Nossa quarta mulher marcante a ser homenageada neste mês de março de 2024, é Lise Meitner (1878-1968), a qual notabilizou-se em física, radioatividade e física nuclear, atividades incomuns para uma mulher da sua época, um tempo onde essas atividades eram exercidas exclusivamente por homens. Trabalhou ao lado de grandes expoentes, tais como Max Planck e Otto Hahn. Com a ascensão do nazismo na Alemanha, Lise Meitner foi obrigada a fugir do país e se refugiar na Suécia, onde o preconceito para com as mulheres que estavam atuando no campo cientifico, era muito grande. Não esmoreceu diante das dificuldades, coube a ela descobrir a fissão nuclear, que em termos simples é a divisão do átomo em outras partes, ocasionando uma enorme liberação de energia; tal descoberta correu o mundo e em pouco tempo, todos saberiam que o mundo não seria mais o mesmo.
Pelo seu talento, dedicação e contribuição para o mundo cientifico, Lise Meitner foi agraciada com vários prêmios, foi também a primeira mulher a ganhar o prêmio Enrico Fermi (um dos principais nomes do Projeto Manhattan). Lisa enfrentou enormes barreiras para chegar onde chegou, ser mulher e principalmente judia, fez com que muitas de suas contribuições fossem endereçadas a seus professores, problema esse que a história atual através de fontes abalizadas está dando uma guinada importante e mostrando toda a capacidade imaginativa, intelectual e cientifica de Lise Meitner. Hoje é sabido que uma profunda injustiça foi cometida para com ela, ou seja, foi-lhe negado o Prêmio Nobel, mas isso em nada tira o seu brilho; estudos recentes comprovam que Lise Meitner foi pioneira ao calcular com precisão, a construção de uma bomba atômica, uma arma terrível demais.
Lisa Meitner, foi praticamente relegada ao esquecimento em Los Alamos (embora hoje se saiba que ela foi convidada pelo governo americano a participar do projeto, mas por ser de índole pacifista nunca aceitou essa missão), por ocasião do audacioso e macabro projeto de construção das primeiras bombas atômicas, isso porque o Projeto Manhattan foi um campo onde as mulheres não tinham voz e nem vez, a não ser em serviços cotidianos, que não exigiam nenhuma habilidade intelectual. Uma participação sua num projeto desses simplesmente não condizia com a sua pessoa, ter as mãos manchadas de sangue para todo o sempre, não cabia em sua estrutura de mulher dedicada à ciência, talvez por isso é que contra ela de modo velado mas insistente, é que lhe foram tirados muitos créditos e dados aos seus companheiros de trabalho, Lisa passou a vida buscando seu lugar na vida.
Passados já tantos anos da morte Lise Meitner, a questão nuclear está pairando sobre o Planeta de modo sombrio e perigoso, um campo que após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, aumentou de modo assustador e com o emprego de bilhões de dólares para se desenvolverem novas armas nucleares e com poder de destruição inimagináveis. A história da fissão nuclear culminando com a fabricação da primeira bomba é recheada de falta de escrúpulos pelos seus propagadores, hoje infelizmente essa indústria criminosa está direcionada à privatização e há grupos poderosos fazendo de tudo para que haja um conflito atômico em qualquer parte do mundo. Uma guerra assim nunca será vencida por nenhum lado, todos vão perder, a vida em todas as suas esferas irá morrer, resumindo: a energia nuclear sempre trouxe enormes riscos e perigos para a Terra.
Bioeticamente, a figura de Lise Meitner merece ser revisitada em todos os sentidos, a mulher que com o pouco que tinha nas mãos conseguiu feitos admiráveis que estão aí até hoje, a persistência numa época em que as mulheres eram vistas com muito ceticismo só prova ainda mais o seu valor. Meitner jamais quis usar o seu conhecimento para destruir a vida, ao contrário teve em mente colocar suas descobertas para um uso pacifico e comum entre todos. Suas descobertas no campo da física tiveram consequências para ambos os lados, sendo assim, abominar essas armas de destruição em massa é hoje um novo imperativo categórico, aplaudir o bom uso dessa energia para fins somente pacíficos, entre os quais o campo da saúde; descobrir hoje Lise Meitner, é tomar conhecimento de alguém que esteve muito a frente do seu tempo e não teve medo, nem dos homens, nem do Estado
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