a duração do jejum antes de iniciar a vida pública (cf. Mt 4,1; Mc 1,3; Lc 4,2); 40 foi também o número de dias que Elias levou para chegar ao Monte Horeb, lugar da revelação de Deus (cf. 1Rs 19,8).
Esses três eventos – mas principalmente os dois primeiros – argumentam os professores, iluminaram a caminhada quaresmal. A Igreja na sua liturgia convida-nos a acompanhar a travessia do deserto e sugere assim o sentido da Quaresma: exercitar-se para chegarmos, no fim de nossos dias, à Terra Prometida do céu, à comunhão com Deus. O tempo do deserto foi o tempo da tentação do povo de Deus, sempre teimando em afastar-se da vontade divina e buscando seus próprios caminhos, mas sempre de novo conduzidos à obediência ao Senhor.
O jejum de Jesus e proposta evangélica para as cinco semanas da Quaresma
Seguindo as explicações dos teólogos é preciso acompanhar o jejum de Jesus, que leva a aprender com ele a forma de vencer o Maligno: pela força da palavra de Deus. Ao mesmo tempo, purifica nossas perspectivas demasiadas mundanas sobre a salvação que Deus nos oferece em Cristo: não se trata dos bens materiais, nem do poder-dominação, nem do exibicionismo – tema do 1º Domingo da Quaresma. O caminho de Cristo é o caminho da cruz – tema do 2º Domingo da Quaresma. Mas ele nos leva à vida em plenitude: à água da vida, – reflexão para o 3º Domingo da Quaresma, à iluminação, ouvindo o relato do cego de nascença – rezaremos no 4º Domingo da Quaresma, à vida do ressuscitado, ouvindo as palavras de Jesus ao amigo morto Lázaro e ressuscitado – tema de oração e reflexão para o 5º Domingo da Quaresma.
“Quarta-feira de Cinzas”
Proclama a Igreja: “Com este dia de jejum inicia o tempo da Quaresma”. A designação “Quarta-feira de Cinzas” provém da prática de impor cinzas sobre a cabeça dos penitentes. É uma prática de origem bíblica, deixo aqui três indicações para posteriores leituras: Judite põe cinzas sobre a cabeça (cf. Jt 9,1); a conversão do Rei de Nínive (cf. Jn 3,6); Jesus questiona duramente Corazaim e Betsaida pela falta de conversão (cf. Mt 11,21). Enfim, a imposição das Cinzas é um sinal com empenho de conversão. Valorizemos esses ritos litúrgicos que acontecem em todas as nossas Igrejas, neste dia 22, e comprometemo-nos também com a Campanha da Fraternidade 2023, Fraternidade e Fome, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16).
Diocese de Palmas-Francisco Beltrão
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