A pandemia gerou um verdadeiro colapso em diversos setores da economia. Infelizmente, as medidas sanitárias capazes de conter ao menos parcialmente o avanço do Sars-COV-2 e reduzir as mortes pela covid-19 exigiu a paralisação de algumas atividades, como eventos, e adaptação de outras, como o funcionamento de bares e restaurantes e mesmo do comércio em geral.
A classe dos motoristas de aplicativo também foi afetada. Mas, se por um lado houve queda no número de corridas, por outro, a profissão ajudou com que muitas pessoas não ficassem sem renda durante esse período difícil pelo qual atravessamos.
Cleber Sousa é motorista de aplicativo desde o fim de março de 2020. Ele trabalhava com eventos e, quando percebeu que a pandemia não acabaria em um ou dois meses, entendeu que precisaria de uma fonte de renda para deixar os boletos em dia.
Foi através de um amigo que já estava atuando nessa área que conheceu melhor a profissão, e então decidiu também se cadastrar em um app para atuar como motorista.
“A vida inteira trabalhei com eventos. Não sei fazer outra coisa. Como tinha Carteira Nacional de Habilitação e conhecia Pato Branco, resolvi fazer um teste. E, ainda bem, deu certo. Consigo pagar minhas contas trabalhando com isso”, revela.
Apesar de essa atividade profissional ser relativamente simples, a rotina, diz Cleber, é bastante cansativa. “Muita gente diz que é fácil porque a gente está sempre sentado dentro do veículo, mas não é bem assim. Ficamos cansados de estar em uma única posição o tempo todo. Precisamos estar sempre em alerta, focados no trânsito, sem distração, para não colocarmos a nossa vida em risco e nem a do passageiro”, comenta.
A profissão também exige planejamento e foco. “A gente precisa estabelecer uma meta de ganho diária para conseguir pagar todas as contas. Começo a trabalha às 6h e tem dias que 16h, 17h já bati a meta, mas em outros trabalho até de madrugada. As vezes não consigo alcançar a meta. Alguns dias da semana são bem difíceis, como nas terças, quando parece que todo mundo resolve andar de ônibus ou ficar em casa”, avalia.
Cleber lembra também dos riscos da profissão, como os assaltos. “Vivemos uma onda de assaltos à motoristas de aplicativo, parece até que virou moda”, comenta.
Em relação aos riscos da pandemia, por carregar diferentes passageiros todos os dias em seu veículo, o motorista diz que disponibiliza álcool em gel o tempo todo, nunca tira a máscara e pede que seus passageiros também fiquem de máscara. “Carrego no máximo três passageiros por vez e deixo o banco da frente sempre isolado. Também ando com os vidros abertos para ter circulação de ar”, informa.
Apesar de tudo isso, Cleber gosta da profissão e acredita que vai continuar trabalhando na área mesmo quando os eventos voltarem. “Não é sempre que tem evento, então acho que dá pra conciliar as duas profissões”, acredita.
Em busca de nova atividade profissional
Diferente de Cleber, que ficou sem trabalho, o mecânico Adelcio de Almeida Junior se tornou motorista de app depois que o esforço exigido pela rotina das oficinas lhe causou alguns problemas que lhe rendeu limitações físicas. Ele já estava em busca de outra atividade profissional quando a esposa chegou com uma maravilhosa notícia: estavam esperando um bebê.
“Nesse momento a responsabilidade de pai já bateu mais forte. Foi quando um amigo que já era motorista de app há algum tempo nos contou como funcionavam as corridas e falou sobre os rendimentos. Julguei que seria bom investir em um carro seminovo e entrar no ramo”, conta. No dia 29 de dezembro de 2020, Adelcio iniciou na área.
Mesmo que as corridas ajudem bastante nas despesas da casa, ele diz que o medo e a incerteza de dias ruins bate a porta todos os dias. “O fluxo de corridas oscila muito nessa época de pandemia. Os últimos dois meses foram os que menos faturei, mas ainda assim conseguimos sobreviver”, diz.
Assim como Cleber, Adelcio também acha a rotina muito exigente. “Precisamos manter o carro limpo, ter bastante responsabilidade no trânsito, ser educado com todos os passageiros, cuidar bem da manutenção do carro, desenvolver estratégias para atingir metas de faturamento maior, entre outros contratempos que acontecem no dia a dia. Isso torna o passar dos dias muito estressante. E, como já disse, a diminuição do fluxo corridas nos deixa apreensivos e ansiosos. Mas a amizade e coleguismo da maioria dos outros motoristas nos ajuda a manter a cabeça erguida e continuarmos em frente, e isso diminui o cansaço”, avalia.
Há também o estresse gerado pela pandemia, por ser uma atividade em que é necessário lidar com muita gente. Mas o motorista garante que é bem rigoroso com as medidas de precaução, como não levar nenhum passageiro no banco da frente e na utilização do álcool em spray nos bancos e maçanetas traseiras ao término de cada corrida. “Tenho dois recipientes de álcool em gel para o uso contínuo de qualquer que seja os ocupantes do veículo. Também coloco como obrigatório o uso de máscara e evito contato da mão com boca, nariz e olhos”, adverte.
Outro entrave na profissão, acredita, é que o ramo está ficando um pouco saturado e concorrido. “Isso dificulta o trabalho por conta da quantidade de aplicativos na cidade e também de motoristas. Acredito que se não forem tomadas algumas medidas restritivas para a liberação de novos apps e de novos motoristas, logo essa classe sofrerá com a falta de trabalho para cada motorista”, diz.
Mesmo diante dessas e outras dificuldades, Adelcio pretende continuar trabalhando na área. “É uma profissão que consigo desempenhar, tendo em vista minhas limitações físicas, e que permite que meus dias sejam dinâmicos, algo importante para que eu possa passar mais tempo com meu filho, que está quase a nascer”, celebra.
Novo ânimo
Juliano Cesar Czarnobai trabalhava no ramo de confecção, porém não estava satisfeito com sua profissão. Foi quando procurou o pessoal de um app para se cadastrar e se tornar um motorista, com o objetivo de fazer renda extra, e começou a trabalhar como motorista de aplicativo 15 dias antes de “estourar” a pandemia. . “Inesperadamente veio a pandemia, e decidi tornar a renda extra como renda principal. Para isso, me dediquei muito. Com a pandemia, alguns motoristas decidiram parar e outros começar”, relembra.
Juliano conta que, para ser um motorista de aplicativo, são necessários alguns requisitos, como ter carro com menos de 10 anos de uso, quatro portas e completo, além de seguro total do veículo e passageiros. Também é necessário apresentar negativa de antecedentes criminais e, claro, ser habilitado para dirigir. “O horário de trabalho é livre, cada motorista decide como trabalha”, diz.
Além dos clientes habituais do aplicativo, há a possibilidade de fechar várias parcerias e, com isso, chegar a uma excelente demanda.
“A maior vantagem é que você é dono do seu tempo, consegue decidir quanto quer faturar, tem liberdade para fazer outras coisas ou trabalhar em outra atividade e só atender o aplicativo nas horas vagas”, ressalta.
Já sobre as desvantagens, Juliano destaca risco de assalto “embora em nossa região isso é menos perigoso”, e a carga horária: “caso você queira faturar bastante, ela é bem puxada”.
Contudo, a possibilidade de ser motorista de aplicativo veio um uma excelente hora para Juliano, Cleber, Adelcio e tantas outras pessoas. “Estava muito desanimado com as confecções e achei que o aplicativo seria apenas uma pequena fonte de renda pra nos ajudar, porém, pela minha dedicação e empenho em fazer tudo com excelência, virou principal renda e nos ajudou muito a sairmos da crise. Graças ao aplicativo, estamos conseguindo crescer”, comemora Juliano.