
Um levantamento publicado no American Journal of Preventive Medicine revelou um dado alarmante: mais de 60% das mortes por hipertensão relacionadas ao consumo abusivo de álcool ocorrem entre mulheres. O estudo, realizado nos Estados Unidos, analisou a mortalidade por hipertensão atribuível ao álcool entre 2016 e 2021 e apontou um aumento expressivo nesses óbitos, sobretudo no público feminino.
Os pesquisadores identificaram um crescimento de 41,5% nas mortes por hipertensão no período, passando de 86.396 para 122.234 por ano. Já os óbitos diretamente atribuídos ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas saltaram de 13.941 para 21.137, uma alta de 51,6%.
Impactos do álcool em pessoas hipertensas
De acordo com o cardiologista Israel Guilharde, do Hospital Municipal Iris Rezende Machado (HMAP), em Aparecida de Goiânia, o consumo exagerado de álcool pode agravar significativamente a hipertensão. Isso acontece porque a bebida acelera o sistema nervoso, aumentando os batimentos cardíacos e contraindo os vasos sanguíneos, o que eleva a pressão arterial.
Além disso, o álcool reduz a flexibilidade dos vasos, dificulta o fluxo sanguíneo e pode diminuir a eficácia dos medicamentos anti-hipertensivos. O uso frequente também favorece ganho de peso, acúmulo de gordura visceral e distúrbios do sono, fatores que agravam o quadro clínico.
Por que as mulheres são mais afetadas?
Segundo especialistas, a diferença está tanto na biologia quanto na cultura. O organismo feminino metaboliza o álcool de forma distinta, o que resulta em concentrações mais altas no sangue, mesmo quando a quantidade ingerida é igual à dos homens. Além disso, nas últimas décadas, houve um aumento no consumo de álcool entre mulheres, antes mais associado ao público masculino.
Situação no Brasil
Embora a pesquisa tenha analisado a população dos EUA, o alerta também vale para o Brasil. Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) mostram que, entre 2010 e 2019, o consumo per capita caiu de 8,6 para 7,7 litros de álcool puro por ano. Mesmo assim, os números permanecem acima da média mundial, que foi de 5,5 litros em 2019, segundo a OMS.
Em 2022, foram registrados 33 óbitos atribuíveis ao álcool por 100 mil habitantes no país, dos quais 3% relacionados à hipertensão. Mulheres negras apresentaram maior taxa de mortalidade: 3,2 óbitos por 100 mil, contra 2,2 entre pardas e 1,4 entre brancas, conforme o DataSUS.
Consumo seguro e recomendações médicas
A OMS define como dose padrão cerca de 10 gramas de álcool puro, equivalente a uma lata de cerveja (350 ml) ou uma taça pequena de vinho (150 ml). Para hipertensos, médicos recomendam moderação: no máximo uma dose diária para mulheres e duas para homens, embora a abstinência seja considerada o caminho mais seguro.
O cardiologista Elzo Mattar, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, reforça que pacientes com controle difícil da pressão ou doenças cardiovasculares devem reduzir ao máximo o consumo de álcool. “Ocasiões com excesso podem desencadear arritmias e aumentar o risco de AVC”, alerta.
Fonte: Agência Einstein
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