Adriana, de 49 anos, é bióloga formada pela Universidade de São Paulo (USP) e com mestrado em bioquímica pela Unicamp. Trabalhou na multinacional Monsanto, na área de transformação genética de plantas, e passou os últimos quatro anos em Saint Louis, nos Estados Unidos, trabalhando com outras culturas agrícolas. No ano passado, recebeu proposta para liderar a área de pesquisa e desenvolvimento do CTC e voltou ao Brasil com o desafio de desenvolver tecnologia capaz de melhorar a eficiência dos canaviais.
Antes de Adriana, a engenheira de alimentos Silvia, de 55 anos, também havia sido convidada para integrar a equipe do centro de tecnologia e liderar a área de regulação das novas descobertas. Com mais de 15 anos de experiência e mestre em agronegócio pela FGV, ela teve passagens pela Monsanto e Dow, trabalhando com outras culturas agrícolas, como soja, milho e algodão.
Agora, as duas vão trabalhar em parceria no CTC: uma desenvolvendo variedades geneticamente modificadas e outra trabalhando para a aprovação das tecnologias nos órgãos responsáveis. E há muito trabalho pela frente. Ao contrário do que ocorreu com a soja e o milho, a cana-de-açúcar não apresentou o mesmo aumento de produtividade e, em alguns casos, houve até a regressão por causa da mecanização, diz Adriana.
Produtividade
“O papel da minha área é elevar essa produtividade da cana para ter um retorno maior da área plantada.” Isso só será possível com o melhoramento genético convencional e variedades geneticamente modificadas. Na avaliação de Adriana, apesar de o setor produtivo ter muita inovação, como a mecanização, a questão da biotecnologia da cana ficou atrasada em relação a outras culturas que são mais globais.
Uma das metas da bióloga é criar variedades que ainda não existem para controle de doenças. Atualmente, o CTC tem seis variedades para o controle de pragas. Em maio deste ano, as duas profissionais conseguiram aprovar uma nova variedade de cana-de-açúcar geneticamente modificada para combater a broca da cana, a mais importante praga que infesta os canaviais do País e causa prejuízos estimados em R$ 5 bilhões por ano.
“Com essa aprovação, o CTC passa a ter um portfólio de variedades transgênicas resistentes à broca que cobre todo o território da cana no País, adaptado às lavouras dos variados climas e solos”, diz Silvia. “Todo produto novo passa por novos ensaios para averiguar se realmente funcionam e se são seguros para serem consumidos.” O trabalho é submetido aos órgãos regulatórios e ambientais e também enviado para países que importam do Brasil.
Mulheres
Apesar do ambiente predominantemente masculino do setor sucroalcooleiro, Adriana e Silvia não se sentem intimidadas. Hoje, 65% dos funcionários do CTC são homens, e a interlocução com o setor é basicamente feita com executivos, diz Silvia. Na área de ciência, que inclui o Departamento Regulatório e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), são 161 funcionários, sendo 50% mulheres. “Aqui não sinto nenhum tratamento diferente por ser mulher em relação a outros líderes da empresa”, diz Adriana.
Mas, em empresas anteriores, ela percebia a desigualdade e a falta de mulheres em posição de liderança. “Participei de inúmeras reuniões para tomada de decisões em que eu era a única mulher entre 15 homens.” A questão incomodava a bióloga, que discutia o assunto com homens da família em posição de liderança e eles sempre argumentavam que escolhiam os profissionais por competência.
“Quando perguntava quantas mulheres tinham em cargos de liderança, ouvia que nenhuma. Ou seja, não havia nenhuma mulher competente para assumir a liderança de alguma área?”, questionava. “Eles realmente não viam problema nisso.”
Para Adriana, ter duas mulheres à frente da tecnologia do CTC tem um significado muito importante e representa uma inspiração para outras. “Não somos só líderes da ciência, mas do negócio do CTC. Somos responsáveis pela tomada de decisões que afetam o dia a dia e o futuro do negócio.”
Bolsa
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) é uma empresa de biotecnologia e inovação e uma das líderes mundiais em ciência da cana-de-açúcar. Detém um dos maiores bancos de germoplasma (material genético de uma espécie) da cana no mundo, com mais de 4 mil variedades.
Atualmente, tem dois laboratórios: um em Piracicaba (SP) e outro em Saint Louis (EUA). Nos dois locais, os cientistas desenvolvem trabalhos em transgenia e edição genética. O portfólio da companhia reúne variedades de cana de alta produtividade e resistentes a doenças e pragas.
Criado em 1969, o CTC tem entre seus principais sócios a Copersucar, Raízen, São Martinho e o braço de participações do BNDES, o BNDESPar. Em outubro do ano passado, a empresa decidiu olhar novas oportunidades de crescimento e fez um pedido de registro para sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). O objetivo era buscar recursos para investir em projetos de sementes sintéticas, em seleção genômica e em novos negócios.
Em janeiro, no entanto, com a deterioração do mercado, decidiu adiar a operação. Retomou em fevereiro e, no final de abril, interrompeu novamente o processo.
A empresa não desistiu de abrir o capital, mas vai aguardar o melhor momento para retomar o processo. Inicialmente, a ideia era fazer uma oferta primária (dinheiro que entra no caixa da empresa) e uma secundária (dinheiro que vai para os acionistas que vendem seus papéis). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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