Bolsonaro ‘mudou tom porque está na defensiva’, afirma Ricupero

Para ex-ministro Rubens Ricupero, o único crédito do governo Bolsonaro é ter elevado o desmatamento nos

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dois últimos anos. Em entrevista ao Estadão, Ricupero falou sobre o discurso do presidente na Cúpula do Clima.

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Como o sr. avalia o discurso do presidente na cúpula do clima?

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Chama a atenção a mudança de discurso. Agora, Bolsonaro se declara defensor do meio ambiente.

Por que mudou?

Atribuo isso ao fato de ele estar em uma situação defensiva.

O sr. acredita que os demais países acreditaram no discurso?

Não. Nem interna e nem externamente. O discurso seria novo se ele anunciasse alguma mudança. Mas ele não anunciou nada. Não há um cronograma de desmatamento, mudança do ministro do Meio Ambiente, ele não apresenta nada de novo. É uma mudança que comparo ao uso de máscara: um dia está usando a proteção, no outro está provocando aglomeração. Ou seja, não há mudança na prática.

O presidente poderia ter apresentado ações concretas, em vez de promessas?

Ele pediu recurso, mas não explicou por que não usar os R$ 2,9 bi do Fundo Amazônia que estão parados no BNDES há quase dois anos e meio por culpa do governo. Faltaram anúncios concretos, mudanças de política e uma explicação sobre o Fundo.

Em seu discurso, Bolsonaro ignorou todo o desmonte da área ambiental em seu governo. Ele poderia ter feito um mea-culpa?

Eu não imagino que ele faria isso. E tem mais: as partes do discurso, assim como da carta (a Biden), se referem a conquistas de governos anteriores. Ele cita a queda do desmatamento na Amazônia que ocorreu na época em que a Marina Silva era ministra (do Meio Ambiente), portanto no governo do PT. O governo dele não tem crédito nenhum, só o aumento do desmatamento no primeiro e no segundo ano. E o desmatamento da Amazônia em março, que foi o pior do mês em 10 anos.

O discurso na cúpula muda a imagem do Brasil?

Em nada. Ao contrário, é até um desperdício de oportunidade, porque depois da derrota de Donald Trump essa foi a melhor oportunidade que o governo brasileiro tinha de repensar suas políticas e apresentar alguma nova posição num foro com atenção mundial.

O que achou do presidente condicionar a preservação ao repasse estrangeiro?

É uma desculpa para não fazer nada. Se fosse um problema de dinheiro, faltaria explicar à opinião pública sobre os quase R$ 3 bilhões parados. É um discurso mentiroso. Todos sabem que o que eles objetaram ao Fundo Amazônia era a presença de povos indígenas e da sociedades civil no Conselho que governa o Fundo.

Se o Brasil cumprir com o que prometeu, pode melhorar sua imagem?

Teria condições até Glasgow (COP26). Mas, para isso, seria indispensável mudar a política. Dar mais recursos ao ministério e combater efetivamente o desmatamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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