Mucormicose: o que é e como evitar o fungo negro

Após o aumento desenfreado de casos de mucormicose registrados na Índia, em pacientes que tiveram covid-19, o mundo ligou um alerta para verificar a possibilidade de a situação se expandir e se repetir em outros países que passam por dificuldades no combate a pandemia.

Com ameaça de uma terceira onda, o Brasil cada vez mais perto dos 500 mil óbitos e a demora da chegada de vacinas para toda a população, a preocupação se tornou a possibilidade da mucormicose ser um problema também em nosso país, agravando ainda mais a segurança sanitária da população infectada pelo Sars-COV-2.

No país do Sudoeste Asiático, a infecção provocada pelo fungo já acometeu quase nove mil pacientes com coronavírus, deixando sequelas devastadoras após alguns deles precisarem de cirurgias para retirar partes do corpo necrosadas, evitando que o fungo se espalhasse para outras áreas. O quadro infeccioso tem taxa de mortalidade de 50%.

Casos de mucormicose no Brasil

Por mais que a situação esteja preocupante na Índia, especialistas afirmam que, mesmo com os casos registrados no Brasil, não há motivo para pensar que o cenário vá se repetir por aqui.

Esse ano, o Brasil já registrou 29 casos de pacientes com o fungo negro, comparado com 36 casos registrados em todo o ano de 2020. Os dados são baseados em notificações feitas pelos Estados e enviados ao Ministério da Saúde. Mas, mesmo com o aumento de casos coincidindo com a piora na pandemia da covid-19, ainda não há comprovação que estejam relacionadas. No momento, há casos sob investigação em cinco estados brasileiros para detectar qualquer relação entre as doenças.

O que é o fungo negro

Segundo o médico infectologista Flávio de Queiroz Telles, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor associado de infectologia do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a mucormicose é uma infecção fúngica grave, causada por fungos classificados como mucorales. Ele explica que essa doença “invade vasos sanguíneos das regiões ou órgãos acometidos e, quando essas regiões ficam sem sangue, ficam necróticas (pretas), daí vem o nome fungo negro”.

Telles alerta que os sintomas da mucormicose dependem do local em qye ele se instalou. “Se for na face, causa dor, protusão do globo ocular, perda da visão, obstrução da respiração, febre e necrose. Se atingir o cérebro, causa vários sintomas neurológicos, convulsões, dor de cabeça incontrolável, alterações mentais e motoras.”

Mucormicose é estudada desde o século 19

O motivo de não haver tanta preocupação em relação ao aumento de casos da mucormicose no Brasil se deve ao fato do fungo negro ser conhecido e estudado desde o século 19, fazendo com que os profissionais da saúde já saibam como detectar e tratar o problema.

Os fungos circulam por diversos lugares do mundo há bastante tempo, e muitos deles podem ser encontrados dentro do organismo humano, como nas vias respiratórias e no sistema digestivo.

Geralmente esses micro-organismos não causam grandes problemas ao ser humano, mas quando ocorre algum tipo de desequilíbrio no organismo ou no ambiente, como o uso de alguns medicamentos, disfunções no sistema imune ou condição sanitária ruim, eles podem sair de controle e causar danos.

O infectologista afirma que esses agentes geralmente acometem pessoas com fatores de risco, como diabetes descontrolada e câncer, ser portador de doenças que requerem transplante de medula óssea e órgãos sólidos (rim ou fígado), ou fazer uso de altas doses de corticoides, que possuem ação anti-inflamatória, podem facilitar a contaminação.

Por que a Índia está passando por alta taxa de contaminação de fungos?

O aumento de casos na Índia, por exemplo, pode ser explicado pelas temperaturas elevadas, com umidade alta e a situação de saúde de cada um.

A Índia é um dos países com mais casos de diabetes no mundo, passando por um descontrole na pandemia, com muitos pacientes fazendo tratamento com corticoides e, em muitos desses locais, a condição sanitária dos hospitais é precária. Tudo isso explica o aumento de pacientes com mucormicose após contrair a covid-19.

Como os fungos entram no organismo?

Depende do tipo de cada fungo. Alguns podem ser aspirados ou entrar em contato com pacientes através dos tubos e cateteres que ficam nas veias durante o internamento. Outros podem se beneficiar de algum desequilíbrio na microbiota do sistema digestivo e invadir a circulação sanguínea.

Cada um pode afetar uma parte do corpo. No caso da mucormicose, ele costuma entrar pelo nariz e invade os vasos sanguíneos do rosto, criando manchas escuras, por isso ficou popularmente conhecido como “fungo negro”.

Como evitar

Para prevenir a contaminação de fungos, as equipes de saúde devem tomar cuidados com a higiene pessoal, principalmente antes de mexer em cateteres ou dispositivos próximos aos pacientes.

Outra medida tomada por hospitais com alas que recebem pacientes com o sistema imune comprometido é a instalação de filtros Hepa nos sistemas de ventilação, capaz de reter partículas muito pequenas, evitando a entrada de esporos de fungos.

Manter os cuidados com a saúde também é importante, principalmente em pacientes que já tem comorbidades, é importante manter as doenças crônicas sob controle. 

Outra forma de evitar o aparecimento de fungos é prestar atenção no ambiente. Lugares fechados e úmidos são mais propensos ao aparecimento de micro-organismos, o acúmulo de água e alimentos em estado de decomposição também formam ambientes propícios para isso, é importante prestar atenção nas paredes, geladeiras, banheiros e despensa.

Aline Vezoli com Agências, supervisão de Mariana Salles.

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