Cristina Vargas, Marcilei Rossi e Mariana Salles
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo César Rezende de Carvalho Alvim, esteve em Pato Branco nessa quarta-feira (20), cumprindo agenda e conhecendo o potencial tecnológico do município.
Ele visitou empresas do setor de softwares, conheceu projetos locais voltados à robótica e ao agronegócio, e a incubadora de startups do campus da UTFPR. Também conheceu o Parque Tecnológico de Pato Branco, voltado à pesquisa, extensão e incubação de empresas de base tecnológica, com foco na inovação e no empreendedorismo.
“Mais que os novos talentos, o que me surpreendeu foram as entregas desses novos talentos. Os produtos que são gerados aqui têm espaço no mercado internacional e mostram criatividade, produtividade e capacidade inovativa”, pontua o ministro, ao se inteirar sobre os projetos desenvolvidos nas empresas incubadas.
Em entrevista coletiva à imprensa, Alvim foi questionado sobre o papel da pasta na pandemia; o porquê que apesar dos gastos de bilhões de euros – acima da média mundial – até o fim de 2022, pelo Ministério, o país ainda não é destaque mundial no setor; em relação ao pedido de investimentos feito a Alvim pelo reitor da UTFPR, para o Parque Científico Tecnológico, quando evitou-se falar de investimentos e sim de parcerias; e seu sentimento em relação as falas do presidente Jair Bolsonaro (PL), desqualificando a Ciência e, recentemente, a urna eletrônica.
Diário do Sudoeste – Recentemente, em Curitiba, o senhor foi indagado pelo reitor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) com relação a possibilidade de recursos do Governo Federal para a criação de um Parque Científico Tecnológico. O Parque Tecnológico de Pato Branco tem na sua essência a UTFPR, assim, o pedido do reitor deverá ser atendido?
Ministro Paulo Alvim – Temos uma prática que nós, no Ministério, não operamos diretamente. Porque vem o questionamento dos órgãos de controle sobre o porquê que estamos apoiando A ou B. Temos praticado, e acabamos de fechar um ciclo para uma chamada grande de mais de R$ 280 milhões para a área de parques tecnológicos. Estamos suplementando esses recursos. Essa chamada foi extremamente exitosa.
Infelizmente o pessoal da UTFPR não teve condições de mandar [a solicitação] naquele tempo. Então, estamos apoiando para que uma nova chamada seja atendida.
Em Pato Branco, o momento é diferente. A estratégia é a complementação de recursos para alavancar a capacidade desse parque, que é uma realidade. Assim, precisamos fortalecer, e o fortalecimento passa por parcerias público-privadas por fator de atratividade de novas empresas, ou seja, uma ação complementar.
O site Valor Econômico divulgou nesta semana que o país deve fechar 2022 com um gasto de mais de 69 bilhões de euros, segundo informações repassadas pelo seu Ministério. Gasto este acima da média mundial. Diante disso, por que ainda não somos destaque mundial no setor?
Isso se refere ao setor de TIC [Tecnologia da Informação e Comunicação]. Em Pato Branco temos um exemplo, são mais de 100 empresas de TIC. É uma área que é referência nacional. No hemisfério Sul, somos um dos poucos países que têm competência em pesquisa científica, desenvolvimento e capacidade empresarial na área. Uma prova é que temos 100 empresas, só em Pato Branco.
Temos um universo que tem demostrado o papel das empresas que atuam na área de TIC. Isso é fruto de uma estratégia montada lá atrás, há mais de 30 anos, onde tivemos uma lei de incentivo. Hoje [ontem] foi mostrado que 28 dessas 100 empresas se beneficiam da lei da informática, atualmente lei de TIC. Uma estratégia de uma lei que mitiga o risco de pesquisa e desenvolvimento, mas que dê apoio a esse processo de desenvolvimento e capacidade de lançamento de novos produtos, e o setor de TIC tem isso.
Então, esse estudo que foi apresentado e realizado por nossa encomenda, pelo Observatório Softex, simplesmente mostrou isso. Quando se tem uma estratégia de País, de Estado, no apoio a um segmento, esse segmento se desenvolve. No caso de TIC foi isso que se mostrou.
Nós temos mostrado – e isso é perspectiva – que o grande desafio vem pela frente, porque vamos incorporar tecnologia 5G, novas áreas da tecnologia digital, e gostamos de dar destaque, por exemplo, para a segurança cibernética e as tecnologias quânticas.
O desafio para a área de TIC, que é balizar o desenvolvimento da economia no momento do século 21, uma economia digital, isso é fundamental, é oportunidade. Lógico, o Estado vai precisar dar sua contraparte, mas isso é fruto de uma parceria público-privada.
O senhor está a frente de um Ministério que é constantemente descredibilizado pelas falas do Executivo, primeiro durante a pandemia com a negação da vacina, agora com a questão das urnas eletrônicas, como se sente diante disso?
Esse Ministério nunca falhou na questão da Ciência. Se pegar a série histórica, nos últimos três anos e meio investimos dentro das limitações orçamentárias e financeiras. Não esqueça que a pandemia é um compromisso de Estado, com pessoas, trabalhadores e empresas. E o Brasil foi exemplar.
Sessenta e oito milhões de pessoas foram atendidas com o Auxílio Emergencial, houve crédito para as empresas se manterem e os empregos cresceram nos últimos três anos. Houve um compromisso do Estado para a situação da pandemia. No que se refere à Ciência e Tecnologia, só esse ano, investimos R$ 2 bilhões.
Já as falas têm outro contexto. Não vou me prender às falas, mas a ação efetivamente do que está sendo feito. E no que se refere as questões da contribuição da Ciência, só no primeiro ano da pandemia o Ministério investiu R$ 1 bilhão em contribuições, ações complementares na área de apoio à covid-19.
Hoje temos capacidade de produzir ventiladores pulmonares, inclusive em Pato Branco. Temos competência em várias áreas de pesquisa para construção de linhas de vacina e capacidade de testes. Isso não existia, foi contribuição da Ciência, feito com recursos Federais, por um contingente de pesquisadores, com mais de 200 projetos apoiados em linhas de pesquisas vinculadas ao covid-19. Isso não foi negligência com a Ciência, foi um direcionamento de recursos para atender uma demanda emergencial de uma pandemia, uma situação sanitária. E nesse ano estamos praticando.
Posso afirmar que estamos entrando em um ciclo de recursos garantidos e crescentes para a área de apoio à Ciência e Tecnologia. É só ver o orçamento deste ano.