Com a pandemia, número de óbitos pelo problema teve um aumento significativo
Mariana Salles
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No último dia 31 de julho, um domingo, o empresário João Paulo Diniz, de 58 anos, faleceu após praticar atividades físicas. Ele era triatleta e, apesar de a causa de sua morte não ter sido anunciada oficialmente, a principal hipótese é de que tenha sofrido um infarto fulminante.
Jovem, saudável, esportista e com acesso à excelentes recursos de saúde, sua morte precoce acendeu um alerta: ninguém está livre aos problemas cardiovasculares, que comumente são associados às pessoas obesas e sedentárias.
A pergunta que fica é: quando a prática de exercícios deixa de ser segura a ponto de levar seu praticante à morte?
Atividade física: quais os riscos?
Conforme o médico cardiologista do Neocor – Centro Médico Integrado, Luiz Fernando Ribeiro Morrone, a atividade física é de extrema importância para a redução e prevenção dos riscos cardiovasculares. “O hábito de exercitar-se de forma regular e crônica proporciona um efeito protetor na prevenção primaria e secundaria da doença arterial e coronária”, alerta.
Morrone explica que a melhora no condicionamento físico também pode relacionar-se a alterações benéficas no perfil lipídico, como perda de peso e diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial, além de diminuir o risco de diabetes mellitus e alguns tipos de cânceres, garantindo também a manutenção da massa muscular e óssea.
“A prática continuada de atividade aeróbica possibilita uma melhor extração periférica de oxigênio pelos músculos esqueléticos, aumenta a sensibilidade a insulina e possivelmente estimula a circulação colateral miocárdica. Portanto a prática de atividade física regular é indispensável e recomendada de modo geral a todos os indivíduos”, diz.
No entanto, o cardiologista informa que uma pequena parcela de indivíduos pode possuir patologias que fazem com que o exercício perca seu efeito protetor e passe a gerar efeitos deletérios e até morte súbita. “Essas patologias podem gerar esse risco independentemente do nível de condicionamento físico e grau de treinamento”, reflete. Por isso, a importância de uma investigação a partir de anamnese médica.
O objetivo da avaliação, diz, é investigar a existência de alguma condição cardíaca que possa predispor morte súbita, tais como: Miocardiopatia hipertrófica; mal formações congênitas; anomalias de coronárias; valvulopatias; aterosclerose coronariana; entre outras.
Morte súbita por exercícios
Morrone diz que morte súbita é definida como morte de origem natural, que ocorre em até uma hora do início dos sintomas. Já a morte súbita relacionada aos exercícios é aquela que ocorre quando da realização da atividade física, ou até uma hora após o seu término.
“É de extrema importância saber que o exercício físico não deve ser encarado como único responsável, mas sim como coadjuvante em um sistema complexo que envolve, na maioria das vezes, uma doença cardíaca pré-existente, por vezes silenciosa, e em algum momento crítico no qual existe desequilíbrio. Essa junção inicia a cadeia de eventos que culminará com instabilidade elétrica do coração e morte súbita, e o exercício físico pode ser então encarado como um gatilho”, avalia o médico.
O principal mecanismo de morte Súbita Cardíaca (MSC), explica Morrone, “ocorre por fibrilação ventricular precedida de taquicardia ventricular sustentada, correspondendo a 50% das mortes súbitas cardiovasculares e 80% das mortes em indivíduos com doença arterial coronariana”. Essas arritmias malignas são o produto de uma séria de eventos que levaram a instabilidade elétrica do coração até a morte, caso não sejam abortadas a tempo.
Atividade física de alto desempenho gera risco maior?
Sabe-se que o maior risco de MSC e doenças cardiovasculares está entre os indivíduos que não praticam atividade física regularmente, os chamados sedentários e atletas de fim de semana. Entretanto, conforme o especialista, estudos observacionais sugerem que a MSC em atletas é de 1:165.000/ano e de 1:50.000 /ano em corredores e maratonistas. “O risco relativo de morte súbita durante o exercício aumenta em indivíduos predispostos, embora o risco absoluto de MSC permaneça muito baixo”, diz.
Prevenção
Morrone explica que, nos atletas de alta performance, o sistema cardiovascular, muscular e hormonal são exigidos ao máximo, por isso e fundamental uma equipe multidisciplinar em saúde para acompanhamento, preferencialmente formada com médico, fisioterapeuta, nutricionista, preparador físico etc., independente da modalidade.
“Respeitar o corpo, tempo de descanso e sono reparador são indispensáveis, para longevidade do atleta. Avaliação com médico cardiologista é fundamental para quem inicia a prática de atividade física ou quem está iniciando temporada de competições, por diminuir o risco de complicações e morte súbita”, indica.
Consulta de rotina
A rotina de avaliação cardiológica deve ser estabelecida de acordo com cada indivíduo. História e exame físico são os pilares da avaliação, considerando dois grupos: atletas abaixo de 30 anos; e acima de 30 anos.
O médico lembra que a sinceridade nesta etapa e de suma importância. “A colaboração requer que o atleta não omita informações sobre sintomas, condição médica prévia e antecedentes”, reforça.
Na rotina, devem ser incluídos exames de laboratório, eletrocardiograma, teste ergométrico e ecocardiograma. “Esses procedimentos para avaliar de forma objetiva como está o coração e sua resposta ao esforço. No caso de alterações, outros métodos diagnósticos podem ser utilizados”, fala Morrone.
Pandemia
Durante a pandemia, alguns cuidados com o coração tiveram que ser modificados em relação à morte súbita, principalmente no pós-covid. Isso porque foi observado um aumento na incidência de morte súbita durante e após pandemia de covid- 19, quase dobrando o número de relatos de atletas que foram a óbito pelo problema. “Os principais responsáveis são a miocardite e tromboses pós-covid. Sendo assim, o retorno dos atletas à atividade física e competições deve ser acompanhado de perto pelo cardiologista e preparadores”, indica Morrone.