Mulheres marcantes: Maria Quitéria

            Em dias sombrios, especialmente os que vivemos agora, onde tudo parece conspirar para o quanto pior melhor, precisamos ter a ousadia e a coragem para vermos com maior clareza quantas coisas bonitas estão acontecendo no mundo e praticamente ninguém tem a coragem suficiente para mencioná-las, não podemos nos conformar com um mundo que prega todos os dias que se deve atacar, destruir, matar, arrasar e por aí afora, nessa pregação extremamente autoritária e destituída de razão, nota-se que ela só gera outras crises ainda maiores e que mal sabemos as consequências futuras. Nesse intenso fogo cruzado, seus efeitos perversos, onde há ares que dão a sensação de mais liberdade, sabemos que isso não é verdade, precisamos aprender também com as mulheres, elas são parte integrante crucial nessa caminhada e se queremos nos salvar, contemos com elas.

            Num mundo onde a falta de leitura é algo catastrófico e também a última moda dos moralistas de plantão, em que pese haverem publicações disponíveis nos principais meios digitais, que segundo alguns seria a salvação da espécie humana, notamos que há uma contribuição profunda de mulheres brilhantes, capazes, que enxergam coisas que os homens raramente ou nunca conseguem ver. Dentre tantas mulheres competentes que aí estão e das que fizeram parte da nossa história, vamos trazer Maria Quitéria de Jesus, ou simplesmente como a conhecemos: Maria Quitéria (1.792-1853), uma nordestina notável, que atuou de modo invejável para o engrandecimento do nosso amado país, a história nos mostra que ela foi a primeira mulher militar do Brasil e para defender sua pátria, se vestiu com roupas masculinas; uma mulher que não se deixou vencer pelo espaço e as opiniões.

            Sua vida, ainda muito pouco conhecida e devidamente valorizada é cheia de altos e baixos, isto é, ela pouco difere das tantas Marias Quitérias de hoje em solo brasileiro, perdeu sua mãe ainda muito cedo, segundo muitas fontes dizem que ela era analfabeta, entretanto tinha outras tantas qualidades que o futuro tratou de demonstrar muito bem; Maria Quitéria foi testemunha viva de um  novo mundo que estava sendo criado, onde não mais só os homens seriam os principais protagonistas, podemos imaginar os quantos impasses, as muitas dúvidas, preconceitos, certezas, incertezas, encantos e desencantos que ela vivenciou na carne, daqueles momentos únicos da história brasileira. Uma voluntária disfarçada em meio aos homens que eram os detentores da força, da astúcia e das armadilhas, para defender a sua terra, o seu chão; Maria Quitéria abriu muitas portas.

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            Maria Quitéria, foi apenas a pequena ponta do iceberg, uma pioneira, um exemplo para tantas outras mulheres, num tempo em que os homens que com seus achismos dominavam as rodas de discussão e decisão, não imaginavam quantas Marias Quitérias iriam surgir no futuro, o mundo atual com todo o seu aparato tecnológico, acreditou que este poderia lhe dar paz, sucesso e realização, o mundo atual rapidamente tratou de eliminar do seu trajeto modelos valiosos de antes, o mundo atual se embrenhou no labirinto da ilusão, nas promessas salvíficas das máquinas, daquilo que lhe promete o menor esforço possível, para dar então espaço ao hobby, sem saber muito bem o que isso significa. Os especuladores da alta modernidade, negam aos outros toda e qualquer esperança, são obtusos em suas convicções, perversos em suas decisões, pouco confiáveis em sua fé.

            Bioeticamente, Maria Quitéria, mulher brasileira, mulher audaciosa, corajosa, uma força da diferença, teve com todas as suas limitações, o seu modo de ser e agir na sociedade da época, contribuiu  para uma grande causa, que continua ainda hoje clamando por melhorias, afinal de contas a dita “independência” brasileira nunca se consumou de fato. No atual mundo complexo das relações, trazer Maria Quitéria para o conhecimento da geração atual e futura exige esforço e muita coragem. Pensemos nas tantas Marias Quitérias que morreram nos campos de batalhas diários do nosso Brasil, o número com certeza é incalculável, heroínas anônimas que nunca terão o seu nome gravado na história, mas nem por isso menos importantes; nosso amado Brasil precisa sim fazer as pazes com o seu passado, com as suas vítimas, com as suas Marias Quitérias; sem isso não há paz.

 Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com

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