Último dia do ano de 2024, com certeza um momento marcante em nossas existências, uma ocasião propicia para se rever todos os nossos atos, gestos, conquistas e também as desventuras, teve de tudo um pouco, seja a nível nacional, seja a nível global, pois tudo está ligado a tudo, em tempos de informações quase mais rápidas do que a velocidade da luz, ninguém fica incólume aos inúmeros eventos que afetaram diretamente e indiretamente, milhões de pessoas. A transformação está em toda parte, ora mais, ora menos, a maioria ainda não se deu conta e aqueles que já perceberam a sua presença sentem dificuldade em lidar com ela, afinal ela vem causando um impacto fora dos padrões normais conhecidos até hoje; fala-se de tudo e de nada ao mesmo tempo nas redes sociais, o mundo que ora se desenha perante nós, poderá então ou nos salvar ou nos destruir.
No primeiro semestre de 2024, um evento devastador no sul do Brasil, uma enchente de proporções diluvianas atingiu em cheio o Estado do Rio Grande do Sul, de uma maneira jamais imaginada, as consequências todos nós de alguma maneira ainda estamos enfrentando, embora alguns tentem colocar muitos panos quentes sobre a extensão desse fato brutal. As causas para tal acontecimento foram múltiplas, politicas públicas totalmente desconectadas com o tempo e o espaço, um avassalador desmonte do meio ambiente em geral, a preocupação única e exclusiva da expansão das cidades, não se tendo o mínimo de respeito com as margens dos rios, no final quem mais sofreu com a tragédia e a insanidade da busca pelo lucro a qualquer preço, foi a população, os de sempre, os mais desprezados em todos os termos; entretanto vimos como nunca uma corrente do bem.
Não menos cruel, foram as queimadas em quase todo o Brasil, a grande maioria delas sendo de caráter criminoso, praticado por mãos humanas, como no caso das enchentes, as perdas foram imensas tanto para os humanos, quanto para a vida extra-humana, mais uma vez o ser humano tocando e destruindo tudo por onde passa, esse ser humano tendo uma visão muito distorcida do cenário atual não mede em nada as suas consequências de seus atos. Solos mortos, fauna morta, décadas para haver uma recomposição aceitável e uma vida mais ou menos equilibrada, nossa mortalidade é permeada por uma falsa crença na imortalidade, de que somos invencíveis, que nada pode nos deter; o sonho de sermos como Deus tem tomado ares de muita audácia, o que pode lá na frente nos trazer dissabores, como sempre nunca estamos devidamente preparados.
Nosso querido Brasil também viu diante de si uma seca extrema, rios gigantescos e com um volume de água estrondoso, agora são meros corredores, onde antes passavam possantes embarcações, hoje somente barcos ou canoas minúsculas conseguem navegar e isso quando conseguem, uma população ribeirinha desprotegida, atônita com o que está acontecendo. Três paradoxos num curto espaço de tempo, três situações gravíssimas que põem em risco toda a existência, não só em termos nacionais, mas também internacionais, haja vista que aqui se concentra a maior parte das florestas e água doce. Em meio a essas tempestades climáticas aconteceu a COP30, que no final das contas trocou seis por meia dúzia, ou seja, falou-se demais e comprometimento com a causa quase zero; infelizmente nosso planeta não é um banco, caso ele fosse todos já o teriam salvo das várias catástrofes.
Bioeticamente, o ano de 2024 foi intenso e também conturbado, houveram ainda inúmeros acontecimentos em todos os campos da existência humana que não foram aqui relatados, porém tudo está ligado a tudo e como sempre podemos sentir no ar uma profunda falta de vontade de se arrumar a casa, de sermos melhores conosco mesmo, com os outros e com o mundo, muito dessa inação deve-se ao fato de que não cremos muito mais na melhoria do ser humano em termos morais, psicológicos e espirituais, não por acaso muitos dão uma valor absurdo a outras formas de vida e agora principalmente à “inteligência artificial”, um elemento que promete muito, mas que ainda é pouco compreendido; percebemos que a nossa esperança regrediu em muito nos últimos tempos, mas nem tudo está perdido, que 2025 não repita o passado, nem o futuro, que o presente seja nosso guia.
Rosel Antonio Beraldo, mora em Verê-PR, Mestre em Bioética, Especialista em Filosofia, ambos pela PUC-PR; Anor Sganzerla, de Curitiba-PR, Doutor e Mestre em Filosofia, professor titular do programa de Bioética pela PUC-PR. Emails: ber2007@hotmail.com e anor.sganzerla@gmail.com
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