Dirceu Antonio Ruaro
Prezados leitores, no texto da semana passada introduzi o tema da pré-adolescência de nossos filhos como sendo uma fase maravilhosa e, ao mesmo tempo, apavorante. Considerei que é tanto maravilhosa quanto apavorante, não só para os pais e educadores como também o é para os próprios pré-adolescentes.
Como deixamos entrever no texto, a infância sofre uma ruptura e, repentinamente, num piscar de olhos os pais percebem que os seus “pequenos” já estão “grandinhos” e pensam e agem de modo diferente de como agiam dias atrás.
Parece que estamos diante de ex-crianças que nos assustam, nos desafiam a entender uma nova fase para a qual nem sempre estamos preparados. Constatamos, na verdade, que nossos filhos mudaram, não só fisicamente, mas em tantos aspectos que pensamos que não daremos “conta” do que vem pela frente.
Mudanças e desafios povoam nossos sonos, pois num curto espaço de tempo, nossos príncipes e princesas se tornaram reis e rainhas impiedosos, insatisfeitos, reclamões, ditando leis para todos, inclusive para os pais.
De fato, estamos diante de mudanças comportamentais comprometedoras. Irritação, reclamações excessivas, transformações no modo de pensar e agir, fazem parte de uma rotina nova e estressante. A meiguice, a aceitação das coisas deu lugar, de repente, à impertinência, à rebeldia, a uma nova maneira de olhar e compreender o mundo e, especialmente, quem os educa.
A casa, refúgio sagrado para o descanso, experimenta agora um “barulho” continuo, de vozes altas, sons altos, música alta, mudanças que alteram a paz da casa. Instala-se, uma fase conturbada.
É bom saber que, em maior ou menor escala, as mudanças e transformações ocorrerão em todas as casas, com todos os filhos e para todos os pais. Não é privilégio do vizinho.
O interessante é aprender com essa nova fase, que é universal e inevitável. Estar preparado parado como pai e mãe para esse período de mudanças físicas, hormonais e comportamentais, esse período de emoções incontroladas que marcam a entrada do (a) filho (a) na vida adulta ajudando com a maior carga possível de “paciência, tolerância e ternura”, pois também você, pai ou mãe passou por isso.
É uma fase em que os pais e educadores precisam entender os novos contextos sociais, familiares, políticos, educacionais pelos quais estamos todos passando, pois as transformações e mudanças surgem num piscar de olhos e rapidamente mudam a maneira de pensar e agir das pessoas.
Ora, o ser humano está em constante mudança e, nessa fase, é de grande importância oferecer aos pré-adolescentes experiências positivas de vivência em família, com os amigos, na escola, no clube, no lazer.
Estar junto, participar da vida do pré-adolescente, mesmo que ele queira afastar-se, oferecer oportunidades de estar junto, pois a construção de um novo comportamento sofre as influências da cultura, da família e dos companheiros.
Nesse sentindo é de fundamental importância que os pais e educadores entendam que a autoestima do adolescente é fundamental para a construção de um adulto saudável e que essa construção se dá desde a infância na relação com as outras pessoas e que depende de atitudes e valores vividas na família e na escola.
Aprender a lidar com os desafios que se apresentarem no dia-a-dia da família vai exigir antes de tudo, o exercício da paciência (não da paciência que ignora os desafios e não toma providências). O exercício da paciência consciente de como e quando tomar atitude para ajudar o pré-adolescente entender um pouco o que está se passando consigo mesmo.
Amor e compreensão serão exigências imperativas na rotina familiar. Agir com amorosidade, compreensão e, muitíssimas vezes explicação e aceitação de conflitos que nem passavam pela cabeça dos pais e dos pré-adolescentes, que iriam enfrentar.
Mais, ter a consciência clara de que não existe uma receita, ou como costumo dizer, as “cinco dicas infalíveis” para educar um pré-adolescente. A complexidade é situacional e contextual, ou seja, nada é igual numa e noutra família. Cada família tem sua situação, seu contexto, sua rotina, sua vida. Pode, é claro, haver semelhanças, mas jamais serão iguais.
Não culpe o celular, o computador, as amizades. Busque antes, compreender, junto com o(a) adolescente a enxurrada de novas emoções que ele/ela está vivendo. Busquem juntos uma saída. Dialoguem, troquem ideias, façam planos, ou seja, continuem a ser uma família que se cuida, que se ama, que se respeita em toda e qualquer fase da vida, pense nisso, enquanto lhe desejo boa semana.
Doutor em Educação pela UNICAMP, Psicopedagogo Clínico-Institucional e Pró-Reitor Acadêmico UNIMATER