Após um período de 18 meses marcado por recordes de temperatura, o fenômeno climático El Niño está previsto para ceder lugar ao La Niña ainda neste ano. A Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) prevê a transição entre julho e setembro, baseada em uma série de modelos estatístico-climáticos.
El Niño, que se manifesta em intervalos de dois a sete anos, é caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico na região do Equador. Esse fenômeno perturba os padrões normais de correntes marítimas e massas de ar, causando impactos climáticos variados globalmente. “El Niño pode intensificar chuvas e secas em locais específicos, dependendo de sua força”, explica Michelle L’Heureux, cientista do Climate Prediction Center.
Recentemente, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) do Brasil relatou que, embora o El Niño esteja classificado como forte, espera-se que sua intensidade diminua para moderada ou fraca nos próximos meses. Há indícios da formação do La Niña no segundo semestre, que pode influenciar decisões governamentais, especialmente no setor agrícola.
O La Niña, fenômeno oposto ao El Niño, se caracteriza pelo resfriamento das águas do Pacífico e pela redução das temperaturas globais. No Brasil, ele geralmente provoca chuvas intensas nas regiões Norte e Nordeste, enquanto no Sul, pode resultar em temperaturas elevadas e seca. “Durante o outono-inverno e primavera, o La Niña intensifica as ondas de frio. Porém, também pode acarretar em estiagens severas e ondas de calor em partes da América do Sul”, comenta Estael Sias, meteorologista da MetSul.
Segundo a NOAA, os efeitos do El Niño devem persistir até maio, seguidos por um período de neutralidade climática antes do surgimento do La Niña. Vale ressaltar que esses eventos não necessariamente ocorrem em sequência imediata.
Sob a influência do El Niño, o ano de 2023 registrou temperaturas extremas, sendo confirmado como o mais quente desde o início dos registros, de acordo com o observatório europeu Copernicus. A média anual superou em 1,48 ºC os níveis pré-industriais (meados do século 19), ultrapassando o limite de 1,5ºC estabelecido pelo Acordo de Paris.
Além do calor recorde, o El Niño foi associado a eventos extremos, como ciclones extratropicais no Sul do Brasil, secas e incêndios na Amazônia, além de ondas de calor em várias regiões do país. A transição para o La Niña pode trazer um novo conjunto de desafios climáticos, exigindo preparação e adaptação contínua por parte de governos e comunidades.
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