Fernando Ringel*
O Plano Real completou 29 anos no último dia 1º. Graças a ele, o supermercado deixou de ser local de peregrinação diária, onde todo mundo gastava o que tinha porque, na loucura da super inflação, os preços aumentavam o tempo todo e economizar dinheiro era um péssimo negócio.
Enfim, todo mundo quer “ser pai de filho bonito”, mas o plano foi implementado no mandato do presidente Itamar Franco (MDB). Sorte de cada um dos 203 milhões de brasileiros, segundo dados divulgados pelo Censo 2022, embora todo esse pessoal insista em se dividir entre os que comemoram obra inaugurada pelo Lula, Bolsonaro e até, para os muito do contra, os que comemoram obras inauguradas por Michel Temer. Porém, os políticos são transitórios e as obras são de todos nós.
Um país é uma obra coletiva
É inegável que o agronegócio puxa a balança comercial do país para o alto, mas ele faz isso sozinho? E o Plano Safra? Pois é, assim como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dos tempos de Getúlio Vargas, o Plano Safra vem do passado, criado no governo Lula, em 2003, para disponibilizar acesso a linhas de crédito diferenciadas, com menores taxas e mais prazo. Passados 20 anos, todo mundo sabe que o agro não morre de amores por Lula, e vice-versa, o que provavelmente influenciou na liberação de R$ 364,22 bilhões para o setor até junho de 2024. É aquilo: se não dá para ser amigo, nada melhor do que o dinheiro para fazer a convivência ser a melhor possível, não é?
Porém, sempre surge gente dizendo que “o mercado privado também precisa do Estado”, enquanto outros defendem que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) produz grãos sem agredir a natureza, respondidos por quem aponta que a produção do MST representa 0,000000001% do que o agro produz. Enfim, o “blá-blá-blá” de sempre, enquanto os buracos nas ruas continuam sacolejando carros e motos por este país colorido e calorento.
No caso do agro, além de abastecer o mercado nacional, o dinheiro público retorna por meio de impostos, por exemplo, nas exportações de carne e grãos para outros países. Sem falar nos empregos e nos serviços brasileiros necessários para suas atividades. Claro que tudo sempre pode ser melhorado, mas… quem deseja colaborar com o debate político olha por cima das picuinhas e fofocas partidárias. Existe algo maior, chamado Brasil, e não interessa o que cada um faz, desde que todos produzam e isso retorne à população, seja por meio de serviços públicos ou em melhores condições para o empreendedor. Afinal, já que o dinheiro é duro de ser ganho, é justo que ele seja gasto da melhor forma possível, não é?
Aliás, esse é o ponto fundamental na tal Reforma Tributária, que muitos acusam de estar sendo discutida com muita pressa, mas que está na fila há somente… três décadas! Não importa quem faça, desde que faça. É como no caso de Jair Bolsonaro: pode-se gostar ou não gostar dele, mas foi em seu governo que o Pix foi implementado e facilitou a vida de todo mundo. Outro exemplo é o anúncio de Lula sobre a Ferrovia Oeste-Leste, ligando Goiás (o coração do Agro) à Bahia (o mar/exportações) e que pretende baratear o transporte de bens. Como comprova a morte de Siqueira Campos (PL), no último dia 4, as pessoas passam, mas as obras ficam: foi ex-governador, criador do Tocantins e fundador de Palmas.
É só refletir: quem são as pessoas que dão nome para as ruas e escolas? Há exceções, mas são brasileiros que, cada um do seu jeito, fizeram alguma coisa pelo futuro do país.
*Fernando Ringel
Jornalista
Mestre em Educação
Professor universitário
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