O Ministério da Saúde incorporou no Sistema Único de Saúde (SUS) o tocilizumabe para tratamento da covid-19. O medicamento, indicado para pacientes adultos hospitalizados, inibe uma proteína que promove inflamação crônica e está associada a maior agressividade e risco de mortalidade por covid-19.
O prazo máximo para a efetiva oferta da tecnologia em saúde no SUS é de 180 dias. Estudos apontam que o tocilizumabe pode ser eficaz devido ao seu potencial controle sobre doenças inflamatórias e desordens no sistema imunológico.
No site da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) é possível consultar relatórios técnicos sobre a avaliação do medicamento.
Como funciona
Entre diversos estudos com o medicamento, o mais famoso foi realizado desde março de 2020, pela Universidade de Oxford, no Reino Unido. Chamado de RECOVERY (Randomised Evaluation of 14 Covid-19 Therapy), a pesquisa do tocilizumabe para o tratamento da covid-19 envolveu mais de 4 mil voluntários diagnosticados com a doença – sendo que metade deles teve tratamento padrão e a outra parte teve o tocilizumabe prescrito – concluiu que a droga respondeu na redução de mortes nos casos mais graves e evitou ou diminuiu o risco de intubação para outros internados.
No Brasil, o Hospital Igesp, de São Paulo, testou o medicamento em 14 pacientes com comorbidades diversas, internados em estado grave na unidade, sendo 11 deles já intubados e três em fase de pré-intubação, todos sem perspectivas de melhora. Segundo o hospital, a resposta do estudo entre os intubados foi a recuperação de dez pacientes e a morte de um deles. Já o segundo grupo teve uma evolução de melhora considerável e não foi necessária a intubação de nenhum paciente.
De acordo com o infectologista Tiago Rodrigues, o tocilizumabe não é um antiviral e sim um imunobiológico (anticorpo monoclonal), ou seja, trabalha no organismo diminuindo a imunidade e, consequentemente, as inflamações causadas por diversas moléstias. Por isso é uma droga muito utilizada no tratamento de muitas doenças, incluindo as reumatológicas e alguns tipos de câncer.
Para produzir um anticorpo monoclonal, os pesquisadores primeiro identificam o antígeno que deve ser atacado. Atualmente estão em andamento ensaios clínicos com novos anticorpos monoclonais para diversos tipos de doenças.
Com indicação para artrite reumatoide, artrite idiopática juvenil particular, artrite de células grandes e artrite idiopática juvenil sistêmica, o tocilizumabe liga-se aos receptores de IL-6 solúveis e de membrana e inibe a sinalização intracelular mediada pelos complexos sIL-6R e mIL-6R.
Isso fez com que o uso de tocilizumabe fosse capaz de reduzir a mortalidade em 28 dias, em pacientes internados por covid-19, com hipoxemia e evidência de inflamação sistêmica. Além disso, foi observado aumento da taxa de alta hospitalar em 28 dias, e redução da necessidade de ventilação mecânica invasiva. Esses benefícios foram observados mesmo em pacientes que já estavam em uso de dexametasona.