A pandemia impossibilitou a homenagem e a programação, mas agora, mais de um ano depois, cabe a Pedro Costa inaugurar – com Vitalina Varela – uma mostra de cinema português que começa nesta quarta, 14, no Centro Cultural Banco do Brasil, e vai até 9 de agosto. Com curadoria de Pedro Henrique Ferreira, a mostra De Portugal para o Mundo será gratuita, com 28 filmes como o citado Vitalina Varela, além de O Estranho Caso de Angélica (de Manoel de Oliveira), Tabu (de Miguel Gomes), A Portuguesa (de Rita Azevedo Gomes) e outros. Vale destacar que, em janeiro deste ano, a Associação de Críticos dos EUA votou em Vitalina Varela como quarto melhor filme estrangeiro de 2020, após Collective, do húngaro Alexander Nanau, Bacurau, dos brasileiros Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e Uma Mulher Alta, do russo Kantemir Balagov.
A ideia da mostra, explica o curador, “é entender os elementos que possibilitaram a emergência de um período tão exitoso no cinema português, num diálogo com a experiência cultural e cinematográfica brasileira hoje”. A abertura, com Vitalina Varela, não poderia ser mais reveladora. Pedro Costa ganhou o respeito da crítica por filmes que não são exatamente palatáveis para o grande público. Mais que filmes, o que ele propõe para os espectadores são experimentos. Realizados com equipes mínimas e orçamentos modestos, quase sempre sem roteiro, o que cada um desses títulos estabelece é a cumplicidade do autor com seus atores.
Vão tateando, repetindo, à exaustão, as cenas. Pedro tem filmado a comunidade de Cabo Verde em Lisboa. Foi assim que encontrou Vitalina em 2013, quando filmava Cavalo Dinheiro. Ele procurava imigrantes num lugar chamado Cova da Moura. Bateu numa porta e viu-se diante de Vitalina. Por muitos anos, ela havia esperado, na antiga colônia, que o marido emigrado a chamasse para juntar-se a ele. O que recebeu foi um chamado muito mais dramático: o marido havia morrido. O cinema de Pedro procura dar voz a pessoas que o cinemão não considera interessantes.
O cinemão busca os destinos extraordinários, os super-heróis. Pedro busca as pequenas vidas, os personagens ordinários, mas de tal maneira que essas pessoas – pobres, marginalizadas -, ao se revelar, permanecem no imaginário do espectador. Ele temia ser invasivo com Vitalina, que sofrera tanto. Ela, que entendera o projeto, o incentivava a ir mais fundo. “Nos festivais, era emocionante vê-la, intuitivamente, estabelecer a diferença entre Vitalina Varela, o filme, e Vitalina, a pessoa.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Comentários estão fechados.