Com a experiência acumulada em décadas de profissão, Garcia declarou na época do lançamento que acreditava ter cumprido com o livro uma tarefa de grande importância: não só fornecer um conjunto de informações básicas sobre a região, como desfazer equívocos sobre a realidade nordestina. E para isso, disse ao jornal, não foi necessário grande esforço, pois o conteúdo do livro era uma síntese das reportagens que fez percorrendo a região de ponta a ponta desde que começou no jornalismo, na década de 1950.
Diagnosticado com Mal de Parkinson desde 2008, Garcia foi diagnosticado com covid-19 no dia 10 de abril. Internado no Real Hospital Português de Recife, o jornalista morreu na terça-feira passada, aos 87 anos. Deixou a mulher, Vanize Maria Cabral de Vasconcelos, os filhos Rodrigo e Roberta, do primeiro casamento com Maria Ângela, de quem ficou viúvo em 1991, as enteadas Katarina, Ana Carolina e Rafaela e os netos Gabriel, Marina e Maria Cecília. Gerações de jornalistas prestaram homenagens ao mestre e amigo. “Era superinformado sobre tudo”, disse o filho após a morte do pai. A missa de sétimo dia será amanhã, na Igreja Nossa Senhor de Fátima, em Boa Viagem.
‘Valioso’
O reconhecimento ao trabalho de Garcia sobre o Nordeste pode ser medido com uma das resenhas sobre seu livro O que é, assinada por Gilberto Freyre, um dos maiores intelectuais brasileiros. “O livro de Carlos Garcia é valioso pelo que informa. É válido como vibrante denúncia do que vem sendo discriminação, da parte de Brasília, contra um Nordeste considerado quase sub-brasileiro”, escreveu o autor de Casa-Grande & Senzala.
Desfazer a imagem de que a região era apenas seca e miséria foi uma constante no trabalho do jornalista. No Estadão, suas abordagens sobre a falta d’água iam muito além dos efeitos econômicos, mostrando os aspectos sociais, comportamentais e culturais que a estiagem provocava na população da região.
Apontando esses problemas em suas reportagens, atravessou a ditadura tendo de se esquivar do regime. Numa entrevista a Evaldo Costa, Homero Fonseca e Mário Hélio em 2004, Garcia relatou 13 convocações para depor, “quase todas do tempo do Estadão, onde eu podia tratar de certos assuntos”.
Em março de 1974, uma dessas convocações não ficaria restrita apenas a um depoimento. Garcia foi levado algemado da sucursal do jornal no centro do Recife para falar com um coronel do Exército. “Ficaram rodando comigo uns 20 minutos, fazendo ameaças. Diziam coisas do tipo: ‘A gente nunca mais tinha jogado ninguém da ponte…’ Mas fui levado ao DOI-Codi. Me colocaram no pau de arara, e deram choques.” Apesar da violência sofrida, Garcia não deixou de publicar conteúdos que desagradassem ao regime.
Garcia iniciou sua carreira no Recife, no Jornal Pequeno, passando por Última Hora Nordeste, Diário da Noite e Jornal do Commércio. Bom de conversa, assumiria uma coluna de notas políticas na Folha de Pernambuco. Também tornaria-se sócio de uma pequena editora e gráfica, além de ser secretário estadual de Cultura no governo de Jarbas Vasconcelos (PMDB). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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