“O que devia ser uma pesquisa qualitativa para ilustrar uma reflexão sobre autoritarismo militar acabou virando um grande projeto sobre memória militar, o maior que o País teve até então e o único desse gênero entre os países vizinhos que sofreram ditaduras similares. Produzimos e organizamos vários livros juntos, escrevemos artigos e formamos pessoas em nossa equipe de trabalho”, escreveu, nesta segunda, em uma rede social, a cientista política Maria Celina D’Araujo, ao lado do antropólogo Celso Castro, ambos colegas de Soares.
Filho de um contador e de uma professora, Soares fez carreira em universidades fora do Brasil, lecionando em Harvard, na Ucla e no Massachusetts Institute of Technology (MIT), na University of Florida, nos EUA, e na Universidad Autónoma de Mexico. Foi quando estava na Florida que procurou, no início dos anos 1990, a professora Maria Celina, então na FGV. “Queria fazer um projeto de pesquisa sobre a ditadura militar e tinha a ideia de conversar com os militares que exerceram o poder, entender a ditadura por dentro, suas contradições e sua unidade formal para entrar e sair do regime em ordem unida. Tinha conseguido um pequeno financiamento nos Estados Unidos e começamos a preparar nossos planos que mudaram muito com o andar do trabalho”, contou Maria Celina, referindo-se ao amigo.
Dillon Soares e seus companheiros criaram o maior banco de dados com depoimentos de militares do País, uma referência para os estudos sobre essa parte da burocracia estatal decisiva para a compreensão da República. Trata-se de fonte única sobre o regime; só mais de uma década depois, a Biblioteca do Exército tentou seguIr o exemplo, mas sem o mesmo cuidado acadêmico. “Era uma voz sempre presente a dizer que tínhamos que testar tudo antes de afirmar ou concluir. Rigor absoluto com a metodologia”, escreveu Maria Celina.
Depois do projeto sobre os militares, Dillon Soares dedicou-se a pesquisas sobre a violência no Brasil. “Agregou-se ao grupo de ativistas que fizeram a bem-sucedida campanha contra mortes no trânsito em Brasília, dedicou-se ao estudo da violência interpessoal e policial no Brasil e pesquisou muito a esse respeito”, disse ainda Maria Celina.
O professor havia concluído recentemente, com sucesso, o tratamento para um câncer. “Mesmo com a aridez do mundo acadêmico, tornou-se um militante da plenitude da vida de uma maneira intimista, sensível: falando de dor, de esperança e de fé. Mais uma pessoa idosa, produtiva, com saúde, que mesmo vacinada, foi acometida pela covid.”, completou Maria Celina.
Comentários estão fechados.